domingo, 1 de abril de 2012

1º DE ABRIL: DIA MUNDIAL DA MENTIRA


“Mais do que as mentiras, as convicções são as perigosas inimigas da verdade...”.

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900)
Filósofo alemão


Primeiro uma piada (acima), literalmente de mau gosto, numa alusão ao golpe militar, não revolução – revolução é outra coisa –, deflagrado no dia 31 de março de 1964 no Brasil. 48 anos depois, no dia 31 de março de 2012, ou seja, ontem, publiquei uma postagem intitulada Sombras do passado... Para os interessados que quiserem acessá-la, é só clicar no link:


E, para completar – ninguém merece! – um insight do sempre irreverente Sponholz...




Agora, vamos a uma piada que li no blog do Adilson Moreira, o Gazeta do Santa Cândida, apesar da sua autoria ser desconhecida. De qualquer forma, não resistindo à tentação, aproveitei para burilar um pouco o texto, tipo: dei uma melhorada na sua linguagem, ajustei a pontuação e determinadas colocações, além de inserir uma charge – a única encontrada abordando o tema da piada –, bem como uma epígrafe, sem, contudo, comprometer a sua proposta. Assim, sem nenhuma pretensão, acredito que dei um charme a mais na redação do texto – se é que uma piada com um tema dessa natureza possa ter algum tipo de charme. Enfim! Dei uma repaginada na piada.



A Morte do senador...


“Viver é desenhar sem borracha...”.
 (1924 - 2012)
Jornalista, cartunista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro


Certo dia, flanando lá pelas bandas do Pelourinho, em Salvador, um senador é atingido na nuca por um berimbau – não se sabe se por acidente ou se por um ato de revolta de um eleitor arrependido –, bate a cabeça no chão e morre, instantaneamente, sem direito nem mesmo, apesar dos seus comovidos apelos, a um último discurso no plenário do Congresso Nacional, em Brasília. No Céu, contudo, popularmente conhecido como Paraíso e para onde não foi autorizado a levar nem uma mala, muito menos uma cuia, o já ex-senador logo dá de cara com um sereno São Pedro, que, vestindo uma longa e asseada bata branca, havia sido prevenido com antecedência da chegada iminente do político brasileiro. Daí ele se encontrar do lado de fora da entrada principal da instituição, trancada, inclusive, a sete chaves – provavelmente bem guardadas no molhe que o anfitrião segurava numa das mãos, possivelmente para evitar que penetras adentrassem no seu lar-doce-lar: — Seja bem-vindo! – exclama o santo, exibindo um largo sorriso nos lábios. – Só que, antes de você entrar, é bom que saiba que não é muito comum parlamentares por aqui. Desse modo, não sabemos muito bem o que fazer com você.

— Não vejo problema algum. – diz o recém-chegado. – É só me deixar entrar.

— Se fosse fácil assim... – sussurra São Pedro, com o olhar perdido numa nuvem a passar. – Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores... – ele acrescenta. – Bom! Vamos fazer o seguinte: você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode decidir onde quer passar a eternidade.

— Não precisa se preocupar não, nobre senhor, porque eu já decidi.

— Decidiu? – pergunta o santo, visivelmente surpreso.

— Decidi, sim. – confirma o ex-senador. – Quero ficar no Paraíso!

— Desculpe-me, mas nós temos as nossas regras.

— Regras, aqui no Céu? – questiona o ex-senador. – Não pode ser possível...

— Venha, vamos dar um passeio... – diz São Pedro, conduzindo o ex-senador até um elevador não muito distante da entrada principal do Paraíso.

— No Brasil não há regras! – o ex-senador meneia a cabeça, contrariado, enquanto espera o elevador chegar.

— Não? – o santo demonstra certo alheamento no que diz respeito à moral do país natal do seu acompanhante.

— Claro que sim, ilustre senhor, mas, no meu caso, só costumo seguir as que eu próprio dito.

— Sei... – limita-se a dizer São Pedro, confirmando que o ex-senador ainda não tinha se dado conta de que não estava mais na Terra, que a sua realidade, naquele momento, era outra.

— Quero dizer, seguia... – o ex-senador não consegue disfarçar certo constrangimento diante do laconismo do santo.

— Bom! O elevador chegou. – São Pedro faz as honras da casa. – Queira entrar...

— Posso saber para onde vamos? – pergunta apreensivo o ex-senador já dentro do elevador.

— Para onde você vai! – esclarece o santo.

— Sozinho? – pergunta o ex-senador, sentindo certo receio. – O nobre senhor não vai também?

— Não se preocupe... – o santo tenta tranquilizá-lo, logo apertando um botão para acionar o elevador. – Você ficará ausente apenas 24 horas. E eu lhe garanto que vai gostar do lugar para onde está indo.

Assim, a portas fechadas, do jeitinho que o ex-senador gostava quando se reunia com os seus correligionários ainda no Brasil, o elevador desce. Desce, desce... Desce tanto que, ao abrir da porta, ele se vê diante de um ser para lá de extravagante, portando sobre o corpo apenas uma sumária sunga vermelha. Porém, para satisfação do ex-senador, que supôs ser o seu novo anfitrião ninguém nada mais nada menos do que Lúcifer, que, aliás, tudo indicava, já o aguardava, a paisagem ao seu redor era uma das mais agradáveis e ele mal acredita no que vê, de pronto se arrependendo do mau juízo que sempre fez do Inferno, não hesitando, contudo, em acompanhar o loquaz anfitrião numa partida de tênis, durante a qual, inclusive, os dois aos poucos vão se entrosando um com o outro. Em seguida, como se fossem amigos de longa data, ambos atravessam um aprazível campo de golfe e, diante de um animado clube, decidem parar um instante para descansar os pés. De imediato, entretanto, para sua surpresa, o ex-senador reconhece muitos dos seus antigos aliados políticos em pleno happy hour e pergunta a Lúcifer se pode ir ter com eles.

