segunda-feira, 23 de maio de 2011

A BRUXA E O MAGO: OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA?



“A mulher é mais carnal do que o homem
– o que se evidencia pelas suas muitas abominações...”.

James Sprenger e Heinrich Kramer
Malleus malleficarum (Martelo das bruxas)

Quanto mais longínquos estão no tempo determinados acontecimentos, sobretudo os que vivenciamos em tenra idade, o tempo encarrega-se de diluí-los em nossa memória. E, para isso, não precisamos sofrer de Alzheimer. É um processo natural, independentemente da natureza das lembranças – se boas ou más –, que, porventura, poderíamos vir a ter. No caso, refiro-me as lembranças que gostaria de ter do primeiro livro que li, mas, infelizmente, o fato de ser criança demais quando isso aconteceu, além de, desde então, já ter passado-se tanto tempo, não consigo, apesar dos esforços empreendidos nesse sentido, dispor do menor dos vestígios a respeito. E isso – convenhamos – é frustrante. Pelo menos para mim. Afinal, sempre fiz da leitura uma das minhas prioridades, além, diga-se passagem, de possuir uma memória impecável. Nessas circunstâncias, a frustração anda a galope, visto que é dupla.

Lembro, contudo que, quando criança, lia não somente os livros sugeridos por meu pai, mas, também, quando vasculhava a sua biblioteca, todos os que, pela capa, eu achava que poderiam ser de leitura aprazível. O fato é que, dentre os vários livros que li em minha infância, com certeza não faltaram os mais diversos contos, fossem os de fadas ou os da Carochinha, que, apesar de extremamente delirantes, estimulam a ludicidade da criança e a sua porção onírica – tão necessárias –, além de ser uma leitura a mais. De certa forma, um exercício mental. Falando em porção, tinham, também, as histórias que nos distraiam com bruxarias e magias, sempre envoltas em mistérios nunca revelados. O curioso é que, invariavelmente, as bruxarias eram feitas por mulheres – associadas ao mal – e as magias por homens – associados ao bem. Ou seja, as primeiras praticantes do mal e os segundos pregadores do bem.



Daí não ser surpresa alguma o fato de sabermos que quem criou as histórias de bruxas e magos foram homens, que, aliás, não fizeram nenhuma questão em disfarçar o sexismo evidente em suas narrativas, supostamente sobrenaturais, escancarando, portanto, com a sua atitude, uma discriminação inconteste, tendo, inescrupulosamente, o sexo como referencial para, em nossa sociedade, responsabilizar quem pratica o bem e quem prega o mal. Desse modo, tenta-se, já desde cedo, impregnar no imaginário infantil os alicerces para um entendimento futuro não somente do papel social da mulher e do homem, mas, também, do seu caráter e da sua moral, respectivamente. O curioso é que, mesmo quando, em raríssimas narrativas, deparamo-nos com uma maga, os seus poderes são sempre voltados para o mal, enquanto um bruxo, quando resolvem inventar um, é de uma bondade extremada.


Não é a toa que, nos dicionários – vários –, os significados para bruxa e mago não diferem em praticamente nada um do outro. Rien de tout! A bruxa, por exemplo, cria feitiço, enquanto o mago produz encantos. Além disso, a magia das bruxas é chamada de negra. Ou seja, não somente é racista como também sugere uma maldição, fruto da sua ignorância e de supostas ligações que manteria com o Diabo. A magia dos magos, por sua vez, é chamada de branca e é considerada uma ciência, visto que, na antiguidade, eles pertenciam a uma casta de sacerdotes e sábios. As bruxas, ainda, são sempre descritas como mulheres de meia-idade, fisicamente horrendas, aterrorizantes, de pele enrugada, com uma verruga na ponta do nariz, cabelos longos e vestes todas pretas, normalmente se fazendo acompanhar de um gato igualmente preto e de uma vassoura, que lhes dá o poder de voar.


