Foto: Valéria Gonçalves/AE
“Certamente, é
permitido chorar: chorando, acalmamos a cólera...”.
Ovídio (43
a. C. – v. d. C. 17)
Poeta latino
Depoimento do jornalista Altino Machado em seu blog (16/08/2014)
– Após a morte trágica de Eduardo Campos, fui procurado por um repórter do Wall Street Journal em busca de histórias sobre Marina
Silva para compor uma matéria a ser publicada após o PSB confirmar oficialmente
a candidatura dela à presidência da República. (...) Justifiquei tudo o que
havia dito ao repórter:
— Todos nós podemos divergir e divergimos de
Marina sobre ideias ou decisões dela. O que ninguém consegue é questionar a sua
honestidade e idoneidade moral e ética.
Silvio Margarido [documentarista], amigo de Marina, costuma dizer: — Em quem não existem essas virtudes, a inveja se transforma em ódio.
Silvio Margarido [documentarista], amigo de Marina, costuma dizer: — Em quem não existem essas virtudes, a inveja se transforma em ódio.
Inesperadamente, no dia
11 de setembro do corrente, num carro que a levava para um hotel depois de mais
de treze horas de campanha eleitoral no Rio de Janeiro, a candidata Marina
Silva (PSB) mantinha uma conversa informal com uma jornalista que a acompanhava
e, de repente, emocionou-se; num repente, não se conteve e chorou, alegando
sentir-se injustiçada pelos constantes ataques que vem sofrendo por lideranças
do Partido dos Trabalhadores (PT), seu antigo aliado político. Porém, tão logo
chegou ao hotel, tratou de se recompor
e disse a sua interlocutora que não guardava mágoa e que iria continuar
lutando. Não demorou muito, a suposta privacidade desse momento íntimo da
ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente tornou-se público e, feito rastilho
de pólvora, motivo de chacota e maledicência por parte dos seus adversários
políticos, inclusive de Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição: — Se a
pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem
dela, não dá para ser presidente da República.
Foto: AFP
Quando da sua posse, no dia 1º de janeiro de 2011, ao receber a faixa
presidencial do seu antecessor, Dilma caiu no maior chororô – ou teria sido um
cisco? –, o primeiro, aliás, de muitos outros ao longo do seu mandato. Falando
nisso, muitas das lágrimas já derramadas pela candidata à reeleição,
registradas pelos mais diversos fotógrafos, estão na internet, disponibilizadas
para todos os que quiserem atestar a sua dissimulação e leviandade ao comentar
sobre o choro de Marina Silva, com a declaração da petista não passando de uma
falácia, visto que, na realidade, parece que a máxima aplicada à ambientalista
não a contempla, nem, muito menos, os seus pares, que podem, sim, chorar, não
importa o motivo – inclusive lágrimas de crocodilo –, ou, então, sorrir, sem
medo de ser feliz, a despeito e, muitas vezes, à custa das privações pelas
quais passa o povo brasileiro. Não obstante, convenhamos – nada me demove disso
–, aparências podem enganar, tipo promessas.
Exemplo disso é que – oportuno parêntese –, quando do primeiro dos ciscos que lhe fizeram chorar, Dilma
garantiu, entre outras falsas promessas, que iria erradicar a miséria no Brasil
– uma das muitas propagandas enganosas apresentadas no seu discurso de posse,
considerando que o que se tem visto é a perpetuação assistencialista demagógica
que caracteriza o Bolsa Família, programa que, ao invés de ser transitório, transformou-se,
no frigir dos ovos, num cabide eleitoral permanente do PT. Daí a lúcida opinião
da escritora e historiadora brasileira Anita Leocádia Prestes em relação ao
referido programa quando entrevistada pela jornalista Juliana Bublitz –
entrevista essa publicada pelo jornal Zero
Hora (05/01/2014): — Engana muito. Uma coisa é ter uma política de
distribuição de renda por um período curto e, ao mesmo tempo, investir para que
as pessoas possam ter emprego e trabalho para ganhar o seu dinheiro. A
eternização do Bolsa Família deforma as pessoas. Na medida em que o nível
cultural é muito baixo, a população se contenta em matar a fome e vota no Lula
e na Dilma. É um papel deseducativo e tira as pessoas da luta. PT, Lula e Dilma
contribuem negativamente para a conscientização e a organização populares.
De fato, ao constatar e concordar com a pertinência da análise feita
pela escritora e historiadora, só nos resta chorar – por isso considerar uma
covardia Dilma e congêneres tripudiarem das emoções afloradas de Marina, que,
ímpar na sua transparência, não resistiu e, com pesar, sem falsear os seus
sentimentos, abriu o coração, revelando, de maneira espontânea e sincera, as decepções com aliados, companheiros e amigos de outrora, de uma vida que, inclusive,
de há muito se esvaiu no nevoeiro das desilusões. Enfim! Ledo engano de quem,
lendo esta postagem, achar que irei votar em Marina. Na verdade, cheguei a
pensar nisso, igual fiz nas eleições de 2010, quando votei na porção
ambientalista da candidata, mas, infelizmente, após a escolha do seu vice, que
mantém laços estreitos com o agronegócio, desisti de votar, embora contrariada –
a minha posição em relação ao pleito iminente, Eleições 2014: beco sem saída..., foi publicada neste blog em 22/08/2014.
