sábado, 22 de janeiro de 2011

PANAHI: RETROSPECTIVA III

FORA DO JOGO?

“Um cineasta ser preso é intolerável. Acredito que ninguém pode ficar indiferente em relação à situação nem pode abandonar a esperança. Quando um artista é preso, a arte está sendo atacada. Precisamos de explicações. Não posso entender como um filme pode ser considerado crime, principalmente se ele ainda nem foi feito...”.
 
Abbas Kiarostami
Cineasta iraniano, interrompendo o início da coletiva do filme Copie conforme (Cópia fiel), em maio de 2010, ao receber a informação de que o amigo, compatriota, roteirista e diretor Jafar Panahi, reconhecido pacifista e membro do Conselho Nacional pela Paz no Irã, mas, à época, aprisionado desde o início de março por acusações de “crimes não-especificados pelo governo do Irã”, estava fazendo greve de fome pelos maus tratos recebidos na prisão e pelas constantes ameaças contra a sua família.



Segundo a Anistia Internacional, a lista de cineastas iranianos de alguma forma silenciados pelo regime iraniano não é pequena. Quiçá, o fato de Panahi ser um roteirista e diretor renomado, tendo conquistado alguns prêmios em festivais internacionais de cinema, o seu caso esteja ganhando maior visibilidade, gerando mais repercussão, atraindo a atenção não somente de artistas e intelectuais, mas, também, de políticos e organismos internacionais engajados em causas humanitárias, bem como sensibilizando todos aqueles que, de alguma forma, se indignam diante de uma violência, não importa a sua motivação.

O fato é que, apesar de, em muitos casos, atribuírem certos atos violentos ao abuso de poder para que, a todo custo, possa se garantir a manutenção desse mesmo poder, que, a priori, se traduz no sonho de consumo da ganância, toda e qualquer violência é, na verdade, um reflexo de uma mente insana, seja por um curto espaço de tempo ou mesmo um maior, a exemplo de surtos psicóticos – insanidade essa que tanto pode ser genética ou adquirida, no caso, por um fanatismo religioso. Bom! Com esse meu devaneio, digamos assim, queria apenas refletir sobre o alto grau de periculosidade das autoridades iranianas, no mínimo desencadeada por uma aguda esquizofrenia...

Digo isso porque, quando foi em preso em 2010, Panahi foi acusado de produzir um filme sem a autorização do governo do Irã... O cineasta Abbas Kiarostami, por sua vez, questionou: “Não posso entender como um filme pode ser considerado crime, principalmente se ele ainda nem foi feito...”. Enfim! Entre a prisão de um e a declaração do outro, um episódio que se passou no presídio complementa claramente o meu raciocínio. Ou seja, através de uma ligação telefônica da prisão, feita em março por Panahi para a sua esposa, ele relatou que, em uma manhã de domingo, o levaram para a sala de interrogatório e o acusaram de estar filmando dentro da cela...

E eu perguntaria: isso é ou não, por parte das autoridades iranianas, um reflexo de insanidade mental? Afinal, convenhamos – e bastam dois neurônios para saber disso –, como o cineasta, ele ou qualquer outro, poderia rodar um filme, independentemente do tema, em condições tão adversas, não dispondo sequer de um celular com câmera em uma cela de cadeia? Urge, portanto, depois da sua última prisão em dezembro passado, que os apelos para a libertação de Panahi se intensifiquem e que ações sejam implementadas, nem quem sejam embargos de não importa qual natureza ao Irã, a fim de coibir tamanhas injustiças.

E isso porque o próprio ministro da Cultura para Assuntos Cinematográficos, Javad Shamaqdarii, já deixou bem claro – e isso desde o ano passado – as medidas que deveriam ser tomadas para restringir ainda mais a liberdade de criação dos artistas iranianos como um todo. No caso dos cineastas, aquele que ousar exibir os seus filmes no exterior, sem a prévia autorização das autoridades do Irã, bem como atores e técnicos que colaborarem em gravar filmes sem as devidas permissões do governo, serão devidamente punidos. À época de tal declaração, um documentarista, que pediu para não ser identificado, disse: — Querem evitar que a gente divulgue uma imagem do país diferente da oficial.