Ah! As bruxas têm, também, o hábito de morar em casas rústicas, isoladas. Em sua maioria, localizadas em clareiras de florestas. Já os magos... Estes, apesar de idosos, costumam ter as faces incólumes ao tempo, exibindo um semblante constantemente sereno e são incapazes de fazer o mal, possuindo, além das vestes todas claras, uma longa barba branca, assim como é branco o seu gato e delicada a sua varinha de condão, especializada em fazer o bem. Os magos, ainda, moram não em taperas, mas em suntuosos castelos, não tendo, contudo, o poder de voarem, mas de se transmutarem, sendo explícita a diferença entre eles e as bruxas. Tanto que, se alguém, impaciente por algum motivo, quer apressar o sono de uma criança, recorre à ameaça da possibilidade de uma bruxa assombrá-la, no caso de ela não dormir. Sem falar que no folclore não são poucas as histórias de assombrações envolvendo feiticeiras.


Uma dessas histórias, inclusive, cuja origem, tudo indica, remonta ao interior de Goiás, no Brasil, conta que bruxa também pode ser considerada a caçula de sete filhas de um casal, que, por não ter sido batizada pela irmã mais velha, se transforma em coruja e, à noite, entra pelos telhados e janelas das casas para chupar o sangue das crianças que nelas moram, além de beber cachaça, piar forte e voar, dando gargalhadas. Sei não, mas ninguém merece ouvir um disparate como esse nem similares que, imagino, devem existir por aí, criados, sem sombras de dúvidas, por mentes desprovidas de todo e qualquer bom senso. Ou melhor, criadas por falta de outra coisa a fazer, porque só demonstra uma pobreza de espírito sem tamanho. Isso porque não falamos, ainda, dos contos de fadas, que, se comparados as histórias de bruxas, são de uma discrepância sem limites. E não apenas, digamos, por serem mais singelos.


Afinal, diferentemente das bruxas, as fadas seriam seres imaginários representados por mulheres jovens de extraordinária beleza e bondade, dotados de um poder sobrenatural, capazes, também, de voar. Só que sem vassouras. O estranho, entretanto, é que não existem fados, ou qualquer outro nome que o valha, para nominar seres jovens do sexo masculino com os mesmo poderes, encantos e características que as fadas. Bom! O fato é que todo o estigma votado a supostas bruxas remonta, pelo que se sabe, à Idade Média, que, não foi a toa, é igualmente chamada de Idade das Trevas, um período histórico que, dominado pelo obscurantismo, levou centenas e centenas de mulheres, acusadas de bruxaria, à fogueira. Sim, um triste, lamentável e longo período da História da humanidade que submergiu em um mar de sangue inocente, derramado, aliás, pelos mais cruéis dos homens, em nome, diga-se passagem, de Deus.


FOGO À VISTA!


“Não permitirás que viva uma feiticeira...”.

Êxodo, capítulo XXII, versículo XVIII

Paciência tem limite! Os homens podem até ser cruéis, mas, somente a eles cabe a responsabilidade por seus atos ignóbeis. Não omitir, mentir ou tergiversar sobre as suas verdadeiras intenções, alegando que as suas barbaridades sempre são cometidas em nome de Deus, essa coisa incorpórea, abstrata, que, inclusive, nunca deu o ar de sua graça, como se o dito cujo fosse o mandante de crimes tão graves e desumanos e os homens apenas os executores das suas ordens, devendo, portanto, não serem acusados, julgados culpados nem condenados por delito algum, já que, se os cometeram, foi por vontade dita divina. E, do alto do seu pedestal, Deus termina que também não é acusado, julgado culpado nem condenado, visto que, pelo poder que, supostamente, lhe foi conferido pelo homem – o criador dos maiores absurdos que já existiram e continuam a existir –, teria imunidade eterna.

De repente, na gíria atual, Deus não seria que um laranja do próprio homem. Mesmo porque essa entidade incorpórea só foi inventada para, servindo de instrumento de manipulação, impor o temor aos que facilmente deixam-se levar por falsas crenças, subjugando-os a vontades que não passam de caprichos humanos. Nada de ordens nem leis ditas divinas. E para esses que facilmente deixam-se levar por falsas crenças, eu só tenho a lamentar. Afinal, como já bem o disse o escritor português José Saramago [(1922 - 2010)], Deus só existe na cabeça de quem, por algum motivo, necessita acreditar em sua existência ou foi induzido a. Mas, como cada um sabe de si e eu não tenho nada a ver com a fé alheia... Ocorre que, achando serem os donos da verdade, os homens de batina, responsáveis pelas matanças desencadeadas na Idade Média, pensavam que o fato de pertencerem à Igreja católica justificava os seus atos.