Não comparecendo as urnas – sem margem de erros –, irei abster-me, limitando-me
a justificar a minha ausência do meu domicílio eleitoral, reafirmando, com o
meu gesto, que, apesar de admirar Marina e a sua biografia, quero o meu ambiente por inteiro, não pela
metade... Porém, o ato de chorar, retomando ao tema central desta postagem,
pode muito bem expurgar um ou mais nódulos corrosivos de nossas entranhas,
legando-nos alento; às vezes, quiçá, esquecimento; noutras uma metáfora... Foi
assim com Marina, visto que, no dia 23, num evento em Recife, versando sobre o
ocorrido, que foi o de ter chorado no banco de um carro – divã que amparou as
suas lágrimas –, e, por isso, consequentemente, jocosamente criticada, ela
tirou de letra as nada boas intenções alheias e contou um segredinho da
floresta: — O pessoal diz “a Marina é magrinha”, “é fraquinha”. Sou magrinha,
mas venho da Amazônia. Tem uma árvore lá chamada biorana. Tem a Biorana branca
e a preta. A biorana preta não fica tão grossa. Mas experimenta bater com um
machado: sai faísca, mas ela não verga...
Biorana, biojoia...
Foto: Bob Wolfenson/Vogue
Brasil
Terra
- Você gosta mesmo de
fazer essas joias?
Marina
Silva - Isso para mim é uma terapia. Estou deixando você
me fotografar nessa terapia porque muita gente nem acredita que faço isso. Essa
tarefa me permite fazer profundas reflexões. O pensamento voa...
Trecho
da entrevista concedida por Marina Silva ao jornalista Altino Machado,
publicada no portal Terra (11/10/2010),
durante a qual a ambientalista ajustava colares usados durante a sua campanha
eleitoral para presidente do Brasil – foi a terceira no pódio, obtendo cerca de
20 milhões de votos.
Um
sabor bem brasileiro, nascido no seio da floresta, “amálgama dos seus odores,
frutos e flores, sons, cores e tons”, como eu disse numa antiga postagem,
sendo, ainda, embalada pelo aroma do seringal, que lhe fincou fecundas raízes –
e haja estirpe! –, ramificadas, aliás, mundo afora, na defesa das suas causas
ambientais, além de trançadas tais quais os colares que costuma portar em suas
aparições públicas, destaque da Vogue
italiana em sua edição de outubro de 2010, que, primorosa, não poupou elogios
aos seus acessórios “étnicos” – ela chama-os de “biojóias” –, criados e
confeccionados por ela mesma, “dos cortes aos polimentos” (edição de julho de
2011 da versão brasileira da revista), a partir de uma diversificada
matéria-prima oriunda da própria Amazônia: sementes de açaí, mulungu, licuri,
jarina, haste de palmeira pupunha... Essa é, portanto, a ambientalista, artesã
e política Marina Silva, credenciando-se, pela segunda vez, à presidência do
Brasil. Desse modo, a título de ilustração, segue, abaixo, um link para a
recente entrevista que ela concedeu ao telejornal Bom Dia
Brasil, da Rede Globo, exibida
no dia 25 de setembro do corrente, ao final da qual, na maior naturalidade,
explicou o motivo do seu choro, embora ela – nem ninguém – não tivesse de
justificar nada, apesar de tê-lo feito apenas porque um dos jornalistas tocou
no assunto. Enfim! Chorar não é necessariamente sinônimo de fragilidade –
afinal, o choro faz parte da condição humana.
NBC
“Não
se pode confundir sensibilidade com fraqueza”, diz Marina Silva.
“Já vi
tantos líderes chorando e não é por isso que são mais fracos ou menos fracos”
Link para a entrevista com Marina
Silva e, abaixo, na íntegra, a sua transcrição: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/09/bom-dia-brasil-entrevista-marina-silva.html
Chico Pinheiro: Olá, candidata.
Marina Silva: Olá, Chico.
Chico Pinheiro: Nós agradecemos a sua presença aqui no Bom Dia Brasil. Seja muito
bem-vinda.
Ana Paula Araújo: Bem-vinda aqui e obrigada pela presença.
Miriam Leitão: Olá.
Marina Silva: Obrigada por estar com vocês.
Chico Pinheiro: Essa entrevista começa a contar a partir de agora o tempo da
entrevista. E quem vai começá-la é a nossa colega Miriam Leitão, com a primeira
pergunta. Miriam.
Miriam Leitão: Candidata Marina, a senhora falou em atualizar a legislação
trabalhista e disse que não vai mudar a CLT, mas só... apenas a referência a
essa mudança na legislação trabalhista já assusta os trabalhadores,
naturalmente. E o que a senhora vai mudar e como vai mudar?
Marina Silva: Quando se fala em atualização, é exatamente para manter os
direitos já conquistados e ampliar aqueles que os trabalhadores ainda precisam
conquistar. Por exemplo, hoje, nós temos cerca de 20 milhões de brasileiros que
estão na informalidade. E nós estamos assumindo o compromisso de fazer um
esforço para que se tenha meios para que essas pessoas possam vir para o
mercado formal de trabalho.
