06 de Maio de 2015 - eCycle
Brasil é o maior consumidor de
agrotóxicos no mundo e males crônicos só serão sentidos a longo prazo
Em abril
deste ano, o Inca (Instituto Nacional de Câncer), ligado Ministério da Saúde,
se posicionou contra o uso de agrotóxicos, ainda mais com a divulgação do aumento do uso no Brasil. A
ideia é pressionar governos e entidades a aumentarem a regulação e o controle
do uso desse produto e incentivar alternativas sustentáveis.
Desde 2009, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo
(estima-se em 1 milhão de toneladas por ano, algo em torno de 5,5 kg de veneno por habitante). O
mercado de pesticidas cresceu na última década devido ao uso
de sementes transgênicas.
O uso desse
tipo de produto, basicamente, pode causar dois tipos de intoxicação:
1. Aguda: dá-se
pelo contato direto com o veneno, logo, costuma atingir o trabalhador
rural. Pode causar irritação na pele e nos olhos, coceira, vômito, diarreia,
espasmos, convulsões e até mesmo morte.
2. Crônica: é uma
contaminação que ocorre em longos períodos de tempo com contatos de maneira
indireta com o veneno. Ela pode afetar qualquer um. Dentre os possíveis
problemas de saúde estão: infertilidade, impotência, aborto, malformações,
desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e nervoso central, além
de câncer.
Há
associações bastante contundentes entre exposição a pesticidas e surgimento de
linfomas e cânceres de pulmão e de próstata.
O Inca
adverte ainda que este mal costuma ocorrer de 20 a 30 anos após a exposição a
agrotóxicos, sendo que a explosão de seu uso se deu há cera de 10 anos. Logo,
as consequências se farão sentir daqui a 15 ou 20 anos.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (Iarc, na sigla em inglês) classificou
cinco agrotóxicos como possivelmente cancerígenos, dos quais três são
permitidos no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Além disso, pelo menos outras dez substâncias usadas em lavouras brasileiras
estão proibidas em lugares como os Estados Unidos e a União Europeia.
Os
agrotóxicos não se encontram somente em alimentos in natura, mas também em
alimentos industrializados cuja matéria-prima tenha produtos agrícolas que
foram expostos aos pesticidas. Também podem estar presentes na carne e no leite
de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos (por causa da
bioacumulação).
Há algumas alternativas, entre elas a agricultura orgânica, que preza pelo
equilíbrio ecológico, pela eficiência econômica e sua prática costuma vir
acompanhada de regras trabalhistas mais claras, o que fortalece os
agricultores.
Apesar das
vantagens da prática, ela ainda enfrenta alguns entraves no Brasil, como o
excesso de burocracia e poucos incentivos governamentais (isto se agrava ainda
mais se lembrarmos que até hoje a indústria de agrotóxicos goza de incentivos
fiscais no Brasil).
Um modo de
consumir verduras orgânicas é aprender a produzir em casa - não deixe de
conferir o curso de hortas orgânicas.
Fonte: Inca
Três
anos antes...
Por um Brasil ecológico, livre de transgênicos e agrotóxicos
Número 581 – 20 de abril de 2012
“É socialmente inaceitável que o mercado seja o
regulador das decisões tecnológicas”, alertou com aguda precisão a nova
presidente do CONSEA, Maria Emília Lisboa Pacheco, ao tomar posse essa semana
em cerimônia que contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff, seu vice e
a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social.
De fato, em matéria de transgênicos, caminhamos
cada vez mais no sentido da desregulamentação, nos moldes estadunidenses. Sob
pressão das empresas, ruralistas e afins, foi criada uma nova lei em 2005 que
livrou os transgênicos dos estudos de impacto ambiental. A comissão que deveria
avaliar os riscos desses produtos é em sua maioria formada por biotecnológos,
que por princípio acreditam que não há e nunca haverá riscos. A crença é tamanha
que além da pauta de liberações, a CTNBio se dedica também a afrouxar cada vez
mais suas regras, mesmo aquelas mal colocadas em prática. É o caso do
monitoramento pós-liberação comercial. Agora a empresa faz se quiser. E as
exigências são genéricas.
Assim como a agricultura familiar foi usada como
nobre desculpa para se desmanchar o Código Florestal, a defesa das pequenas
empresas e das empresas públicas de pesquisa é usada como justificativa para a
dispensa de exigências. “Se pedirmos muitos testes só as multinacionais poderão
atender”.
Além disso, se uma empresa estiver monitorando, por
exemplo, um milho transgênico “A”, mas depois ganhar aprovação do milho “AxB”,
pode pedir para cancelar o que vinha fazendo e passar a monitorar apenas o novo
milho. Contudo, logo pode ser liberado o milho “AxBxC”. Aí nova substituição
poderá ser feita. Assim, de mudança em mudança, corre-se o risco de nenhuma
análise de monitoramento ter início meio e fim. Tudo dentro da lei. Na reunião
da CTNBio realizada esta semana algumas dessas mudanças foram aprovadas só com
base em carta com pedido da empresa, sendo que os novos planos ainda deverão
ser apresentados.
Nessa mesma comissão avança a tramitação dos
pedidos de liberação de soja e milho transgênicos resistentes ao herbicida
2,4-D, veneno da mais elevada toxicidade. Quando alguns membros questionaram
que a tecnologia aumentará seu consumo e exposição da população ao produto, a
coordenadora da subcomissão vegetal/ambiental, doutora Maria Helena Zanettini,
informou que “o fato de a expectativa de vida da população estar aumentando é a
maior prova de que os agrotóxicos não fazem mal”.
Também discute-se na CTNBio a flexibilização das
regras que definem critérios, estudos e dados necessários para uma empresa
pedir a liberação comercial de um organismo geneticamente modificado.
Aventam-se inclusive casos em que a análise de risco poderá ser dispensada.
A CTNBio já teve em seus quadros pesquisadores que
participaram de conselho científico das empresas, fizeram pareceres para elas e
integraram entidades que elas financiam, como CIB, Anbio e ILSI. Agora o
Ministério de Ciência e Tecnologia está empossando representantes diretos das
empresas, como o sócio-fundador da Alellyx Applied Genomics, que hoje pertence
à Monsanto.
Assim, na ausência do Estado, seja por omissão ou
por decisão, o mercado toma conta dos rumos dessa tecnologia que traz
implicações diretas para nossa saúde, agricultura e meio ambiente, e isso é
inaceitável do ponto de vista social.
Campanha
Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
Fonte: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia
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