terça-feira, 10 de abril de 2012

A TERRA NEGRA DE LARA LOGAN

 “O Egito é uma dádiva do Nilo...”, certa feita afirmou o historiador grego Heródoto (485 – 420 a. C.). Hoje, contudo, fico a me perguntar se, caso ainda fosse vivo, aquele que é considerado o Pai da História teria a mesma convicção de outrora.



O Dia Internacional dos Jornalistas, por sua vez, comemorado todos os anos no dia 8 de setembro, foi instituído pela Organização das Nações Unidas - ONU em homenagem ao jornalista tcheco Julius Fucik, que, nascido em 1903, chegou a ser membro do partido comunista da antiga Tchecoslováquia e da resistência contra o nazismo na Segunda Grande Guerra Mundial (1939 - 1945), durante a qual foi preso e torturado pelos nazistas, sendo assassinado no dia 8 de setembro de 1943. Enquanto isso, no Brasil, instituído pela Associação Brasileira de Imprensa - ABI em 1930, o Dia Nacional dos Jornalistas é comemorado no dia 7 de abril. A data, portanto, foi uma homenagem prestada pela entidade a Giovanni Battista Libero Badarò, o nosso Líbero Badaró, médico e jornalista italiano radicado no Brasil, que, nascido em 1798, faleceu no dia 21 de novembro de 1830, em consequência a um atentado que sofreu no dia anterior – fato que, em sinal de protesto, desencadeou um movimento popular que findou por abalar as estruturas do regime monárquico no país, culminando com a abdicação de dom Pedro I no dia 7 de abril de 1831. Fundador do jornal O Observador constitucional no ano de 1829, Líbero Badaró nos legou uma frase que ficou famosa não somente por seu teor, mas por ter sido as últimas palavras que ele proferiu no seu leito de morte, ou seja: — Morre um liberal, mas não morre a liberdade.

Porém, este ano, os jornalistas brasileiros não tiveram motivo algum para comemorar a data. Afinal, como eu disse na postagem que publiquei neste sábado, 7 (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/04/7-de-abril-dia-nacional-dos-jornalistas.html), o Brasil – nem mesmo considerando que em 2012 já foram assassinados dois jornalistas brasileiros – foi um dos cinco países, juntamente com Cuba, Venezuela, Índia e Paquistão, “que derrubaram, fins de março do corrente, em reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco, em Paris, o texto básico de uma resolução da Organização das Nações Unidas - ONU que estabelece um novo plano de ação para garantir maior segurança aos jornalistas no mundo”. Ocorre que, enquanto isso, há quem, a exemplo da ONU, se preocupa com os números cada vez mais crescentes de jornalistas sendo assassinados. O fato é, de fato, alarmante! Tanto que, por exemplo, em memória dos 32 jornalistas assassinados nas Filipinas durante aquele que ficou conhecido como o Massacre de Manguidanao, ocorrido no dia 23 de novembro de 2010, foi instituído, o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade – uma louvável iniciativa da International Freedom of Expression Exchange: The global network for free expression, - Ifex destinada a chamar a atenção para as falhas de autoridades de todo o mundo nas investigações de assassinatos de jornalistas e ativistas de diversos movimentos civis, que deixam impunes os responsáveis.

Bom! Transcorrendo ainda sobre o tema, foi lançado, na sede londrina da Thomson Reuters, no mês de março, mais precisamente no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o livro No Woman's Land: On the Frontlines with Female Reporters, que traz 40 ensaios escritos por profissionais da imprensa que descrevem as adversidades que enfrentam no exercício da profissão, mais especificamente quando estão atuando em verdadeiros campos de batalha, além de conter dicas de sobrevivência em ambientes hostis, sendo a renda arrecadada com a venda do livro destinada a treinamentos de segurança para mulheres jornalistas. Editado pelo Instituto Internacional da Segurança Noticiosa - Insi (sigla em inglês da entidade), o livro, pelo que eu soube, ainda não foi publicado no Brasil. No entanto, não apreciando as traduções que encontrei do seu título original em inglês nas reportagens que li a respeito, achei que poderia pelo menos traduzir o seu sentido para português como: Em terras proibidas para mulheres as jornalistas estão na linha de frente. Enfim! Toda essa introdução para, finalmente, tecer alguns comentários sobre o fato que, além de inspirar o livro mencionado acima, motivou a presente postagem, ou seja, os abusos sofridos pela sul-africana radicada nos Estados Unidos Lara Logan, jornalista da rede americana CBS, quando, em 2011, no Cairo, cobria as manifestações em comemoração à renúncia de Hosni Mubarak, até então presidente do Egito. Vejamos...





