terça-feira, 1 de maio de 2012

NO CABO DA ENXADA*


“É a ficção que deve fazer sentido, não a realidade...”.

Aldous Huxley (1894 - 1963)
Escritor inglês


Há dias recebi uma petição – mais uma – pela internet. Desta vez sobre a erradicação do trabalho escravo no Brasil. O Remetente? A rede Avaaz, organização não governamental que, desde 2007, mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo para agirem em causas internacionais urgentes – da pobreza global aos conflitos no Oriente Médio e as mudanças climáticas. O destinatário, já que fui, entre milhares de pessoas, apenas mais um canal para a transmissão da mensagem? La presidenta Dilma Rousseff e o Congresso Nacional. Enfim! O fato é que a referida petição anda a navegar na internet não somente alertando o povo brasileiro para a votação em breve de uma reforma constitucional que poderá ou não punir donos de terras que mantêm centenas de milhares de trabalhadores escravos, muitos dos quais torturados, em suas propriedades, sendo essas mesmas terras, ainda, confiscadas pelo governo federal. E isso em pleno séc. XXI! Em março, por exemplo, adultos e crianças foram resgatados de uma fazenda cujo proprietário era um deputado estadual de uma dada localidade “perdida” do país. Segundo a Avaaz, os escravos libertos “moravam em pequenas barracas e bebiam da mesma água suja que as vacas e outros animais”.

A hora, portanto, é de agir! Afinal, quem ainda acredita nos livros didáticos, cujos autores juram de pés juntos que a abolição da escravatura no país deu-se há quase 124 anos, mais precisamente no dia 13 de maio de 1888, por ordem e graça da princesa Isabel (1846 - 1921), que – apesar das origens europeias, era, como se diz, carioca da gema, pois nasceu no Rio de Janeiro – sancionou a Lei Imperial nº 3.353, popularmente conhecida como Lei Áurea, precisa urgentemente rever as suas aulas de História, sobretudo a do Brasil. Isso sem falar que a coisa não para por aí não! Afinal, da mesma forma que muitos querem acabar com essa realidade dramática, há quem insista em mantê-la, como é o caso dos próprios proprietários de terra, que, além de se beneficiarem com o trabalho escravo, ainda acham pouco e bancam, as suas expensas, um lobby ruralista que age sob sua tutela no Congresso Nacional. No caso, agora, para evitar que a PEC 438/2001 do trabalho escravo não seja submetida à votação nem, muito menos, aprovada e sancionada. Na opinião da Avaaz, segundo documento encaminhado junto com a petição, “vamos assinar a petição e aumentar o coro retumbante para derrotar o vergonhoso mercado da escravidão do Brasil de uma vez por todas”.

Afinal, é inconcebível aceitar que centenas de milhares de famílias brasileiras, humildes por excelência, sejam tratadas como se fossem burros de carga, inocentemente aceitando propostas de trabalho aparentemente honesto para, depois, quando menos esperam, se darem conta de que foram engabeladas por completo, inclusive “arriscando as suas vidas em plantações de cana-de-açúcar, carvoarias, criação de gado, prostituição e outras atividades”, diz o documento da Avaaz. Só que o detalhe ainda mais grave é que “muitas vezes, eles [os escravizados] são literalmente forçados a trabalhar com uma arma apontada para as suas cabeças”. Na petição, portanto, é exigido à la presidenta Dilma Rousseff e aos congressistas que eles provem que, de fato, “são uma verdadeira liderança e ajudem o Brasil a se erguer enquanto um país livre de escravos de uma vez por todas”. Vamos, então, protestar! E assinar a petição, que deverá ser entre pessoalmente por representantes da Avaaz ao parlamentar Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara dos Deputados. Que sejamos, portanto, a chave que falta para libertar das correntes seres humanos iguais a nós, mas cuja sina foi tragada cruelmente por seres que, de tão vis, devem ser punidos.

Assim, para assinar a petição, é só clicar no link abaixo que uma janela, quiçá a da liberdade, se abrirá para que mais um agente solidário contribua para a libertação de inocentes cujos direitos, inclusive os mais fundamentais, são usurpados por uma raça cujo sangue é tão ruim que nem mesmo os vermes ousam aproximar-se...


À procura de Wally...

“Podemos usar essa tremenda crise para mudar...”.

Lya Luft
Escritora brasileira


Diante, portanto, da realidade desnuda de centenas de milhares de brasileiros que se encontram na condição de escravos em terras de quem pensa que ainda vive no período colonial ou na monarquia tupiniquim, o meu único desassossego é o do que, a exemplo do ocorrido com o novo Código Florestal Brasileiro, cuja aprovação foi completamente ignorada por la presidenta Dilma Rousseff, ela não mexa sequer uma palha para, enfim, fazer justiça neste país, que, no caso, seria o de libertar seres humanos que, ao invés de estarem livres, atuando como cidadãos, estão a cultivar, em regime de escravidão, uma imensidão de terras que pertencem a latifundiários desalmados que, travestidos de coronéis, embora já se tenham passado sabe-se lá quantos carnavais, devem pagar por seus crimes, que, aliás, devem ser maiores do que o alto nível de poluição da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Não obstante, se realmente queremos mudar esse cenário degradante, assinemos a petição, cujo link, inclusive, se encontra, mais uma vez, à disposição do leitor solidário:


 
Quanto ao dito novo Código Florestal Brasileiro, quem de fato acredita que la presidenta Dilma Rousseff irá analisá-lo, apesar da sua aprovação, com “sangue frio e tranquilidade”, já que, constitucionalmente, à ela é dado o direito do veto?


Enquanto isso...



*O Dia Mundial do Trabalho foi instituído em 1889 durante um Congresso Socialista realizado em Paris. A data foi escolhida em homenagem a uma greve geral ocorrida no dia 1º de maio de 1886, em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época. À ocasião, milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. O dia, portanto, marcado de manifestações, passeatas, piquetes e discursos que movimentaram a cidade, foi igualmente um registro de repressões sem precedentes, já que duras foram as retaliações ao movimento, com um saldo incalculável de prisões, feridos e mortos nos confrontos entre os operários e a polícia. Assim, em memória dos mártires de Chicago, das reivindicações operárias eclodidas em 1886 e por tudo o que esse episódio significou na luta dos trabalhadores norte-americanos pelos seus direitos, a data foi criada não somente para homenageá-los, mas, também, para homenagear todos aqueles que, no mundo inteiro, têm o seu batente para pegar.

Fonte: IBGE/Ministério do Trabalho

Nathalie Bernardo da Câmara


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