Uma Igreja, aliás, que, até hoje, há quem defenda a sua inocência, alegando que o seu Tribunal do Santo Ofício limitava-se a julgar aqueles contrários à fé católica, os hereges, supostamente zelando pela fé questionada e pela evangelização, esquecendo de mencionar, contudo, os mais diversos tipos de tortura ocorridos em seus calabouços, atribuindo a condenação dos acusados de heresia à fogueira, ou sabe-se lá de qual outra arisia, ao Estado, como se alguma vez, na História da humanidade, desde que surgiram, ambos, Igreja e Estado, não tenham andado de mãos dadas, sempre tirando algum tipo de proveito do que quer que seja. De qualquer forma, no caso específico das carnificinas engendradas pela Igreja durante séculos de inquisições, alguns historiadores defendem a tese de que a participação do Estado deu-se mais pelas ameaças de excomunhão de membros da sua cúpula do que por qualquer outra coisa.

Assim, com essa sutileza, a Igreja quis ludibriar a todos, permitindo-se afirmar que, em hipótese alguma, nunca matou ou mandou matar quem quer que fosse. O que dirá plantar um ser humano na fogueira e atear fogo! Sem contar que, para prolongar o sofrimento dos condenados à fogueira, os inquisidores costumavam usar madeira verde para queimá-los... Segundo o escritor italiano Enrico Riboni, em seus escritos A Página negra do cristianismo – 2000 anos de crimes, terror e repressão, teria sido entre os séculos V e XV o início da mais rica das tradições cristãs: queimar pessoas vivas. O povo, por sua vez, ainda na Idade Média, foi deixado, pela Igreja católica, propositadamente na ignorância, porque, somente assim, a instituição poderia impor o seu domínio sobre a sociedade, criando, para tal fim, a Inquisição, chamada de santa, no ano de 1184, em Verona, na Itália, pelo papa Lúcio III (? – 1185).

Porém, o registro da sua criação oficial e regulamentação, com o nome de Tribunal do Santo Ofício, datam de 1231. E pela suma proteção do papa Gregório IX (1170-1241). Anos depois, como se achasse pouco todas as atrocidades cometidas pela Igreja católica, o papa Inocêncio IV (1195 - 1254) autorizou, em 1252, a publicação do documento Ad exstirpanda, que tentava justificar o plano de extermínio dos ditos hereges – um pulo para ser desencadeada a ensandecida e sádica caça as ditas bruxas. O assombroso, contudo, é que a propaganda institucional de tal prática, louvando as suas virtudes e vantagens, antecipando-se à eficiente propaganda do III Reich, era tão bem aceita e incutida na opinião pública que se chegou ao cúmulo de cidades, antecipando as olimpíadas, concorrerem na modalidade queima de bruxos, batendo recordes de óbitos ano após ano – uma loucura!

Sem falar que o escritor menciona, ainda, a publicação, em 1487, por dois monges dominicanos alemãos, James Sprenger e Heinrich Kramer, ambos inquisidores, do livro Malleus malleficarum (Martelo das bruxas). Escrito e publicado com o aval de uma bula papal, assinada por Inocêncio VIII (1432 - 1492), legitimando, assim, não somente ações abusivas da Igreja católica contra inocentes, mas, também, como bem o disse a educadora, escritora e feminista brasileira Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 - 1885), o “vergonhoso parto” do cristianismo, que foi a Inquisição, que, aliás, ela considerava “fatal ao progresso da civilização”, o livro era um detalhado e minucioso guia para uma caça as bruxas, um manual de tortura e execuções que, devido o sucesso que alcançou, se tornou, à época, um best-seller, amplamente usado por supostos caçadores de bruxas, que, em um piscar de olhos, surgiam do nada.

