Por Claudio de Oliveira
Jornalista e cartunista
brasileiro
Como se sabe, nunca
existiu um pensamento único de esquerda. Ainda em 1864, quando foi criada a
Associação Internacional dos Trabalhadores, logo a organização foi dividida em
duas correntes principais. De um lado, os anarquistas liderados pelo russo Mikhail
Bakunin, de outro, os socialistas seguidores do alemão Karl Marx.
Aqueles últimos não
se constituíam numa corrente monolítica, com variações de pensamento entre
eles. Havia também outras correntes. Tampouco a chamada Primeira Internacional
abarcava todas as correntes do socialismo europeu.
A repressão pôs fim
à Primeira Internacional. Depois da morte de Marx, mas com a presença de seus
parceiros intelectuais como Frederic Engels e Karl Kaustky, surgiu a Segunda
Internacional, em 1889. Sem os anarquistas, a também chamada Internacional
Socialista dividiu-se em várias correntes. Os francamente revisionistas do
marxismo, como o alemão Edvard Bernstein, os ortodoxos, porém caminhando para o
reformismo, como Kautsky, e os adeptos do revolucionarismo, liderados pelo
russo Vladimir Lênin.
Este último,
sabemos, fundou em 1919 a Terceira Internacional, ou a Internacional Comunista,
que originou o movimento e os partidos comunistas em oposição à
socialdemocracia.
Os comunistas
russos, chamados de bolcheviques, logo após a morte de Lênin se dividiram. Uma
ala, o centro bolchevique, liderado por Josef Stálin, eliminou num, primeiro
momento, a esquerda bolchevique de Leon Trotsky, que irá fundar em 1938, a
Quarta Internacional. Depois, a direita bolchevique de Nikolai Bukharin será
também eliminada por Stálin, com o fuzilamento de seus líderes.
Nem todos os
comunistas se alinharam automaticamente a tudo o que os bolcheviques fizeram.
Apesar de apoiarem Lênin e a Revolução Russa de 1917, o italiano Antônio
Gramsci e a polonesa Rosa Luxemburgo criticaram aspectos da política
bolchevique.
É bom registrar
também a fundação da Internacional 2 e meia, em 1921, liderada pelos
austromarxistas, entre eles Otto Bauer, adeptos do socialismo democrático e de
um "terceira via" entre a socialdemocracia e o movimento comunista.
Aliás, expressão que será retomada nos anos 1970 pelos eurocomunistas liderados
por Enrico Berlinguer, o secretário-geral do PCI. O austromarxismo também
inspirará nos anos 1960 um movimento chamado de Nova Esquerda.
Entre as correntes
comunistas ainda devemos nos lembrar do maoísmo, muito influente entre
intelectuais e líderes estudantis de 1968, como também do “socialismo
autogestionário” da Iugoslávia, cujas empresas não eram estatais, mas
cooperativas.
A socialdemocracia
também se diferenciará em diversas correntes, desde a chamada socialdemocracia
clássica, predominante na Europa ocidental, como os suecos, defensores mais de
uma regulação estatal da economia e menos de uma intervenção, até os adeptos da
“Terceira Via” de Tony Blair ou do “Novo Centro” do socialdemocrata alemão
Gerard Schröeder, uma via entre a socialdemocracia clássica e o liberalismo
clássico. Isto sem falar de um social-liberalismo ou de um socialismo-liberal
defendido pelo italiano Norberto Bobbio.
Em “História do
Marxismo”, organizada por Eric Hobsbawn e publicada no Brasil em doze volumes,
o historiador egípcio-britânico, ao fazer um balanço do pensamento marxista ao
final do século XX, considerava que não é mais possível falar de um único marxismo,
mas de vários marxismos, tanto no âmbito da orientação partidário quanto na
esfera do “marxismo acadêmico”, com todas as suas variações, desde a Escola de
Frankfurt, hoje representado por Jünger Habermas, passando por George Lukács e
Louis Althusser.
Ainda à esquerda,
talvez devamos nos lembrar de novos movimentos e partidos, como os Verdes da
Alemanha e outros surgidos em diversas partes do mundo.
Por isso, vejo com
muita naturalidade, que, no Brasil, diferentes correntes e pensadores situados
à esquerda do espectro político tenham se posicionado diferentemente na
presente eleição presidencial. As opções de pessoas de esquerda seja por
Luciana Genro (Psol), por Eduardo Jorge (PV), por Eduardo Campos (PSB), por
Marina Silva (Rede), por Aécio Neves (PSDB), por Dilma Roussef (PT), ao meu
ver, têm todas o mesmo grau de legitimidade, e o mesmo podemos dizer daqueles
que escolheram candidatos de extrema-esquerda, como Zé Maria(PSTU), Mauro Iasi
(PCB) ou Rui Pimenta (PCO).
Ou reconhecemos o
pluralismo no campo da esquerda e busquemos uma convivência democrática e
respeitosa ou teremos de inventar um “esquerdômetro”, um aparelho capaz de
identifica a “verdadeira esquerda” e a “linha justa”, cuja experiência de
partido único na Europa do leste não foi das mais exultantes, digamos.
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