Em tempos remotos, o Egito já foi chamado de Kemet, ou seja, Terra Negra, cujo nome advinha da cor negra que se imprimia no solo ribeirinho quando das cheias do rio Nilo no país – rio esse, aliás, que se divide em dois principais braços, formando um dos deltas mais fértis do mundo. E é exatamente ao sul do delta do Nilo que está localizado o Cairo, capital do Egito e maior cidade do mundo árabe e da África. Não foi à toa que, por volta de 2.500 a. C., aos pés da maior bacia hidrográfica do Egito, a mente fecunda do seu povo desenvolveu a técnica de fabricar folhas de papiro, cuja matéria-prima consiste numa erva que brota unicamente nas margens alagadiças do Nilo – invenção essa, inclusive, que, ao longo do tempo, promoveu uma revolução silenciosa, já que, historicamente, o papiro é considerado o precursor do papel que hoje conhecemos. Paradoxalmente, contudo, no quesito religião, aproximadamente 90% desse mesmo povo é muçulmano, sendo os preceitos do islamismo, portanto – no caso, o sunita –, a essência do código moral, digamos assim, que ilumina e guia o Egito. O islamismo, por sua vez, segue à risca os ensinamentos do Alcorão, ou seja, a Bíblia dos mulçumanos. Desse modo, reconhecidamente responsável – não é de hoje – pela grande expansão do Islã no mundo, tida como a segunda religião que mais aglutina fiéis no planeta, já que a primeira é a católica, o Egito é culturalmente similar, por exemplo, ao Marrocos e ao Afeganistão, tal qual foi dito, aliás, em postagens anteriores – recentes, por sinal –, que são O Mar rouco de Amina (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/04/o-mar-rouco-de-amina-foto-divulgacao.html) e Os Sismos de Gulnaz (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/04/os-sismos-de-gulnaz.html). Ou seja, a legislação do país é pautada essencialmente pelo puritanismo, pelo conservadorismo e pela repressão, ou melhor, o governo do Egito explora politicamente a religião para, em seu nome, controlar a sua população, que, dia-após-dia, vive sob a égide do medo. Isso sem falar que respeito ao indivíduo é algo completamente inexistente no país, cuja legislação – instrumento da religião – é extremamente rigorosa, sobretudo no que diz respeito à mulher, sonegando, vale salientar, até mesmo os seus direitos fundamentais. Daí, como os mulçumanos, que menosprezam quem não comunga com as suas leis, querem que o mundo faça vista grossa diante de uma religião que legitima toda sorte de discriminação, que, infelizmente, de há muito já está impregnada nas vísceras da sua própria cultura, desencadeando e disseminando atos bárbaros de violência? Falando nisso, como os muçulmanos explicam, por exemplo, que, ao mesmo tempo em que, no dia 11 de fevereiro de 2011, durante as comemorações da renúncia do então presidente do Egito, Hosni Mubarak – fato histórico que gerou uma comoção nacional –, eles foram capazes de brutal e covardemente agredir e violentar sexualmente uma jornalista que, à ocasião, na Praça Tahrir, no Cairo, cobria o evento para uma rede de televisão norte-americana?

Não explicam. E isso até hoje, quando já se passou pouco mais de um ano do trágico episódio que chocou o mundo. Sim, enquanto o povo egípcio, em manifestação pública, se congraçava pela queda de um linha-dura politicamente incorreto, que ficou no poder por quase 30 anos, cometendo todo tipo de atrocidade, cerca de 200 manifestantes muçulmanos saíram aparentemente do nada e, como em um passe de mágica, ou por obra e graça de Allah, isolaram a jornalista sul-africana radicada nos Estados Unidos Lara Logan da sua equipe de trabalho – todos correspondentes da CBS – e literalmente curraram-na sem dó nem piedade – os detalhes são tão sórdidos que me recuso a descrevê-los (não se faz necessário relembrar determinados horrores engendrados por certos tipos de gente) –, por pouco não provocando a sua morte – não direi o mesmo em relação as sequelas e aos traumas decorrentes do fato –, sendo, contudo, felizmente resgatada por um grupo de civis e cerca de 20 soldados egípcios, que desesperadamente logo buscaram ajuda. A vítima, por sua vez, no dia seguinte retornou no primeiro voo para os Estados Unidos, quando imediatamente hospitalizada e passou a receber os devidos cuidados médicos – não foram poucos – que o seu caso requeria, embora exista quem diga que a agressão sofrida pela jornalista foi um ato de protesto contra a violência que o povo muçulmano teria sofrido nas mãos de soldados norte-americanos durante a invasão no Afeganistão. Se assim o foi – pouco importa, já que uma coisa não justifica a outra e violência só gera ainda mais violência –, que, à época, nem Allah tenha se compadecido dos energúmenos que, se autonomeando seus porta-vozes, exerceram uma das suas mais marcantes características, ou seja, a covardia. No caso, contra a mulher. E uma mulher indefesa, que, para seu desespero, teve o azar de estar no lugar errado na hora errada, sem direito a ter o direito, bem como sem meios, de pelo menos tentar se defender de celerados completamente desprovidos de humanidade. Enfim! Quando pode finalmente comentar a respeito dos abusos que sofreu, Lara Logan denunciou que, ao contrário dos profissionais de imprensa do sexo masculino, as jornalistas do sexo feminino estão frequentemente expostas a um tipo diferente de violência. Segundo ainda a jornalista: — Com a violência sexual, você só tem a sua palavra para curar as feridas físicas. Você não precisa carregar a prova do jeito que você faria se tivesse perdido a perna ou o braço no Afeganistão.