Enfim! O Malleus malleficarum defendia a tese de que a mulher era o alvo preferido de Satã, com quem ela, por meio de rituais orgíacos, copulava em busca de poder – obviamente um delírio sem precedentes dos autores que, por escreverem o livro, assinaram, querendo ou não, um atestado de insanidade mental. Só que, coitadas das mulheres, vítimas de um bando de celerados de batina, não tendo como não confessar o que quer que fosse diante do requinte das torturas praticadas pelos inquisidores, que seguiam a risca os ditames de um código penal mais absurdo e temerário do que bulas de medicamentos alopatas e da exaustão causada pelos sofrimentos aos quais elas eram submetidas. Assim sendo, já que, através do Malleus malleficarum, ficamos sabendo que Satã é considerado o “senhor do prazer”, inoculando nas mulheres o germe da maldade, Deus seria, então, o “senhor da crueldade”.

AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE...
DE SANGUE!


“Na Igreja católica, temos tudo o que é bom,
tudo o que é motivo de segurança e consolo...”.

Papa Bento XVI,
em visita à Basílica Nacional de Aparecida, no Brasil, em 2005.


A verdade é que os chamados caçadores de bruxas choviam a cântaros, vindo de todas as partes, tendo em vista apenas lucrar com essa nova possibilidade, digamos, de trabalho, por ser um negócio extremamente rentável. Afinal, qual era a mulher, por exemplo, que, àquela época, não fazia um simples chá com folhas ou frutos de plantas aromáticas ou de alguma erva com propriedades terapêuticas? Desse modo, bastava uma simples denúncia para que a infeliz fosse parar na fogueira, já que, certas práticas, por mais inofensivas que fossem, eram, absurdamente, consideradas uma confissão de bruxaria, vista, sobretudo, como um culto pagão à Grande Deusa Mãe – por extensão a Satã –, principal divindade adorada na Idade Média. Daí que muitas mulheres, em sua maioria, antes mesmo de serem queimadas vivas, enforcadas ou decapitadas, eram submetidas a inúmeras formas de tortura, incluindo, no caso, o estupro.

Sim, o estupro era uma espécie de tortura, ao qual, sem clemência, praticamente a maioria das mulheres eram vítimas, embora todas elas, sem exceção, independentemente de serem estupradas, tivessem os seus bens confiscados. O mais curioso, entretanto, é que negar a prática de bruxaria também dava cadeia, melhor dizendo, fogueira. O fato – tudo indica – é que a última queima de um herege deu-se em 1826. No caso, pela Inquisição Espanhola, instaurada em 1478 e extinta apenas em 1834. Porém, o extermínio em massa de hereges, incluindo os acusados de feitiçaria, não era um privilégio apenas da Europa, que, aliás, contou com a conivência decisiva das monarquias da época, mas, igualmente, do continente americano. Afinal, antes mesmo, digamos, do tão almejado armistício, que foi a extinção, pelo menos aparente, da última das Inquisições, no caso, a espanhola, cabeças também rolaram no Novo Mundo.

Um dos casos mais famosos ficou conhecido como As Bruxas de Salem, cidade da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, quando, em 1692, diversas mulheres padeceram na forca, acusadas de feitiçaria. Enfim! De objeto de adoração e respeito nas culturas pré-cristãs, além de fonte geradora de vida e símbolo da fertilidade, a mulher, sob a égide de uma cultura alicerçada no patriarcado, galgou à condição de um ser maligno, já que, segundo reza a lenda, andava as voltas com Satã, a tricotar sabe-se lá o quê. Tanto que, até 1788, quando a última bruxa foi queimada, cerca de um milhão de pessoas acusadas de praticarem bruxaria, incluindo homens, crepitaram em fogueiras instaladas para esse fim, quando não eram dizimados por enforcamento ou decapitação. E se engana quem pensa que a Inquisição pendurou as chuteiras, visto que a trégua dada em 1834, como o próprio nome diz, não passou de trégua.