Miriam Leitão: Não é simples, né, candidata? Como é que faz essa formalização?
Porque esse é um velho problema do Brasil.
Marina Silva: Exato, não é simples, mas nós não podemos partir do princípio de
que essas pessoas devam ficar condenadas para o resto da vida a ficar na
informalidade, inclusive, com seus direitos precarizados em relação à
Previdência.
Miriam Leitão: Claro, mas eu quero saber como fazer isso.
Marina Silva: Como fazer? Por exemplo, no governo do Fernando Henrique, ele fez
o processo de terceirização para as atividades-meio. O governo do PT manteve.
Existe uma lei que faz essa regulamentação, mas nem todos os trabalhadores têm
os seus direitos assegurados. E nem todas as empresas se sentem seguras com a
forma como esse processo foi estabelecido, que, em muitos aspectos, tem a ver
com uma súmula do Supremo. Então, fazer essa atualização para que aqueles que
vivem na informalidade possam entrar no mercado formal de trabalho e, ao mesmo
tempo, aqueles que estão na atividade-meio, que já estão no processo de
terceirização, não a atividade-fim, que fique bem claro que é o que já existe,
que essas pessoas possam ter seus direitos respeitados e que empregados e
empregadores possam ter segurança jurídica. Esse é o esforço que nós estamos
nos comprometendo para melhorar as condições dos trabalhadores e para que
também a gente possa criar um espaço de segurança. E isso dialoga também com
aposentadoria, com Previdência...
Miriam Leitão: Mas a CLT não tem coisas velhas que precisam ser atualizadas além
dessa questão da terceirização, tem outros pontos?
Marina Silva: Nós achamos que há um processo complexo em relação à CLT e que, se
você vai mexer em tudo isso, cria um problema de insegurança para os
trabalhadores, que a duras penas conquistaram esses direitos. É preciso...
Miriam Leitão: Então a senhora prefere não mexer na CLT? É isso?
Marina Silva: Nós não vamos mexer na CLT. Nós queremos fazer uma atualização
para que direitos possam ser ampliados e para que aqueles aspectos que ainda
não estão sendo cumpridos adequadamente possam ser cumpridos.
Ana Paula Araújo: Candidata, ainda cobrando uma definição melhor das suas propostas,
é um consenso entre todos que o Brasil tem uma carga tributária muito alta.
Isso torna a nossa indústria pouco competitiva com relação a outros países. A
senhora tem dito que quer promover um desmame da indústria revendo desonerações
de impostos, mas entre essas reduções de impostos tem o IPI para os carros, tem
também a desoneração da folha de pagamento. Afinal, que medidas exatamente a
senhora quer rever?
Marina Silva: Nós sabemos que há a necessidade de incentivos para que a
indústria e o emprego possam ser protegidos. Isso aconteceu a partir de 2008,
naquele momento de fragilidade. O problema é que a continuação do remédio,
mesmo quando o paciente já deveria ir se preparando para ter autonomia, cria
uma situação de dependência. A atitude do governo em não exigir nenhuma
contrapartida, principalmente da indústria automobilística, faz com que no
Brasil esses benefícios aconteçam sem que a indústria automobilística se
preocupe em melhorar a qualidade dos seus equipamentos, de diminuir emissão de
CO2, de diminuir a poluição. Nos Estados Unidos, isso foi feito também, só que
foi feito com contrapartida. O que nós falamos foi que nós queríamos qualificar
melhor esses incentivos. Qualificar no sentido de que possam ter contrapartida
e de que possa se ter um diálogo, envolvendo também a indústria
automobilística. As saídas para o transporte público de qualidade, por exemplo,
não pode ser uma ação só do governo federal com a sociedade. As empresas
poderiam também participar desse processo e contribuir com novas formas de
atender adequadamente a população com transporte coletivo.
Chico Pinheiro: Mas não só...
Ana Paula Araújo: A senhora falou aí do IPI dos carros. Mas tem, por exemplo, também
a desoneração da folha de pagamento, que é uma medida que cria empregos.
Marina Silva: É. Essa questão ela é complicada, porque, na verdade, você não
pode criar uma situação de vulnerabilidade. Por isso que nós utilizamos os
termos, o termo qualificar. Qualificar exatamente para poder exigir
contrapartidas, qualificar para que as empresas possam ter... Claro que não
podem ficar infinitamente dependendo dos incentivos do governo. E, no caso da
folha de pagamento, é fundamental, porque a indústria e os setores que são os
empregadores não podem, de uma hora para outra, perder esses incentivos.
Chico Pinheiro: Agora, nós estamos em um quadro de desindustrialização, né, com
perda, com redução de empregos. E, nesse momento, a senhora não acha delicado
mexer nessa questão dos incentivos, ainda que isso seja desejável? Porque pode
se entrar em um dilema aí: se tira os incentivos, corre o risco de piorar a
situação da indústria e, portanto, os empregos; se mantém, permanece essa
dependência das empresas do estado. Como a senhora...
Marina Silva: Por isso que eu insisto, Chico. Nós não falamos em retirar, nós
falamos em qualificar. E, quando falamos em qualificar...
