Por Marina Silva
Ambientalista brasileira, ex-senadora e ex-ministra do Meio
Ambiente, em artigo publicado na Folha
de S. Paulo, em 31 de janeiro de 2014.
O
Brasil fica longe de Davos. Mais que nos mapas, a distância pode ser medida no
discurso da presidente Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial que aconteceu
na semana passada na bela e fria estação suíça. Todos concordamos com suas
palavras: a educação tem importância estratégica para reduzir a desigualdade
social e, ao mesmo tempo, alicerçar uma economia do conhecimento com tecnologia
e inovação. Por isso, a educação está entre as prioridades, junto com a
infraestrutura, o planejamento urbano, a estabilidade econômica e outras
grandes questões definidoras do desenvolvimento do Brasil.
Cinco dias
depois, a Unesco divulgou relatório que coloca o Brasil – entre 150 países
pesquisados – em 8º lugar no número de analfabetos adultos. Eram 13,2 milhões
de analfabetos com 15 anos ou mais em 2012, segundo o IBGE. É quase impossível
reduzir a taxa de analfabetismo entre adultos, de 8,7% naquele ano, para os
6,7% fixados nas metas da ONU para o ano que vem.
Ontem, lemos nos
jornais: os investimentos do Ministério da Educação caíram 13% de janeiro a
novembro de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior. O noticiário nos
avisa também que a equipe econômica estuda reduzir ainda mais o orçamento da
pasta para que o governo recupere a credibilidade perdida desde que foram
revelados seus artifícios contábeis para fechar as contas no fim do ano.
Os especialistas
indicam o contrário, a necessidade urgente de o Brasil aumentar os
investimentos que hoje são de R$ 5 mil para cada aluno da educação básica. Em
países ricos, esse valor é três vezes maior. Que não chegássemos a tanto, mas
diminuir as verbas da educação é ir em direção oposta.
Para completar,
no mesmo dia do discurso em Davos, o governo anunciou o cancelamento da
Conferência Nacional de Educação (Conae), que aconteceria em fevereiro, a tempo
de pressionar o Congresso na tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE),
que voltou para a Câmara dos Deputados depois de modificado, para pior, pelo
Senado. Sob protesto dos movimentos de defesa da educação, a Conae ficou para
novembro, depois da Copa e das eleições, e o PNE, que deveria ter sido aprovado
há três anos, vai atrasar mais um.
É impossível
tornar consequente o discurso da presidente enquanto perdurar uma ideia
fisiológica e patrimonialista de governabilidade, segundo a qual um ministério
pode ser fatiado e distribuído entre partidos aliados. Uma reforma ministerial,
mesmo diante de prioridades inegavelmente estratégicas e eloquentemente
discursadas, longe de significar novo planejamento de metas de longo prazo,
reduz-se a uma redistribuição de cargos com o curto prazo eleitoral. Desse
modo, a distância entre o Brasil e Davos só aumenta.
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