Assim, levando em consideração que, durante séculos, a Inquisição foi rebatizada algumas vezes, já no séc. XX, em 1908, o papa Pio X (1835-1914), reorganizou a instituição, digamos assim, chamando-a de Congregação do Santo Ofício. O papa Paulo VI (1897-1978), por sua vez, deu-lhe, em 1965, um outro nome, ou seja, Congregação para a Doutrina da Fé, considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, sendo o seu prefeito, de 1981 a 2004, o cardeal Joseph Ratzinger, à época, arcebispo de Munique, na Alemanha, que teve a sua indicação para o cargo aprovada por João Paulo II (1920-2005). Eleito Papa – o oitavo de origem alemã e o 265º da História – no dia 19 de abril de 2005, Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, dividiu o mundo, já que, nublado que nem cinzas de um braseiro, o seu curriculum vitae tem a capacidade, por onde quer que ele passe, de gerar polêmicas.

Exemplo disso foram certas aberrações que disse em sua visita ao Brasil em 2005, quando se pronunciou contra o aborto, tipo ser necessário “promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio”. Seria uma piada? Achando pouco, Bento XVI ainda teve a cara de pau de dizer que muitos justificam “alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual”. Como eu já disse, ele estava pronunciando-se contra o aborto – coisa, aliás, que nem da sua alçada é julgar ser certa ou errada, visto que abortar é uma questão de foro íntimo da mulher e de mais ninguém. Muito menos de um eclesiástico, que vive fora da realidade e nem moral e autoridade tem para respaldar as suas opiniões a respeito. E isso qualquer um sabe, nem que possua apenas dois neurônios, porque basta se reportar as carnificinas promovidas pela Igreja católica em seus 2.000 anos de História...

E é isso! Só que é de bom tom dizer que, de certa forma, os métodos adotados pela atual Inquisição mudaram. Ao contrário das trevas da Idade Média, a Igreja católica não tortura mais o físico de alguém – a mente também, consequentemente – antes de reduzi-lo a pó em uma fogueira qualquer, embora, imagino, não falte vontade, hoje, a tortura limita-se a psique do acusado, embora, convenhamos, reflita em seu corpo, com métodos, inclusive, que, ao mesmo tempo, surpreendem pela sofisticação e aparente simplicidade, aumentando, ainda mais, a repulsa de muitos pela Igreja católica que, apesar de estarmos no séc. XXI, tenta, a todo custo, permanecer impune aos seus crimes bárbaros, os do Passado e os do Presente. Sim, porque o fato de não mais derramarem sangue, e sangue inocente, pelo menos não literalmente, não significa que os homens de batina abriram mão de cometer barbaridades.

E isso é repugnante, desprezível, sobretudo quando se sabe que a Igreja católica é a própria pecadora por excelência, paradoxalmente, contudo, acusando de pecador quem, inclusive, não comunga com as suas idéias nem com os seus dogmas surreais nem, muito menos, não tem nada a ver com a sua, digamos, bipolaridade ou tenha lá o nome que tiver o seu comportamento duvidoso. Seria psicopatia? Afinal, se fosse hoje, não duvido que os inquisidores da Idade Média, que friamente torturavam e exterminavam inocentes sem compaixão nem piedade – dupla, aliás, pregadas incessantemente pela Igreja católica –, não fossem diagnosticados psicopatas. Digo isso porque, em pleno juízo das suas faculdades mentais, ninguém, em hipótese alguma, cometeria atos tão insanos como os cometidos durante a Inquisição, que, diga-se de passagem, de santa não tinha nada, mesmo porque santidade não existe.

Assim, se leis civis, terrenas, não conseguiram até hoje colocar as mãos na Igreja católica por todos os crimes cometidos por seus legítimos representantes, saindo impunes para continuar cometendo delitos tão graves, previstos, inclusive, nos mais diversos códigos penais, que, pelo menos, as pessoas ignorem a instituição, não integrando as suas fileiras, como se a fé católica fosse a coisa mais pura, bem intencionada e sublime que existe, quando, na verdade, não o é. Ao contrário! A Igreja católica é o que há de mais podre e nefasto já inventado na face da terra, com as suas estruturas caóticas a vergar cada vez mais, embora continue a vagar em busca de almas que considera penadas. Daí que, talvez, o melhor fosse poder retornar à infância, habitar uma biblioteca e se manter distante do mundo propriamente dito, cujas maldades, por vivermos em uma sociedade hipócrita, só tendem, infelizmente, a aumentar...

Nathalie Bernardo da Câmara


*Publicado, originalmente, no dia 05 de maio de 2010.

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