Tentando justificar o injustificável, que são as medidas restritivas à produção cinematográfica do Irã, Shamaqdarii diz que os cineastas iranianos “podem dialogar com a nossa gente através dos seus filmes, mas eles iriam contra os nossos interesses nacionais se quisessem dialogar com estrangeiros sobre assuntos delicados (quais, mesmo?), o que devemos evitar”, acrescentando: “Podemos confiar na nossa gente, não nos estrangeiros”. Sei não, mas, se isso não for ser uma mente obtusa eu já não sei mais de nada... Sem falar que vivemos em uma época onde a informação, incluindo, sobretudo, a internet, anda a rodar mais rápido do que pião de cego.

Falando em limitação... Que o diga a letra da canção Si se calla el cantor (1977), de autoria do compositor, cantor e escritor Horacio Guarany, arrebatadoramente interpretada pela cantora Mercedes Sosa (1935 - 2009) e pelo compositor, cantor, violinista e escritor Atahualpa Yupanki (1908 - 1992) – um belíssimo trio argentino, que fez da canção um hino de resistência à ditadura militar na Argentina (1976 - 1983). É, pelo visto, é isso o que estão querendo fazer com o iraniano Panahi, ou seja, calar a voz do cineasta, calando, assim, a voz do Irã, mas a voz de um Irã que se quer liberto do jugo da tirania, que só sabe gritar, berrar, se impondo através da força, ao invés do diálogo, do entendimento, da democracia. Só que, como diz a canção, si se calla el cantor... calla la vida.


Nathalie Bernardo da Câmara

 
 
 
 
A Poderosa arma da mordaça
 
Por Ivonete Pinto*


Abbas Kiarostami é o cineasta iraniano de maior prestígio no exterior, tendo recebido a Palma de Ouro em Cannes por Gosto de Cereja (Tam’e Guilass, 1997). No último Festival de Cannes, exibiu Cópia Fiel (2010) seu filme mais ocidental com uma produção francesa e italia, que deu a Juliette Binocche o prêmio de melhor atriz no tradicional evento francês.

A importância de Kiarostami no cenário internacional pode não resultar em bilheteria, já que seus filmes não conseguem nem ser lançados aqui no Irã, onde estou em viagem, mas suas palavras repercutem, suas opiniões, em especial junto aos jovens, alcançam ressonância considerável. Por isso, havia uma expectativa muito grande em saber o que o diretor de Através das Oliveiras (1994) pensa sobre a sentença recebida pelo cineasta Jafar Panahi, condenado a seis anos de prisão e 20 anos sem poder filmar pelo regime de Ahmadinejad.

Panahi, que também coleciona prêmios em festivais internacionais – como o Leão de Ouro em Veneza por O Círculo (Dayereh, 2000) –, apresenta um estilo diferente de Kiarostami quanto à forma. Trabalha menos com metáforas e experimentação de linguagem e mais com críticas diretas ao regime dos aiatolás.

Em O Círculo, denunciava a realidade de uma sociedade por trás dos véus – a existência da prostituição, que o governo tenta negar. Em Fora de Jogo (Offside, 2006), mostrou a absurda situação de uma jovem que adora futebol, mas não pode entrar num estádio, vetado às mulheres. Em Ouro Carmim (Talaye Sorkh, 2004), um entregador de pizza, doente em desespero, assalta uma joalheria e acaba morrendo de forma trágica.

Os avanços, em termos de liberdade, alcançados nos dois períodos do ex- presidente Khatami foram por água abaixo com Ahmadinejad. A rejeição desse presidente, que superaria os 90%, levou a população às ruas, e foi nesse contexto que Panahi se tornou uma voz eloquente. Inúmeras pessoas (ninguém sabe ao certo quantas) estariam presas, mas Panahi é o nome mais conhecido.