— Claro! – diz o senhor das profundezas. – Afinal, é sempre bom rever os amigos.

E o ex-senador, não cabendo de bem-estar, em minutos já se vê cercado por seus pares, todos – vale salientar – muito bem vestidos e, como sempre, bastante eloquentes, tecendo, sobretudo, enquanto comem lagosta e bebem champanhe, inúmeros comentários sobre os bons tempos no Brasil – período durante o qual ficaram ricos à custa do povo. Lúcifer, por sua vez, que participa do histórico reencontro, aproveita para contar algumas das suas endiabradas piadas. E todos eles riem e se divertem diante da verve daquele que fazia as honras da casa, a ponto do ex-senador se esquecer do tempo a passar, do relógio a correr. Tanto que, quando menos ele espera, o seu anfitrião murmura baixinho: — Chegou a hora...

— Hora do quê? – pergunta o ex-senador em total abstração.

— De pegar o elevador e retornar ao Paraíso. – diz Lúcifer. – Vamos! Despeça-se dos seus amigos e venha comigo.

Meio que contrariado, já que não mais detinha a autoridade de outrora, quando só fazia o que lhe dava na telha, não podendo, portanto, desafiar as ordens de Lúcifer, não restou ao ex-senador que obedecê-lo. Desse modo, após cumprimentar os amigos, lamentando, contudo, ter de partir, visto que assim é que tinha de ser, o ex-senador acompanha pianinho o seu anfitrião e, quando menos espera, já está diante do elevador na qual chegara ao Inferno.

— Tudo vai dar certo! – Lúcifer tenta reconfortá-lo. – Nada acontecerá a não ser que você queira.

Sentindo-se, portanto, com a autoestima renovada, o ex-senador agradece pela hospitalidade e entra no elevador, que sobe. Sobe, sobe... Sobe tanto que, ao abrir da porta, ele mais uma vez se vê diante de São Pedro, a sua espera: — Agora, é a vez você visitar o Paraíso... – diz o santo. — E não se esqueça: você também terá 24 horas para conhecê-lo.

O ex-senador, por sua vez, embora já saudoso dos amigos que havia reencontrado no Inferno e do animado ambiente em que eles viviam, sequer chegou a pensar em discordar de São Pedro e, cordato, feito um carneiro manso, faz de tudo para seguir as regras locais: comparece a um coral de anjos crianças que, além de cantar belas e sublimes melodias, toca harpas; acompanha um grupo de anjos adolescentes que saltita alegremente por sobre as nuvens; toma banhos de cachoeiras e nada em caudalosos rios ao lado de anjos atletas, e pratica – pelo menos tenta –, juntamente com anjos adultos, a meditação. Lá pelas tantas, contudo, após uma sessão de shiatsu e de participar de um debate cujo tema era a vida após a morte – debate esse, aliás, regado a chá de camomila –, o ex-senador mal se dá conta quando, discretamente, São Pedro aproxima-se e o chama para uma conversa: — Então? – pergunta o santo.

— “Então”, o quê? – questiona o pecador.

— É o seguinte... – pigarreia o anfitrião. – Você passou 24 horas no Inferno e, depois, 24 horas no Paraíso. Convenhamos que o tempo foi deveras suficiente para escolher em qual dos dois vai querer desfrutar da sua morte.

Pego de surpresa – sempre tinha uma desde que deixou a Terra (a sua própria morte, inclusive, havia sido uma surpresa) – e apesar de desconfiado, o ex-senador nem titubeou: — Veja bem, nobre santo... – ele cofia o bigode. – O Paraíso sem dúvida alguma é um excelente lugar para um retiro espiritual, mas, diante do meu histórico de vida, eu escolho o Inferno. Afinal, pelo que pude observar, lá será o local ideal para que eu consiga superar a minha morte e aceite sem traumas a minha nova condição.

Paciente e um excelente bom ouvinte, São Pedro sequer questiona a decisão do ex-senador, se limitando, simplesmente, a conduzi-lo mais uma vez ao elevador, não se esquecendo, contudo, de lhe desejar boa sorte. É quando, mais uma vez, o elevador desce. Desce, desce... Desce tanto que, antes mesmo da porta abrir, o ex-senador já estava dando pinotes de alegria só de pensar em jogar tênis com Lúcifer, rever os amigos e comer e beber até se fartar. Porém, qual não é a sua frustração quando a porta se abre e, ao invés da bucólica paisagem de antes, ele se vê justo no meio de um enorme terreno baldio, repleto de lixo por toda parte e de urubus a sobrevoar ameaçadoramente a sua cabeça. Olhando ao redor, ele mal acredita quando vê os seus amigos com roupas sujas e rasgadas catando lixo sob as ordens de Lúcifer. Assim, apavorado, o ex-senador caminha em direção daquele que, um dia antes, havia sido a gentileza em pessoa, sobretudo contando piadas inteligentes, e questiona o que estava acontecendo, o quê significava aquele cenário tão desolador e degradante. Indo direto ao ponto, enquanto passava o braço pelos ombros do ex-senador, Lúcifer foi curto e grosso, não disfarçando nem mesmo um sorriso de astúcia ao final: — Ontem, meu caro, o Inferno estava em campanha, mas, agora, como já conseguimos o seu voto...


Anos depois, diante de um fato consumado...




Enquanto isso...


Chico Anysio: — Voltar? Jamais...

Haverá quem entenda a natureza humana?

Nathalie Bernardo da Câmara



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