Chico Pinheiro: Qual é o critério para qualificação?
Marina Silva: Nós queremos também dialogar com aqueles incentivos que foram
dados através, por exemplo, do BNDES, em que o governo escolheu algumas
empresas para serem consideradas as campeãs, com juros subsidiados, com volumes
de recursos altíssimos, cerca de R$ 500 bilhões, que equivale a 20 anos de
Bolsa Família. Não se pode utilizar o dinheiro do contribuinte para escolher
quem serão os ungidos que irão ter acesso a esses recursos.
Chico Pinheiro: Mas a senhora vai reduzir a carga tributária?
Marina Silva: Nesse caso do mau uso dos recursos públicos do BNDES, nós vamos
fazer isso com transparência, que a sociedade possa ver. No que concerne à
questão tributária, nós estamos nos comprometendo, em no primeiro mês do nosso
governo, mandar uma proposta de reforma tributária para o Congresso.
Estabelecemos princípios que são: o princípio da justiça tributária, porque, no
Brasil, quem pode mais... quem pode menos paga mais e quem pode mais paga
menos; o princípio da transparência, porque muita gente paga imposto na hora
que vai ao supermercado e nem sabe que está pagando imposto; e o princípio da
simplificação, porque hoje uma boa parte do tempo e dos recursos de uma empresa
é gasto exatamente só para poder pagar os impostos. Eu tive um dia desses em um
debate com jovens empreendedores e eles diziam o seguinte, que das novas
empresas que fazem parte do Supersimples, quando elas alcançam R$ 3,6 milhões,
elas ficam diante de um dilema, porque se elas forem submetidas a toda a carga
tributária, a todas as exigências, 70% dessas empresas fecham...
Miriam Leitão: Candidata...
Marina Silva: Então fica um dilema. Então é fundamental que a reforma tributária
dê conta desse desafio.
Miriam Leitão: Candidata, sabe o que os empresários temem em relação à senhora? É
que, diante de um conflito entre o agronegócio, por exemplo, e os
ambientalistas, ou os ambientalistas e a necessidade de fazer infraestrutura no
país, obras de infraestrutura, a senhora sempre ouvirá mais os argumentos,
tenderá ser mais sensível aos argumentos dos ambientalistas. Mas só que o
Brasil, o agronegócio é a salvação da nossa lavoura, que garante a balança
comercial, e o Brasil precisa de estradas e precisa de energia. Como é que a
senhora responde a esses temores com relação a toda sua vida profissional?
Marina Silva: Que as duas coisas não são incompatíveis, Miriam. Eu tenho
insistido que é fundamental juntar economia e ecologia. É uma parte muito
pequena do agronegócio que tem essa visão, que é mais uma visão política e
ideológica, de que para o agronegócio ser próspero é preciso negligenciar meio
ambiente. É possível aumentar a produção por ganho de produtividade. O
Brasil...
Miriam Leitão: Mas sempre haverá conflitos.
Marina Silva: Mas o conflito...
Miriam Leitão: Sempre haverá pontos de divergência.
Marina Silva: O conflito é para ser manejado. Não sei se vocês viram uma matéria
que saiu recentemente dizendo que as chuvas do Sul, do Sudeste e de parte do
Centro-Oeste elas se dão em função da Amazônia. A destruição da Amazônia
significa a ameaça de transformar em deserto as regiões mais prósperas do
agronegócio. Então é interesse do próprio agronegócio moderno, das pessoas que
querem aumentar a produção por ganho de produtividade, que a gente não fique
neste dilema. Não há esse dilema para produzir e proteger. As duas coisas são
inteiramente possíveis.
Ana Paula Araújo: Mas candidata...
Marina Silva: Hoje nós podemos aumentar a produção por ganho de produtividade.
De 1973 para cá o Brasil teve um aumento de produtividade de mais de 200%, com
a expansão de área de apenas 31%. Isso significa que nós já somos campeões em
aumentar a produção por ganho de produtividade. Isso significa a utilização de
menos áreas, utilização de menos recursos.
Miriam Leitão: Graças à revolução agrícola, da Embrapa.
Marina Silva: Exatamente.
Chico Pinheiro: O trabalho da Embrapa.
Marina Silva: O trabalho da Embrapa e o investimento dos grandes produtores, que
eles próprios passaram a investir em pesquisa. Quem não consegue isso são os
pequenos. E tem um falso dilema. É a cortina de fumaça que é feita toda
eleição. O problema do agronegócio não é a proteção do meio ambiente, não são
os índios e os quilombolas. É a falta de infraestrutura de hidrovias, de
ferrovias, de termos estradas adequadas para o transporte, ...
Ana Paula Araújo: Pois é candidata, mas...
Marina Silva: ... armazenagem e portos.
Ana Paula Araújo: Só complementando...
Marina Silva: É isso que faz com que a gente perda cerca de 30% da nossa
produção agrícola, em função do descaso da infraestrutura.
Ana Paula Araújo: Exatamente isso que eu queria perguntar, candidata. Esse temor de
que a senhora vá ser mais sensível a argumentos de ambientalistas do que de
empresários, inclusive nos casos das obras de infraestrutura, vem muito em
função de quando a senhora foi ministra do Meio Ambiente e era muito criticada
por travar as licenças ambientais. A gente tem aqui um dado de que quando a
senhora, depois que a senhora saiu do ministério, as licenças pularam de 300
por ano para 800 no ano passado.