Depois de meses de cárcere e, mais tarde, de prisão domiciliar, aguardando julgamento, em 20 de dezembro foi divulgada a sentença: seis anos de prisão e 20 anos sem poder filmar nem dar entrevista para a imprensa estrangeira ou a iraniana.

Enquanto isso, o país, que vive uma gigantesca crise econômica, assiste ao governo cortar em 50% os subsídios para alimentos, energia elétrica e gasolina.


Clima no país reflete o desgosto dos iranianos com Ahmadinejad


Ou seja, o clima no Irã não está dos melhores. Por um lado, um aumento geral de preços, por outro, a volta da perseguição política mais ferrenha, que remonta aos tempos do início da revolução liderada pelo aiatolá Khomeini. E é nesse clima que foi realizada a exibição do mais novo filme de Kiarostami, Sea Egg. Foi no último dia 28, no Tehran’s Mellat Cinema, um complexo de salas de dar inveja a qualquer país. A sessão foi seguida de palestra com direito a perguntas mediadas pelo crítico Alireza Sami- Azar.

Na verdade, não houve propriamente uma palestra, pois Kiarostami costuma ser reticente sobre o significado de seus filmes. Tão logo falou um pouco sobre a produção, alguém da plateia o interrompeu, querendo saber quais metáforas estavam em jogo numa produção que mostra apenas as ondas do mar batendo violentamente contra um rochedo onde estão três ovos pertencentes a aves das quais só ouvimos os sons. Apesar da violência descomunal das ondas, os ovos não se quebraram, apenas são deslocados de lugar.

A resistência dos pequenos ovos implica metáforas perfeitas para o atual momento político. Outras questões iam sendo feitas na tentativa de que Kiarostami falasse mais abertamente sobre essas metáforas.

Perguntei ao amigo iraniano que traduzia para mim o debate se eu poderia tocar no nome de Panahi. Ele respondeu que eu era a única pessoa naquela plateia que poderia perguntar sobre ele. Afinal, o evento era realizado num lugar público, com várias autoridades ligadas à cultura presentes, além da imprensa. Com a ajuda do tradutor, perguntei então a Kiarostami se ele tinha intenção de iniciar algum movimento, dentro e fora do Irã, para conseguir a libertação do colega de trabalho.

Alguns segundos de silêncio e Kiarostami fala pela primeira vez no Irã sobre a prisão de Panahi. E fala, também para minha surpresa, de forma direta, sem rodeios. Disse que, em princípio, é contrário a movimentos, pois não acredita neles como estratégia para conseguir algo. Mas que, diante de situação tão absurda, tão inaceitável, não sabia o que pensar, muito menos como agir.

– Como é possível prender um diretor de cinema por um filme que ele sequer filmou? Não há uma imagem editada sequer desse filme que Panahi está sendo acusado de fazer.

Kiarostami contou também que nunca em sua vida, isto é, nem na época do Xá, viu alguém ser impedido de trabalhar, de exercer seu ofício por 20 anos. Encerrou afirmando que estava chocado e que não sabia o que fazer.

Nos jornais do dia seguinte, conforme me contam os amigos iranianos, nenhuma palavra sobre Panahi e a repercussão internacional do caso. Falavam apenas dos ovos sendo atacados pelas ondas do mar.

*Jornalista e crítica de cinema brasileira, que, em viagem ao Irã, obteve do cineasta Abbas Kiarostami um corajoso depoimento, publicado no Diário Catarinense no dia 15 de janeiro de 2011, criticando a condenação do colega Jafar Panahi.




PANAHI: RETROSPECTIVA II

PERSONA NON GRATA?

 
“Virei uma militante, malgré moi. Não se trata de querer, mas de necessidade. Muitas vezes, senão sempre, a gente tem de tomar partido. A prisão de Jafar [Panahi] é uma ofensa à minha inteligência e sensibilidade. Um país precisa de seus artistas, o Irã precisa dele. Como não lutar por sua integridade artística e humana?”.

