terça-feira, 28 de outubro de 2014

MEU BRASIL MINHA VIDA, por Ruth de Aquino

Época – 26/10/2014

RUTH DE AQUINO

Nós e eles estamos irremediavelmente ligados por um amor comum. O destino do país. E o país são as pessoas. Não conheci um eleitor que deseje que o Brasil afunde nos próximos anos, que a economia naufrague e que a roubalheira do sanatório geral continue.

Não conheci um eleitor, jovem ou idoso, de classe abc-yz, que torça para o país sofrer – na educação, na saúde, na segurança, no transporte, na infraestrutura, no emprego, na inflação, na produtividade, no meio ambiente e na ética – goleadas humilhantes.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio, com sonhos parecidos. Que o Brasil vença a ignorância e o subdesenvolvimento. Que a inclusão social não signifique nivelamento por baixo. Que o conhecimento seja valorizado e se erradique o analfabetismo. Que o combate à desigualdade se qualifique por oportunidade real de ascensão, e todos tenham direito a saneamento e a moradia digna.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que não se adie mais a construção maciça de creches em todo o território nacional. Para que se cumpram as promessas de educação em tempo integral, e as escolas não parem por falta de professores. Para que se fiscalize a qualidade dos cursos técnicos e os mestres ganhem dignamente.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para dar um basta às maracutaias de poderosos. Para que uma reforma política inclua prestação de contas, transparência e fim da corrupção que enlameou do planalto às planícies e contaminou uma estatal como a Petrobras. Votamos para moralizar a farra das castas sindicais, sanear as contas do governo federal e saber se nossos impostos beneficiarão a população ou continuarão a encher os bolsos dos corruptos.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que se pare de superfaturar com propinas as grandes obras de infraestrutura e para que os governos parem de nos fazer de bobos, de desviar verba pública até de ambulância, de desabrigados e de merendas escolares. Também votamos para que as obras não sejam paradas no meio, não se alonguem pelo dobro do prazo previsto e não se transformem em monumentos à incompetência e à má-fé administrativas.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para que o Brasil tome vergonha na cara e reduza drasticamente o recorde atual de 56.337 homicídios por ano – desses, 30.072 são jovens entre 15 e 29 anos! Números de guerra que revelam o fracasso da política nacional de segurança. Em 100 países, o Brasil está em sétimo lugar no extermínio de sua própria gente. Nosso país elucida apenas 8% dos homicídios. Votamos para não ser mais assaltados na rua, na praia, dentro de casa, na saída do banco, no ônibus, no carro, por gente que não dá valor à vida e atira na cabeça.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que a população confie na Polícia Militar, uma instituição lançada ao descrédito por elementos que executam, achacam, estupram, roubam fuzis e drogas, se aliam a traficantes e somem com suas vítimas. Os bandidos fardados são uma chaga de nossa sociedade. Votamos para que o novo governo inclua em suas ideias novas a responsabilidade federal pela calamidade na segurança e pelo abandono de nossas fronteiras.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para impedir a inflação crescente de engolir nossos salários e para o país voltar a crescer a uma taxa que nos permita enfrentar os desafios sociais. Votamos para não ter de protestar de novo nas ruas contra a indignidade dos transportes públicos que espremem o povo em trens, ônibus e metrôs ineficientes e precários. Votamos para não ver mais doentes no chão de hospitais sem maca, sem equipamento, sem remédios e gente morrendo na fila da cirurgia. Votamos para deixar de assistir ao espetáculo escabroso de rios mortos, florestas mortas, lagoas em coma, mares agonizando com lixo e esgoto.

Nós e eles queremos o bem do povo e o bem do país. Por isso, nós e eles repudiamos qualquer tentativa oficial de censura ou de ditadura à esquerda ou à direita. Nós e eles achamos terrível quando um governo tenta calar ou manietar quem revela os malfeitos. Nós e eles somos a favor da liberdade de expressão.

Nós e eles desprezamos quem desqualifica a oposição. Nós e eles desprezamos uma oposição irresponsável. Nós e eles nos escandalizamos quando um governo cerceia o direito de ir e vir de oposicionistas. Nós e eles abominamos mentiras – em fatos e números –, destinadas a manipular nosso pensamento, a incitar irmãos ao ódio e a estimular a luta de classes que não leva a lugar algum, nem amanhã nem nunca.

Nós e eles preferimos a esperança, porque o Brasil é nossa terra, nossa vida.



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