Marina Silva: Eu não tenho exatamente esses dados. O que eu posso te dizer é que
as licenças que foram dadas durante a minha gestão foram as licenças mais
complexas. Você fazer o licenciamento do Rio São Francisco, que desde o tempo
do Império, se tentava fazer a transposição, e fazer isso com liminares em
vários estados, o Ministério Público, e ganhar todas as liminares, é porque foi
um trabalho muito bem feito. Você fazer a licença de Santo Antônio Girau, e
conseguir dar essa licença depois que toda a documentação foi apresentada pelo
demandante em três meses, é preciso ter muita eficiência. Fazer a licença da
BR-163, que envolveu cerca de 13 ministérios para poder dar esta licença, e um
trabalho de aprovar uma lei no Congresso para poder criar uma limitação
administrativa temporária que nos levou a criar oito milhões de hectares de
unidade de conservação no processo da feitura da estrada, ao longo da estrada,
exatamente para diminuir o desmatamento. Nós conseguimos dar a licença. Sabe o
que que aconteceu? Quando a gente protegeu a área, que eles diziam que não ia
ser impactada, perdeu o interesse por fazer a estrada. A estrada não entrou nas
obras do PAC, o consórcio privado desistiu de fazer a estrada e os prefeitos e
os governadores também não falavam mais da estrada. Sabe por quê? Porque não
era mais possível a grilagem. Depois que eu saí negligenciaram o plano BR-163 e
o desmatamento voltou a crescer.
Chico Pinheiro: Candidata, vamos falar dos transgênicos, como é a sua posição em relação
a eles. Porque a senhora diz agora que é uma lenda que a senhora fosse contra
os transgênicos, no entanto, a senhora já defendeu a moratória aos
transgênicos, a proibição por cinco anos, em determinado momento quando a
senhora era senadora, disse que eles só poderiam ser liberados depois de muitos
estudos, de ampla discussão. Essas declarações do passado o que elas são? São
lendas, devem ser esquecidas, como é que é?
Marina Silva: Elas são inteiramente compatíveis com o que eu estou dizendo
agora. A moratória no período em que eu propus era exatamente para se fazer os
estudos. Naquele período a União Europeia estava fazendo os estudos, e eu fiz a
proposta da moratória. Vamos fazer os estudos para termos certeza se faz ou não
faz, traz ou não traz problemas para o meio ambiente e para a saúde humana. Os
europeus continuam estudando até hoje, mas eu, naquele momento, fiz a proposta
de cinco anos. E quando nós fomos para a regulamentação no Ministério do Meio
Ambiente, a proposta que foi encaminhada pelo ministério à Casa Civil e para o
debate no Congresso, nós sugeríamos um modelo de coexistência. O problema é que
no debate ninguém falava da nossa proposta, simplesmente dizia: ‘Eles são
contra’.
Chico Pinheiro: Hoje a sua proposta é essa, da coexistência?
Marina Silva: A minha proposta continua sendo a que seria o melhor modelo.
Infelizmente isso não é mais possível, porque a lei que foi aprovada fez um
processo uniforme.
Chico Pinheiro: Qual é?
Marina Silva: Até o estado do Paraná, o Requião uma época estava se dispondo a
ser uma área livre de transgênicos.
Chico Pinheiro: Agora...
Marina Silva: Mas o Governo Federal, ele optou pelo caminho do México, optou
pelo caminho da Argentina, optou pelo caminho dos Estados Unidos...
Chico Pinheiro: Mas vamos falar da sua...
Marina Silva: ... e homogeneizou uma cultivar que nós poderíamos ganhar duas
vezes, Chico.
Chico Pinheiro: A senhora pensa em mudar a lei?
Marina Silva: Não, porque agora a lei já foi aprovada.
Chico Pinheiro: A senhora considera, a senhora, pessoalmente, considera os
transgênicos um mal?
Marina Silva: Eu considero algo que tem que ser visto com atenção, do mesmo
jeito que os europeus veem com atenção. E que se dê o direito para o consumidor
de fazer a escolha. Por isso que era importante o regime de coexistência.
Porque você pode não ter nenhum problema em escolher o produto transgênico.
Está lá, rotulado, você vai no supermercado e faz a sua escolha. Agora, o
cidadão que não quer ele pode ir também lá na prateleira e tem o mesmo produto
para que ele faça a sua escolha. Isso é o livre mercado que tanta gente
defende. Agora, você impor um único modelo é que não pode ser.
Chico Pinheiro: OK, candidata, a gente vai para um ligeiro intervalo e voltamos
com outras perguntas já, já.
Chico Pinheiro: Voltamos à entrevista com a candidata Marina Silva. O tema agora é
economia. Miriam Leitão.