Juliette Binoche
Atriz francesa, ganhadora da Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema de Cannes de 2010 pela sua interpretação em Copie conforme (Cópia fiel), do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, 70, em resposta ao jornalista e crítico de cinema brasileiro Luiz Carlos Merten, enviado especial do jornal O Estado de São Paulo, há 540 dias sob censura, que perguntou se ela havia virado a militante política do evento, já que, durante a coletiva do filme, quando a equipe tomou conhecimento que o roteirista e diretor iraniano Panahi, prisioneiro do governo do Irã desde o início de março por acusações de “crimes não-especificados”, estava fazendo greve de fome, ela desatou em lágrimas, que correram o mundo, sensibilizando a opinião pública. Assim, ao receber o troféu na solenidade da entrega dos prêmios do Festival de Cannes, ela não hesitou e, solidária com o drama de Panahi, exibiu uma plaquinha com o nome do cineasta e – não havia melhor ocasião – clamou as autoridades iranianas por sua libertação.



Durante, ainda, o Festival de Cannes de 2010, o ministro francês da Cultura, Frédéric Mitterrand, leu uma carta escrita da prisão pelo iraniano Jafar Panahi, na qual o cineasta justifica o motivo de não poder comparecer ao evento, já que havia sido convidado para integrar o júri internacional que elegeria o vencedor da Palma de Ouro, alega inocência e diz que não assinará confissão alguma as autoridades iranianas, nem sob ameaças, e agradece a França por apoiar a sua libertação, acrescentando que, além dele, milhares de outros presos inocentes existem no Irã e que também devem lembrados – dias antes, o Ministério das Relações Exteriores da França, juntamente com o Ministério da Cultura, divulgou uma nota condenando o Irã pela prisão de Panahi, um dos representantes mais reconhecidos do cinema iraniano. Assinada pelos ministros Bernard Kouchner e Frédéric Mitterrand, a declaração pedia a libertação imediata do cineasta e que as autoridades iranianas respeitassem o direito fundamental à liberdade de expressão e de criação.

De fato, o Festival de Cannes de 2010 foi praticamente uma tribuna de ativistas pelos direitos humanos. Já na sua abertura, outro exemplo, a atriz franco-britânica Kristin Scott Thomas remarcou que a cadeira vazia ao lado das dos demais jurados seria a de Panahi, “preso em seu país contra a sua vontade”, enquanto o presidente do júri da mostra competitiva, o diretor norte-americano Tim Burton, pediu a libertação do cineasta iraniano, que, inclusive, teve um curta-metragem exibido em um dos dias do evento, no qual ele descreve o interrogatório ao qual foi submetido antes da prisão e as ameaças que sofreu, bem como mencionou o questionamento feito por um policial que quis saber o motivo da sua permanência no Irã: — Por que não vai fazer filmes no exterior?


Deu no twitter: Free Panahi!
O diretor iraniano foi condenado a 6 anos de prisão
(e a 20 anos sem poder exercer sua profissão)....
 


Eu, particularmente, se morasse no Irã, não pensaria duas vezes... Bom! As autoridades do Irã, por sua vez – nenhuma novidade –, sequer respondeu, oficialmente falando, aos pedidos feitos durante o Festival de Cannes para que Panahi fosse libertado. O fato, como se sabe, é que a sua tão clamada libertação veio – resultado, provavelmente, de um somatório de fatores: os protestos oriundos dos quatro cantos do mundo contra a sua prisão, a sua greve de fome, o encerramento da edição do Festival de Cannes, da qual Panahi seria júri... E só por isso! Não porque as autoridades do Irã tiveram um insight e chegaram à conclusão de que, de fato, não tinha provas para manter encarcerado um homem inocente. Ou seja, não tinha como especificar os supostos crimes que, porventura, ele havia cometido, visto que, a bem da verdade, ele não cometera nenhum. Ocorre que, como também já se sabe, a medida – a sua soltura – foi apenas retardada, afim de que o cineasta não comparecesse ao Festival de Cannes. Assim, preso, teria uma justificativa para a sua ausência...

