sábado, 14 de abril de 2012

NA TOCA DO LOBO...

“Esta será a última Cúpula das Américas sem a participação de Cuba...”.

Dilma Rousseff
La presidenta do Brasil referindo-se ao veto dos Estados Unidos à presença de Cuba na 6ª Cúpula das Américas, ora sendo realizada neste fim de semana em Cartagena das Índias, na Colômbia – o referido veto gerou protestos e o embargo econômico imposto pelos EUA à ilha caribenha está na pauta do encontro. Para o chanceler cubano Bruno Rodríguez, a “exclusão” de Cuba por parte dos Estados Unidos “é inaceitável e injustificada”. Segundo a Agência EFE, o chanceler chegou a dizer que o veto a Cuba, que nunca participou de uma Cúpula das Américas, realizada a cada três ou quatro anos por iniciativa dos EUA para que os países da Organização dos Estados Americanos - OEA discutam políticas e soluções comuns para problemas regionais, nada mais é do que mais uma represália do governo norte-americano ao regime comunista de Fidel Castro, a exemplo do bloqueio econômico que, há mais de 50 anos, esse mesmo governo impõe ao seu país – bloqueio esse, aliás, que ele considera “genocida e ilegal”. A meu ver, contudo, o chanceler cubano se esqueceu de dizer que, além de genocida e ilegal, o embargo é igualmente indecente e imoral...


Como já foi dito na postagem Drogas para que te quero! (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/04/drogas-para-que-te-quero.html), publicada neste blog nesta sexta-feira, 13, o tema da 6ª Cúpula das Américas é Conectando as Américas: sócios para a prosperidade, quando se pretende debater questões tais como a desigualdade social, a prevenção a desastres naturais, o acesso a tecnologias, a segurança internacional e a proteção de fronteiras, embora a ênfase maior não deixe de ser o combate ao narcotráfico. Que paradoxo! Falar de drogas logo na Colômbia. Quanta ousadia... Bom! O fato é que, ontem, não cheguei a passar a mensagem que eu pretendia com a minha postagem, já que, antes mesmo de abordá-la, fiquei extremamente irritada quando tomei conhecimento da indelicadeza de Barack Obama em relação à recepção, ou melhor, à recepção que não houve quando da recente visita de Dilma Rousseff aos Estados Unidos. Segundo as boas línguas, o comportamento de Obama seria devido à má digestão do fato de que Dilma está sendo considerada – depois dele, é claro – a segunda pessoa mais poderosa do Ocidente. Daí o seu desdém votado à la presidenta do Brasil. Ou seja, a presunção de Obama não permite que ele “engula” a ascensão meteórica da brasileira no cenário político internacional.

Enfim! A anfitriã da 6ª Cúpula das Américas tentou evitar um boicote ao evento pelo fato de Cuba ter sido vetada pelos EUA, mas, mesmo assim, além, obviamente, da ilha cubana, outra ausência faz-se sentir no encontro para lá de polêmico, que é a do Equador, cujo presidente, Rafael Correa, alegou que só não compareceria à reunião por uma questão de “princípios”. Para ele, como pode uma cúpula se justificar sem a participação de um dos seus membros? No caso, a Cúpula das Américas, que não poderia ocorrer sem a participação de Cuba, vetada, malogradamente, pelos EUA. No entendimento do equatoriano, a não participação de um dado evento é muitas vezes melhor do que a participação. Porém, muitos outros líderes americanos pensam de maneira diferente, achando que, no caso em questão, a melhor forma de pressionar os EUA é participando do encontro. O chanceler venezuelano, por sua vez, Nicolás Maduro, é da mesma posição, por exemplo, da de Dilma Rousseff, ou seja: — Em termos gerais, a opinião é muito clara: levar para o encontro uma posição de que não é possível realizar mais cúpulas sem a presença de Cuba.