Miriam Leitão: Candidata Marina, a senhora é acusada pelos adversários de mudar
muito de ideia. Eu quero ficar na economia, que é o meu terreno. Por exemplo,
em questão da meta da inflação, o programa anterior, de Eduardo Campos, falava
em reduzir a meta para 3% a médio prazo. A senhora fala na meta de 4,5%, mas um
aliado seu, Alexandre Rands, chegou a falar em elevar a meta no primeiro
momento, e a senhora o desautorizou. E eu fiquei confusa. Afinal de contas, a
senhora, qual é a sua proposta para combater a inflação brasileira? É respeitar
a meta em quanto tempo e de que forma?
Marina Silva: A meta ela é estabelecida e ela tem que ser cumprida pelo Banco
Central, pelo governo. É nosso objetivo. Quando o Eduardo fez essas afirmações,
nós estávamos no processo de debate com os nossos economistas. E, obviamente,
que era o debate ali acontecendo. A posição de um dos nossos colaboradores
manifestando suas opiniões pessoais não significa em hipótese alguma que essa é
a posição do nosso plano de governo. O nosso compromisso é em manter o
tripé da estabilidade econômica brasileira com a ideia da responsabilidade
fiscal, com a manutenção do câmbio flutuante...
Miriam Leitão: E o centro da meta, qual é?
Chico Pinheiro: 3%, 3,5%, 4%, 4,5%?
Marina Silva: E a nossa proposta é de 4,5%. É isso que nós vamos manter.
Miriam Leitão: E em quanto tempo chegar lá?
Marina Silva: E estamos perseguindo isso. É algo que, é claro, você tem fatores
que vão nos levar a poder alcançar esse objetivo. O Brasil hoje está vivendo
uma situação muito difícil: baixo crescimento, falta de credibilidade...
Chico Pinheiro: Pois é, candidata. Aí é o seguinte: falar é mais fácil do que
fazer. Como, concretamente, a senhora pretende, que medidas tomar logo no
começo para baixar a inflação e para voltar o crescimento? Como é que faz isso?
Marina Silva: Uma medida importante não será tomada por mim, será tomada pela
sociedade brasileira...
Chico Pinheiro: Qual medida?
Marina Silva: Escolher um presidente da República que recupere a credibilidade
para que este país volte a ter investimentos, para que este país possa
assegurar a autonomia do Banco Central, para que este país possa ter controle
do gasto público. E nós estamos propondo até criar um conselho de
responsabilidade fiscal. Nós vamos, sim, fazer com que o Brasil volte a
crescer. Uma boa parte do capital que o Brasil precisa não é tangível, é
intangível: é confiança, credibilidade, respeito a contrato. Criar um ambiente
que favoreça os investidores a voltar a investir no Brasil. Isso só será
possível com um governo que tenha legitimidade. E que, de antemão, estabeleça o
seguinte: nós não vamos nos aventurar em política econômica, não vamos inventar
a roda. Há um processo que vem dando certo desde o governo Itamar, o presidente
Fernando Henrique consolidou, o presidente Lula manteve. A presidente Dilma é
que se aventurou. E agora nós temos o nosso país com baixa credibilidade, pouco
investimento, juros altos – que favorece o baixo empenho, é, investimento...
Miriam Leitão: Candidata, como é que seria esse conselho de responsabilidade
fiscal?
Marina Silva: Esse conselho de responsabilidade fiscal vai ser criado por lei.
Miriam Leitão: Externo ou interno?
Marina Silva: Ele vai ser um conselho que precisa ter a sua independência, por
que se o...
Miriam Leitão: Mas para fazer o quê? Para controlar o governo?
Marina Silva: Para verificar as contas do governo. Hoje nós estamos em um
processo de falta de credibilidade, em função da...
Miriam Leitão: Não tem o Tribunal de Contas para isso?
Marina Silva: Existe o Tribunal de Contas, mas nós não temos outros conselhos
que nos ajudam em relação a dar eficiência às ações do governo? Nesse caso, nós
já estamos com as contas, que são criativas, que são maquiadas, que o céu é o
limite. Ter um conselho de responsabilidade fiscal é dizer...
Chico Pinheiro: Ele é propositivo esse conselho? Ele vai dizer o que fazer?
Marina Silva: Ele é propositivo à medida em que nós temos um compromisso de que
nós não vamos elevar o gasto público acima do crescimento do PIB. E o conselho
de responsabilidade fiscal tem que fazer com que o governo dê conta dos
investimentos estratégicos na área social, e, ao mesmo tempo, não vá pelo
caminho da ineficiência, que é o que acontece hoje. Hoje o governo gasta de
forma ineficiente. Você tem projetos que começam com R$ 6 bilhões, vão sendo
reajustados para 10, 20, 30. E se nós tivéssemos um conselho de
responsabilidade fiscal, o governo seria cobrado para evitar esse tipo de
desperdício.
Miriam Leitão: Candidata, no tripé, é complicado, porque assim, por exemplo, a
tendência do dólar é subir. Se o dólar subir – e o dólar é flutuante, um dos
pés do tripé é o dólar flutuante - aí isso impacta a inflação. Se o Banco
Central intervir, isso vai estar controlando, portanto, não está afetando, não
está permitindo esse tripé de funcionar. Quer dizer, tem várias coisas
difíceis. Cortar os gastos pode aumentar a recessão. Como é que a senhora vai
fazer esse restabelecimento do tripé?