Quanto a sua libertação, por pouco tempo. Afinal, não demorou muito, a tirania islâmica refez o seu arsenal de maldades e, ao longo dos últimos meses de 2010, foi, sistematicamente, destilando o seu fel contra o cineasta. Tanto que, em setembro, embora tecnicamente liberto, Panahi foi proibido de pôr os pés no Festival Internacional de Cinema de Veneza, que o esperava para fazer as honras da casa, abrindo o evento com a exibição de um dos seus curtas-metragens, O Acordeão, rodado em Teerã – uma opção política, já que, segundo o cineasta, o filme “reflete as minhas emoções e expressa a minha maneira de observar a realidade”, declarou em um comunicado. Fortemente engajado politicamente, Panahi disse, ainda, que é um cineasta que dá muita atenção aos assuntos sociais e o que acontece ao seu redor. Não é de se estranhar, portanto, que as autoridades iranianas tenham boicotado a sua ida ao mais antigo festival da História do cinema, ainda mais quando um dos seus filmes, estava programado para ser exibido na abertura do evento.

Enfim! Panahi não foi a Cannes nem a Veneza... O que mais poderia lhe acontecer? Aconteceu que, em outubro, uma nova represália o surpreenderia: o seu passaporte é confiscado. Deixar o Irã pelas vias legais? Nem pensar! A não ser que picasse a mula, atravessando as fronteiras iranianas sabe-se lá como e buscasse refúgio em algum lugar que respeitasse os seus direitos fundamentais e os civis, permitindo que ele respirasse livremente e pudesse manifestar as suas opiniões sem censura e sem que nenhum tirano ousasse cercear a sua liberdade de pensamento e expressão. Infelizmente, ele não o fez e, não demorou muito, o sistema iraniano enquadrou-o sem piedade. Em dezembro, segundo a advogada do cineasta, eis que o “veredicto pesado” de um sistema judiciário caduco desaba sob a cabeça de Panahi, tal qual uma guilhotina, decepando, de vez, as suas aspirações de liberdade: respondendo por uma acusação no mínimo esdrúxula, ele foi condenado a seis anos de prisão e a vinte de inatividade: nada de escrever roteiros, realizar filmes, dar entrevistas, deixar o país...

Resumindo: o cineasta foi condenado ao degredo em seu próprio país. Porém, a exemplo dos episódios anteriores, envolvendo as perseguições sofridas pelo cineasta, a última sentença repercutiu e uma nova onda de protestos se fez ouvir no mundo, reverberando, óbvio, no Irã. Ou será que o presidente Mahmoud Ahmadinejad, 54, não ouviu? Por acaso ele usaria tampões nas orelhas vinte e quatro horas por dia, impossibilitando lhe chegar aos ouvidos a voz daqueles que têm como pressuposto de vida a liberdade? O pior é que, apesar da onda de protestos persistir, a omissão das autoridades iranianas em relação ao caso Panahi passa a idéia – péssima, aliás –, de que o véu da censura no Irã é ainda mais intransponível do que as muralhas da China... Enfim! De nada adiantou a leitura, durante o julgamento, pelo menos para as autoridades iranianas, que o próprio réu fez de uma declaração* que ele mesmo havia escrito para a ocasião, independentemente da presença da advogada e da sua respectiva defesa: a tirania venceu mais esse round, mas, um dia, ela haverá de cair.

*Abaixo, a declaração escrita e lida por Panahi...
 


Nathalie Bernardo da Câmara

 
 
"Julgar-nos é julgar todo o cinema social iraniano"


Ilmo. Sr. Juiz, permita-me apresentar minha defesa em duas partes distintas.