O fato, portanto, envolvendo Lara Logan aconteceu no dia em que ela retornou ao Cairo, já que havia deixado a cidade uma semana mais cedo depois de ter sido detida, acusada de ser espiã de Israel, e interrogada por 16 horas pelo Exército egípcio: — Houve um momento em que tudo deu errado, disse a jornalista em relação ao tumulto provocado pela multidão que celebrava nas ruas a renúncia de Mubarak à presidência do Egito. Porém, o que se sabe é que quando o cinegrafista Richard Butler foi trocar a bateria da câmera, colegas egípcios que acompanhavam a equipe de filmagem ouviram falar de homens nas proximidades querendo tirar as calças de Lara Logan: — Foi literalmente o momento em que a multidão se lançou sobre mim e eles [membros da sua equipe] disseram que eles teriam de sair daquele lugar. Em vão! No entanto, sem querer entrar em maiores detalhes da agressão que sofreu, a jornalista revelou que, “implacáveis”, os agressores demonstraram sentir prazer diante da sua dor e do seu sofrimento, o que “incitou mais violência neles”. Lara Logan, por sua vez, pretende abraçar uma causa, a de denunciar casos de violência contra não somente as jornalistas que já sofreram algo do tipo, mas, também, contra as mulheres de um modo em geral, sujeitas a todos os tipos de ataques. Que ela, então, conte com todo o meu apoio na sua empreitada, que não deve ser nada fácil, e que publique um livro a respeito, que, para mim, poderia inclusive ser intitulado de Mulheres mudas.De acordo com o jornal The New York Times, pouquíssimas pesquisas já foram realizadas sobre a violência sexual que afetam as jornalistas em zonas de conflito. Porém, nas semanas seguintes ao ataque sofrido por Logan, outras mulheres contaram que sofreram perseguição e agressões durante o trabalho. Grupos como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, por exemplo, disseram que iriam rever os seus manuais para uma melhor resposta a violência sexual cometida com as mulheres da categoria, enquanto o produtor Jeff Fager, responsável pelo programa 60 Minutes, exibido pela CBS, disse que a violência sofrida por Logan iria aumentar a conscientização sobre o problema. A diretora da organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras em Washington, Clothilde Le Coz, concorda que é difícil tornar público o estupro, “mas é ainda pior para as (...) que não têm o mesmo apoio e repercussão de uma vencedora do Emmy”, disse, se referindo ao fato de, Lara Logan conquistou o referido prêmio por ter sido a autora da melhor reportagem de 2006 – no caso, a cobertura que fez sobre a invasão norte-americana no Iraque. Tanto que, tão logo soube dos momentos de terror pelos quais a jornalista passou no Cairo, o presidente Barack Obama telefonou para a sua casa e lhe desejou uma boa recuperação. Quem assim tenha sido. Afinal, qualquer mulher que já passou por situações similares à de Lara Logan, independentemente da proporção dos danos sofridos e da profissão que exerce, embora, mais especificamente, no caso das jornalistas, sabe muito bem o que ela passou. Que sabe, então, não chegou a hora de um cessar-fogo contra a mulher em todas as esferas da sua vida?



Para finalizar...


Diante de todos os fatos expostos acima, confesso que, cada vez mais, repudio a religião islâmica e a cultura muçulmana. Afinal, defendo a paz e o entendimento através do diálogo não importa qual a situação nem a dimensão do conflito. E o fato de não ser religiosa, de não seguir nenhuma religião não implica que sou melhor ou pior do que ninguém. Na verdade, eu, simplesmente, não acredito em religião alguma, embora acredite que todas elas sempre fazem mais mal do que bem aos seus seguidores – não é à toa que concordo plenamente com o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 - 1883) quando, em seu manifesto comunista (1848), ele diz que a religião é o ópio do povo... Enfim! No caso dos muçulmanos em particular, eu só sugeriria uma coisa: como eles são obrigados a orar cinco vezes por dia, ajoelhados num tapete – parece mais um martírio – e voltados para Meca, cidade da Arábia Saudita e que eles consideram a mais sagrada do mundo, cujo acesso, aliás, é proibido para quem não reza na cartilha do Alcorão, que pelo menos os adeptos do islamismo protejam melhor os seus joelhos. Ou seja, que passem a comprar os tapetes nos quais eles se ajoelham diariamente na cidade de Istambul, na Turquia, conhecida mundialmente pela maciez do produto, que, inclusive, feito de lã e seda – muitos contêm fios de ouro e prata –, têm o mérito de serem confeccionados por crianças, visto que a famigerada exploração da mão-de-obra infantil é liberada na Turquia, não se constituindo, portanto, um crime. Assim, já que se há uma coisa que os muçulmanos entendem é de crimes, que eles, então, ao contrário dos maus tratos que, indistintamente, infligem aos seus semelhantes, pelo menos não maltratem os seus joelhos...


Nathalie Bernardo da Câmara


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