Marina Silva: É que cortar o gasto ineficiente não significa necessariamente não
fazer os investimentos. O corte do gasto ineficiente...
Miriam Leitão: Mas o que que é o gasto ineficiente?
Marina Silva: O gasto ineficiente são esses que eu falei com esses projetos como
nós temos inúmeros, em que você começa um investimento... As obras do São
Francisco, por exemplo: o planejamento inicial era de X bilhões, agora o céu é
o limite. As obras de Belo Monte, o planejamento inicial era uma quantidade de
recursos e vão sendo aditados. Isso tem a ver com a ineficiência do gasto público.
Chico Pinheiro: A senhora acha que o conselho resolve isso?
Marina Silva: O conselho ajuda a dar transparência, o conselho ajuda a fazer com
que as contas públicas sejam transparentes. Hoje nós não sabemos exatamente o
tamanho e a qualidade desse gasto, porque não há transparência, porque é feito
de forma maquiada mesmo, como se costuma chamar.
Ana Paula Araújo: Mas, candidata, ano que vem teremos um ano difícil. Há muitos
preços que estão hoje represados. O que que a senhora vai fazer com relação a
isso para que não pese ainda mais na inflação no ano que vem?
Marina Silva: Os preços administrados para o controle artificial da inflação é o
que esse governo está fazendo. A presidente Dilma já está pondo a mão na
consciência e tomando algumas providências. Ela é a presidente da República.
Ela tem que resolver esse angu de caroço que colocou o Brasil, manipulando os
preços administrados para ter bons resultados no que concerne a inflação – e
mesmo assim, ela está alta – para ganhar dividendos políticos. É por isso que
eu sou contra a reeleição. Sabe por quê? Porque na reeleição você não faz o que
é preciso e estratégico para o país, faz o que é preciso e necessário para se
reeleger em prejuízo da nação. A presidente Dilma tem que assumir a sua responsabilidade
com o que está sendo feito. Ela sinalizou que vai demitir o ministro no próximo
governo.
Chico Pinheiro: Vamos falar da sua campanha.
Marina Silva: O problema é que a sociedade brasileira, me parece, já está a
caminho de demitir os dois. Porque o que está sendo feito é uma
irresponsabilidade com o Brasil.
Chico Pinheiro: Vamos falar da sua campanha, candidata. Ana Paula.
Ana Paula Araújo: Queria sair um pouquinho agora da economia, a senhora em uma
entrevista recente à "Folha de S. Paulo" quando foi perguntada sobre
os ataques que sofreu por parte do ex-presidente Lula, a senhora chorou.
Esse choro não reforça uma imagem de fragilidade perante o seu eleitor? Uma
imagem que a senhora nega.
Marina Silva: Eu não nego, eu sempre, parece até vaidade, mas eu sou uma pessoa
sensível. Eu...
Ana Paula Araújo: Eu não falei insensibilidade e, sim, de fragilidade.
Marina Silva: Não, não é fragilidade. Quem foi que disse que um Presidente da
República não tem emoções? Eu, há 30 anos de vida pública, ninguém nunca me viu
tergiversar.
Chico Pinheiro: Por que a senhora chorou?
Marina Silva: Olha, é uma coisa até estranha de falar porque foi fora da
entrevista, né. Eu estava diante de uma jovem, filha de uma pessoa com a qual
eu tive relação histórica. Eu conheço muitos jornalistas que termina a
entrevista e fica conversando com você e eu naquele contexto estava falando,
inclusive, das minhas filhas que têm a mesma idade da jovem que estava me
entrevistando, filha de um ex-companheiro do PT. E essas minhas filhas me
disseram uma vez que elas tinham um pesar muito grande em relação ao álbum de
fotografia delas, porque o álbum de fotografia delas, quando crianças, era
sapatinho vermelho, chapeuzinho vermelho, botinho do PT, tudo do PT, o maior
orgulho das fotos que tinham com o Lula, com os líderes do PT. E a minha filha
disse: "Mãe, o que foi feito com a gente? A gente tinha tanto orgulho do
nosso álbum de fotografia e agora a gente não tem mais orgulho da nossa
roupinha vermelha, do nosso chapeuzinho vermelho". Eu estava me referindo
a um contexto muito delicado...
Chico Pinheiro: E por isso a senhora ficou emocionada?
Marina Silva: Obviamente.
Ana Paula Araújo: A senhora não acha que tem uma imagem de fragilidade perante o
eleitor?
Marina Silva: É possível que tenha, as pessoas têm muito preconceito com pessoas
com a minha origem e talvez pelo fato de ser uma pessoa que teve que passar por
muitos problemas de saúde, mas eu costumo brincar com isso, sabe. Eu até fiz
uma metáfora, né, da biorana preta e da biorana branca. É uma madeira, não é
tão grossa, mas é âmago puro. Ter enfrentado cinco hepatites, cinco malárias,
três hepatites, uma leishmaniose, perder a mãe aos 14 anos, ter sido
alfabetizada aos 16 anos, ter passado o que eu passei, vir me dizer que isso é
fragilidade e me pedir para não ter emoções, sinceramente. Eu já vi tantas
vezes líderes chorando e não é por isso que eles são mais fracos ou menos
fracos, muito pelo contrário. Uma das coisas que mais emocionou foi no dia que
o presidente Lula foi ser empossado e que ele pegou o seu diploma e disse:
"Eu que nunca estudei, agora estou recebendo meu primeiro diploma, de
Presidente da República Federativa do Brasil" e caiu no choro, eu caí no
choro também. E mesmo que o Lula ali me pedisse: "Marina, não chore comigo
chorando", ele não ia conseguir segurar as minhas lágrimas. Eu sou uma
pessoa sensível, mas não se pode confundir...
