Época – 26/10/2014
RUTH
DE AQUINO
Nós e eles estamos irremediavelmente ligados por um
amor comum. O destino do país. E o país são as pessoas. Não conheci um eleitor
que deseje que o Brasil afunde nos próximos anos, que a economia naufrague e
que a roubalheira do sanatório geral continue.
Não conheci um eleitor, jovem ou idoso, de classe
abc-yz, que torça para o país sofrer – na educação, na saúde, na segurança, no
transporte, na infraestrutura, no emprego, na inflação, na produtividade, no
meio ambiente e na ética – goleadas humilhantes.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio, com sonhos
parecidos. Que o Brasil vença a ignorância e o subdesenvolvimento. Que a
inclusão social não signifique nivelamento por baixo. Que o conhecimento seja
valorizado e se erradique o analfabetismo. Que o combate à desigualdade se
qualifique por oportunidade real de ascensão, e todos tenham direito a
saneamento e a moradia digna.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que não
se adie mais a construção maciça de creches em todo o território nacional. Para
que se cumpram as promessas de educação em tempo integral, e as escolas não
parem por falta de professores. Para que se fiscalize a qualidade dos cursos
técnicos e os mestres ganhem dignamente.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para dar um
basta às maracutaias de poderosos. Para que uma reforma política inclua
prestação de contas, transparência e fim da corrupção que enlameou do planalto
às planícies e contaminou uma estatal como a Petrobras. Votamos para moralizar
a farra das castas sindicais, sanear as contas do governo federal e saber se
nossos impostos beneficiarão a população ou continuarão a encher os bolsos dos
corruptos.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que se
pare de superfaturar com propinas as grandes obras de infraestrutura e para que
os governos parem de nos fazer de bobos, de desviar verba pública até de
ambulância, de desabrigados e de merendas escolares. Também votamos para que as
obras não sejam paradas no meio, não se alonguem pelo dobro do prazo previsto e
não se transformem em monumentos à incompetência e à má-fé administrativas.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para que o
Brasil tome vergonha na cara e reduza drasticamente o recorde atual de 56.337
homicídios por ano – desses, 30.072 são jovens entre 15 e 29 anos! Números de
guerra que revelam o fracasso da política nacional de segurança. Em 100 países,
o Brasil está em sétimo lugar no extermínio de sua própria gente. Nosso país
elucida apenas 8% dos homicídios. Votamos para não ser mais assaltados na rua,
na praia, dentro de casa, na saída do banco, no ônibus, no carro, por gente que
não dá valor à vida e atira na cabeça.
Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que a
população confie na Polícia Militar, uma instituição lançada ao descrédito por
elementos que executam, achacam, estupram, roubam fuzis e drogas, se aliam a
traficantes e somem com suas vítimas. Os bandidos fardados são uma chaga de
nossa sociedade. Votamos para que o novo governo inclua em suas ideias novas a
responsabilidade federal pela calamidade na segurança e pelo abandono de nossas
fronteiras.
Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para impedir a
inflação crescente de engolir nossos salários e para o país voltar a crescer a
uma taxa que nos permita enfrentar os desafios sociais. Votamos para não ter de
protestar de novo nas ruas contra a indignidade dos transportes públicos que
espremem o povo em trens, ônibus e metrôs ineficientes e precários. Votamos
para não ver mais doentes no chão de hospitais sem maca, sem equipamento, sem
remédios e gente morrendo na fila da cirurgia. Votamos para deixar de assistir
ao espetáculo escabroso de rios mortos, florestas mortas, lagoas em coma, mares
agonizando com lixo e esgoto.
Nós e eles queremos o bem do povo e o bem do país.
Por isso, nós e eles repudiamos qualquer tentativa oficial de censura ou de
ditadura à esquerda ou à direita. Nós e eles achamos terrível quando um governo
tenta calar ou manietar quem revela os malfeitos. Nós e eles somos a favor da
liberdade de expressão.
Nós e eles desprezamos quem desqualifica a
oposição. Nós e eles desprezamos uma oposição irresponsável. Nós e eles nos
escandalizamos quando um governo cerceia o direito de ir e vir de
oposicionistas. Nós e eles abominamos mentiras – em fatos e números –,
destinadas a manipular nosso pensamento, a incitar irmãos ao ódio e a estimular
a luta de classes que não leva a lugar algum, nem amanhã nem nunca.
Nós e eles preferimos a esperança, porque o Brasil
é nossa terra, nossa vida.
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