domingo, 1 de maio de 2011

ELEGIA A NEN*


(1937 - 2008)



A mulher dos cabelos prateados partiu,
partindo emoções.
A saudade invade a cidade;
a rua, de pedras seculares,
solo do último adeus.
Do alto da ladeira,
o Cruzeiro vela a procissão;
da água doce do rio,
emerge o sal da dor.
Ele chora, muda de odor.
O rosário perde as contas,
não sobra sequer um terço.
Da beirada até as pontas,
tudo vira ao avesso.
O tempo silencia;
as nuvens, num vai e vem.
O vento sopra, baixinho:
— Os anjos disseram “amém”...


Nathalie


Planaltina-DF, 23-24 de junho de 2008


* Se viva, 1° de maio seria o aniversário de Maria das Dores Câmara, ou Nen, ou, ainda, dona Nenzinha. O poema foi um texto que fiz para um santinho, quando, à época em que ela, minha tia, faleceu, eu estava ausente de Natal, para ser distribuído em uma missa, apesar de eu ser atéia convicta e ela católica invicta, mas, sempre respeitando o meu ateismo. Eu, particularmente, sempre também respeitei os seus deuses. E eu a amava, bem piegas, do fundo do meu coração, confidente que ela era - uma amiga...).


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