Ana Paula Araújo: Agora...
Marina Silva: ... sensibilidade com fraqueza.
Ana Paula Araújo: Ok.
Marina Silva: As pessoas que não se deixam emocionar, essas, sim, podem ser
muito fracas.
Ana Paula Araújo: Agora, candidata, a senhora já esteve melhor nas pesquisas
eleitorais. A senhora sempre diz que tem pouco tempo na propaganda eleitoral,
mas a gente sabe que campanha eleitoral não é só tempo de televisão. Minha
pergunta é: a senhora acha que nesse momento da campanha está tendo dificuldade
de convencer o eleitor da consistência da sua candidatura?
Marina Silva: A minha candidatura é muito consistente. Você já imaginou o que é
perder um companheiro de chapa em um acidente trágico? Você que já tinha se
colocado no lugar de vice, assumir uma eleição em dois meses, fazer tudo que
tivemos que fazer com partidos pequenos, começar tudo do zero, inclusive,
toneladas de material que a gente tinha feito de Eduardo e Marina, a gente teve
que descartar todo esse material. Até agora, na maioria dos estados, nem chegou
o nosso material. Nós estamos com dois minutos de televisão e não temos as
estruturas que os nossos concorrentes têm, nem o poder de vocalização que eles
têm e, mesmo assim, nós estamos aonde estamos. Eu só tenho a agradecer a
capacidade do povo brasileiro...
Miriam Leitão: Candidata...
Marina Silva: ...de mostrar que quem vai ganhar essa eleição, não são as velhas
estruturas, é uma nova postura.
Miriam Leitão: Candidata, a senhora falou em diminuir o papel dos bancos
públicos, mas os bancos públicos financiam a infraestrutura no Brasil, todo o
investimento de longo prazo, a moradia popular, por exemplo, e a senhora não
especificou, exatamente, que papéis eles vão deixar de fazer. Quer dizer, aonde
vai cortar esse papel dos bancos públicos?
Marina Silva: Eles vão...
Chico Pinheiro: Só lembrar, candidata, que a gente tem mais um minuto e meio para
a senhora, por favor. Obrigado.
Marina Silva: Os bancos públicos vão continuar para a finalidade social que eles
têm: no investimento correto, o "Minha Casa, Minha Vida", os
investimentos para a agricultura. E isso está no nosso programa.
Miriam Leitão: Mas não vai enfraquecer os bancos?
Marina Silva: Não vai enfraquecer os bancos. O que enfraquece os bancos é pegar
o dinheiro do BNDES e dar para meia dúzia de empresários falidos, uma parte
deles, alguns deles que deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso
dinheiro. Esse, sim, nós vamos parar com o mau uso. O uso político dos bancos
públicos não teremos mais. Nós vamos valorizar a prata da casa, os funcionários
públicos. Os partidos não vão ter um pedaço da Caixa Econômica e do Banco do
Brasil para chamar de seus.
Miriam Leitão: Mas várias empresas fazem bons investimentos e precisam desse...
Marina Silva: Nos bons investimentos, os bancos públicos têm um papel
fundamental e importante. É preciso que a iniciativa, enfim, o financiamento
que não é público seja um financiamento complementar. E para os investimentos
sociais: "Minha Casa, Minha Vida", para a agricultura, nós vamos
manter.
Miriam Leitão: A senhora sabe quanto vai conseguir reduzir? A senhora sabe quanto vai
reduzir?
Chico Pinheiro: A senhora tem um cálculo mais ou menos disso?
Marina Silva: Nós estamos fazendo a discussão em relação à qualidade desses
investimentos, principalmente no caso do BNDES, que ali que foi o lugar aonde
se tirou o dinheiro do contribuinte para dar para meia dúzias de empresas serem
as campeãs. Nós queremos é um ambiente favorável em que todos possam ser
beneficiados, os investimentos estratégicos dos programas sociais, pode ter
certeza, e a valorização da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, do BNDES,
valorização e o preenchimento das suas diretorias por comitê de busca, não por
apadrinhados políticos. A mesma coisa que nós vamos fazer na Petrobras, na
Eletrobras...
Chico Pinheiro: Candidata Marina Silva, muito obrigado pela sua participação aqui
no Bom Dia Brasil. A senhora que tem dois minutos, teve 30 minutos aqui para
expor mais as suas ideias. Agradeço muito a sua presença.
Marina Silva: Olha, pensando assim, isso dá quantos programas de televisão meus,
Chico?
Ana Paula Araújo: Quinze.
Marina Silva: Tomara que eu tenha me saído bem.
Ana Paula Araújo: Obrigada, candidata, pela sua presença. Obrigada.
Marina Silva: Obrigada a vocês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aceita-se comentários...