“A toda ação corresponde uma reação igual e contrária...”.
Isaac Newton (1642 - 1727)
Físico, matemático e astrônomo inglês.
Diante do leque de variantes – haja redundância! – acerca do conceito da tão decantada e propalada economia verde, cujo real significado muita gente nem sabe ainda qual é, achei que talvez pudesse encontrar na mitologia grega uma história que, através de uma analogia, fosse capaz de explicar, de maneira plausível e até mesmo didática, tal questão. Coisa simples, tipo: a história de Apolo, Creusa e Íon. Ou seja: certo dia, Apolo resolve abusar sexualmente da indefesa Creusa, filha de um rei de Atenas, estuprando-a. Da violência, portanto, cometida por aquele considerado o deus da beleza e da verdade, nasce Íon, que, logo após vim ao mundo, é abandonado, num gesto de repulsa, numa caverna qualquer, entregue à própria sorte, por aquela que o gestou contrariada. Ponto. Ou melhor, corta! – como se diz no cinema. O resto da história? Não interessa. Não neste caso. Enfim! Quem, hoje, seria Apolo? O capitalismo, um sistema econômico que, predador, se sustenta nas aparências, querendo, arrogantemente, ditar os rumos do mundo. Creusa? Os recursos naturais, espoliados pelo capitalismo a seu bel prazer. E Íon? A economia verde, fruto de um estupro. Agora, se pularmos para a química, Íon nasceu com dupla face, tendo, desse modo, um lado bom, positivo, e um lado ruim, negativo. Seria como a beleza e a verdade de Apolo, ou seja, relativo, já que, na vida, nada é absoluto. Íon, portanto, por ser originário de uma miscigenação racial, é imprevisível, mas não as suas ações, que herdou do seu genitor. De qualquer modo, podemos, sim, antever os benefícios, mas, principalmente, os prejuízos, maiores em gênero e grau, decorrentes da sua imprevisibilidade. Os genes de Creusa, entretanto, apesar da supremacia que lhe é intrínseca, herdados, por sua vez, do pai, rei do berço da civilização, pouco ou nenhuma influência têm para impedir as ações nefastas de Íon, visto que a aparente soberania do capitalismo costuma prevalecer. No entanto, por não ser supremo, ele não disporá de poderes para maquiar as desastrosas consequências decorrentes das ações engendradas por seu rebento. Resultado: no final das contas, do balanço geral, de todos os cálculos feitos, a força natural de Creusa, o seu dom, irá, inevitavelmente, derrotar não somente o seu algoz, mas, também, o fruto que desabrochou da semente já podre que, a sua revelia e brutalmente, ele depositou no seu ventre. E isso exatamente por estarem esgotados todos os seus recursos. É dialético! Falando nisso, para quem não sabe, adianto que a história mitológica, como se costuma esperar de todo e qualquer drama, tem, digamos, um final feliz, embora eu não saiba como, considerando que não houve embasamento emocional para isso. Porém, como se trata de um mito, de uma ficção... Bom! Quanto a nossa analogia, tudo indica que o desfecho da história dita real, previsto, inclusive, desde o seu début, dar-se-á pelo viés da dramaturgia, ou seja, será uma tragédia, a qual, aliás, mesmo que eu quisesse, não poderia contá-lo. Nem com analogias nem, muito menos, com poesia. Afinal, quando isso acontecer, quando o espetáculo já tiver acabado e caído o pano, não estarei mais aqui. Nem você. A não ser, claro, se mudarmos tudo. A começar pelo formato da história: não mais uma peça para teatro, mas um roteiro para cinema – a sétima arte, vale salientar. E isso sem falar que o número 7 é cabalístico. Enfim! Mudado o formato da história e a narrativa em si, escolhe-se Godard para ser o roteirista e o diretor do filme. Quanto aos atores, muda tudo também! Assim, ao invés de um filme com papéis principais e secundários, além dos figurantes, todos serão protagonistas, incluindo os espectadores, de uma nova história, que, inclusive, como bem o disse o cineasta francês: “Não tente entender, apenas sinta...”. O título do filme? O Futuro que queremos.
Nathalie Bernardo da Câmara
Como é bom ler um texto bem escrito. Realmente, temos que começar a mudar tudo. O capitalismo, o consumismo, o ... Quando se fala em expectadores, perfeito! Temos que mudar a si mesmos, antes de mudar o mundo. Parabéns pelo maravilhoso texto. Hailton Mangabeira
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