Além disso, Maduro também mencionou que outra questão também tem de ser abordada durante os debates, que é o embargo norte-americano a Cuba. Segundo ele, deve ser exigido “o levantamento do bloqueio e o respeito às resoluções da ONU que pedem o fim do embargo criminoso contra o povo cubano”. Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores do Peru, Rafael Roncagliolo, advertiu que os EUA já não podem mais interferir nas relações dos latino-americanos em função da sua política interna, bem como anunciou que o presidente do Peru, Ollanta Humala, é um dos que exigem o fim da exclusão de Cuba dos encontros da Cúpula das Américas. Curiosamente – para não dizer cínica ou hipocritamente –, a subsecretária interina de Estado dos EUA para a América Latina, Roberta Jacobson, respondeu a todos esses pedidos: — Esperamos ver algum dia uma Cuba democrática participando da cúpula.

Sim, simples assim. Só que, para Dilma Rousseff, que visitou Havana em janeiro deste ano, os EUA não podem fazer da questão dos direitos humanos uma “arma” de combate político-ideológico: — Se nós vamos falar de direitos humanos, começaremos a falar de direitos humanos no Brasil, nos Estados Unidos e a respeito de uma base aqui, chamada Guantánamo [prisão mantida pelo governo americano em Cuba]...

Enquanto isso, mais de trinta chefes de Estado estão reunidos em Cartagena das Índias, embora, era de se esperar, os olhos do planeta estão focados nos líderes do país anfitrião – um dos principais produtores de cocaína do planeta –, dos EUA – o principal consumidor da droga no mundo – e do Brasil – segundo maior consumidor do produto, além de ser a sua porta de saída para a África. Segundo ainda a Agência EFE, a chanceler colombiana, María Ángela Holguín fez questão de deixar claro que a discussão sobre drogas não vai se centrar exclusivamente na sua legalização. Caso contrário, “não haverá debate”. Evidentemente que sim. Afinal, segundo a programação da 6ª Cúpula das Américas, outros temas constam na pauta do encontro. Enfim! Uma petição encaminhada à la presidenta do Brasil anda a navegar na internet, já que, por sua notória influência no cenário político internacional – haja visto a nada discreta ira do presidente norte-americano Barack Obama –, ela possa “dá início ao fim da catastrófica ‘guerra às drogas’”, desempenhando, no caso, “um papel fundamental” para a mudança das políticas globais em relação as drogas, ou seja, “de uma perspectiva de guerra e repressão para uma política de tratamento e compreensão”.

A iniciativa, portanto, da petição é da rede Avaaz, organização não governamental que, desde 2007, mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo para agirem em causas internacionais urgentes – da pobreza global aos conflitos no Oriente Médio e as mudanças climáticas. Segundo a Avaaz, “mais de 4 milhões de brasileiros, incluindo alguns dos nossos amigos e parentes, sofrem todos os anos do abuso de drogas e de sua dependência química. Nosso país está ignorando esta situação e gasta bilhões de reais lutando numa guerra falida que criminaliza os dependentes químicos. Agora, um grupo de líderes latino-americanos está exigindo uma nova abordagem que poderá incluir a ajuda para o sofrimento desses dependentes químicos e suas famílias”. Na opinião dos membros da Avaaz, “o governo dos EUA está tentando bloquear esse novo passo, mas Dilma pode equilibrar a balança. Ela só precisa de um gigantesco apoio público para se posicionar e abrir o debate”. Daí a organização lançar a referida petição exigindo que Dilma Rousseff “entre para a história da Cúpula de Cartagena neste final de semana virando a página da letal e sem sentido guerra às drogas e dê início a uma era de políticas de drogas mais humanas e efetivas no Brasil e ao redor do mundo”.

Para assinar a petição – eu já assinei –, nenhum mistério: basta clicar no link abaixo que o leitor receberá as devidas instruções para saber como fazê-lo:


Nathalie Bernardo da Câmara


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