domingo, 2 de janeiro de 2011

INDIGNAR-SE OU NÃO: EIS A QUESTÃO!

“A miséria não acaba porque dá lucro...”.

Arnaldo Jabor
Jornalista brasileiro



Lendo com alguns dias de atraso a coluna Nossa antena, assinada semanalmente pela jornalista brasileira Ruth de Aquino, diretora da sucursal da revista Época no Rio de Janeiro, onde a referida coluna é publicada semanalmente, me deparei com um artigo datado do dia 23 de dezembro de 2010 – de igual modo disponível em versão eletrônica no site mantido pelo periódico na internet. O artigo, portanto, trata da indignação que sentimos quando, por exemplo, nos deparamos diante de não importa qual injustiça, nos impelindo, por seu teor, à reflexão.

Ao final do artigo, contudo, devido à data em que o publicou, a jornalista deseja boas festas aos seus leitores. Ocorre que o Natal e o Réveillon já passaram, visto hoje ser 2 de janeiro de 2011, mas, como muitos estendem as suas tradicionais confraternizações de final de ano até o Dia de Reis, comemorado no dia 6 de janeiro, o desejo da jornalista, sempre muito lúcida, aliás, está dentro do contexto, sendo escolha minha, entretanto, a charge que ilustra os limites, digamos assim, entre esta minha sucinta introdução – nem sei se necessária – e o artigo em questão. É isso!


Nathalie Bernardo da Câmara





 
10 RAZÕES PARA SE INDIGNAR

Por Ruth de Aquino


Um pequeno livro, quase um panfleto, de 30 páginas, tornou-se a sensação literária na França neste Natal. O nome do autor, Stéphane Hessel, não explica o sucesso. Sua idade, 93 anos, muito menos. São dois os motivos para o livro sumir das prateleiras. O preço baixo, de € 3 (R$ 7). E o título provocativo, Indignez-vous (Fique indignado). Por incitar os jovens ao não conformismo pacífico, Hessel virou uma celebridade pop. Lembra o candidato do PSOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio, de 80 anos.

Hessel nasceu em Berlim, de pai judeu escritor e mãe pintora. Foi para Paris aos 7 anos de idade. Na Segunda Guerra Mundial, lutou na Resistência contra o nazismo. Ajudou a redigir a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Suas causas hoje são o Estado palestino, o meio ambiente, os direitos dos imigrantes, a liberdade de imprensa e a batalha contra o mercado financeiro. “Meu fim não está muito longe”, escreve. “Desejo, a cada um de vocês, que tenham um motivo para se indignar. Isso é precioso.”

Uma pessoa indignada não é necessariamente raivosa. Indignar-se com a injustiça é estar alerta. “Os governos, por definição, não têm consciência”, escreveu o romancista Albert Camus, em 1954. Felizes são os homens e as mulheres que não aceitam passivamente os malfeitos dos governos e dos indivíduos. A indiferença nos faz menos humanos. A resignação pode nos tornar cúmplices.

Reduzir a lista abaixo depende da vontade política da presidente eleita e da atitude pessoal de cada um de nós. Eis 10 razões para se indignar no Brasil:

 
01. O número de analfabetos funcionais na oitava economia do mundo. Uma contradição provocada pela contínua falta de prioridade na educação fundamental e na qualidade da instrução;

02. Os absurdos privilégios dos deputados e senadores, que aprovam aumentos para si mesmos e, além do salário, dispõem de uma verba extra irreal. Com R$ 26 mil mensais, deveriam abrir mão das mordomias;

03. A influência excessiva da Igreja sobre o Estado laico brasileiro. Em assuntos como células-tronco, controle da natalidade ou descriminalização do aborto, por que a religião se sobrepõe a razões de saúde e ciência? Que se respeitem a fé e os ditames do Vaticano como opções individuais, mas não como condutores de políticas públicas;

04. A impunidade de assassinos confessos, como o jornalista Pimenta Neves. Com recursos em cascata permitidos por lei, quem tem dinheiro, prestígio e diploma se safa da prisão, mesmo depois de confessar crime hediondo e ser condenado por júri popular;

05. A agressividade no trânsito, que torna o Brasil recordista em mortes em acidentes. O antropólogo Roberto Da Matta acaba de escrever um livro sobre isso: “Dirigir com cautela no Brasil significa ser barbeiro, bobo e idiota”. Acelerar para assustar pedestres, fechar o outro veículo, entrar na vaga alheia, bloquear os cruzamentos, xingar. Não é assim no exterior;

06. A falta de educação da elite brasileira. Boa parcela de ricos desenvolve falta de educação associada à arrogância e à crença na impunidade. Joga lixo nas praias e da janela de carros importados, dá festanças ignorando a lei do silêncio, viola a legislação ambiental e sempre quer levar vantagem;

07. Os impostos escorchantes, que não resultam em benefício para a população carente. Cartéis punem o consumidor e tornam produtos e passagens aéreas no Brasil muito mais caros;

08. A falta de sistema de saúde pública que dê dignidade a quem precisa e aos mais velhos. Gente morrendo em fila de hospital ou por falta de leitos e médicos é inaceitável. Quantas CPMFs o governo exigirá?;

09. A falta de política de habitação decente para os mais pobres, mesmo com tantos prédios públicos vazios;

10. A inexistência de transporte de massas, num país que fez opção equivocada pelo carro. Metrôs e trens, ligados a uma rede de ônibus sem ranço de máfias, deveriam transportar todas as classes sociais.


Indigne-se, mas não seja chato. Contribua para a mudança. Melhor ser um indignado otimista que um resignado deprimido. Boas festas.









  

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