Primeira parte: o que se diz

Nos últimos dias, revi vários de meus filmes preferidos da história do cinema, embora grande parte de minha coleção tenha sido confiscada durante o ataque à minha residência, ocorrido na noite de 19 de fevereiro de 2009. Na verdade, o Sr. Rassoulof e eu estávamos rodando um filme do gênero social e artístico quando as forças que alegavam fazer parte do Ministério da Defesa, sem apresentar nenhum mandado de busca oficial, a um só tempo nos prenderam, bem como a todos os nossos colaboradores, e confiscaram todos os meus filmes, que nunca me foram restituídos posteriormente. A única alusão feita a esses filmes foi a do juiz de instrução do processo: "Por que essa coleção de filmes obscenos?"

Gostaria de esclarecer que aprendi meu ofício de cineasta inspirado por esses mesmos filmes que o juiz chamava de “obscenos”. E, acredite, não sou capaz de entender como um adjetivo como esse possa ser atribuído a tais filmes, assim como sou incapaz de compreender como se pode chamar de “delito de opinião” a atividade pela qual hoje querem me julgar. Julgam-me, na verdade, por um filme que ainda não tinha nem o seu primeiro terço rodado quando fui preso. O senhor certamente conhece a expressão que diz que pronunciar apenas metade da frase "não existe nenhum deus além do grande Deus” é sinônimo de blasfêmia. Então, como se pode julgar um filme antes mesmo que ele esteja pronto?

Não sou capaz de entender nem a obscenidade dos filmes da História do cinema nem a acusação que é proferida contra mim. Julgar-nos é julgar todo o cinema engajado, social e humanitário iraniano; o cinema que pretende se posicionar para além do Bem e do Mal, o cinema que não julga e que não se põe a serviço do poder e do dinheiro, mas que dá o melhor de si para apresentar uma imagem realista da sociedade.

Acusam-me de ter desejado promover o espírito de tumulto e de revolta. No entanto, ao longo de toda a minha carreira de cineasta, sempre me declarei um cineasta social e não político, dotado de preocupações sociais e não políticas. Nunca desejei atuar como um juiz ou um procurador; não sou cineasta para julgar, mas para fazer enxergar; não pretendo decidir pelos outros nem prescrever-lhes o que quer que seja. Permita-me repetir minha intenção de posicionar meu cinema para além do Bem e do Mal. Esse tipo de engajamento sempre custou caro a meus colaboradores e a mim mesmo. Sofremos os prejuízos da censura, mas é a primeira vez que se condena e prende um cineasta para impedi-lo de fazer seu filme. Também pela primeira vez é feita uma perquisição na casa do referido cineasta e sua família é ameaçada enquanto ele passa uma “estadia” na prisão.

Acusam-me de ter participado de manifestações. A presença de câmeras era vetada durante essas reuniões, mas não se pode proibir que cineastas participem delas. Minha responsabilidade enquanto cineasta é observar para, um dia, manifestar o que vi.

Acusam-nos de ter começado as filmagens sem solicitar a autorização do governo. Devo esclarecer que não existe nenhuma lei promulgada pelo Parlamento que se refira a tais autorizações. Na verdade, existem apenas circulares interministeriais, que mudam à medida que mudam os vice-ministros.

Acusam-nos de ter começado as filmagens sem apresentar o roteiro aos atores do filme. Nosso modo de fazer cinema, que recruta principalmente atores, não profissionais, adota essa prática costumeiramente. Tal acusação me parece muito mais um produto do humor deslocado do que do setor jurídico.

Acusam-me de ter assinado petições. De fato, assinei uma petição na qual 37 dos nossos mais importantes cineastas declaravam sua inquietação quanto à situação do país. Infelizmente, em vez de ouvir esses artistas, acusam-nos de traição; e, no entanto, os signatários dessa petição são justamente as pessoas que sempre reagiram primeiro às injustiças do mundo todo. Como desejam que eles permaneçam indiferentes ao que acontece dentro de seu próprio país?

Acusam-me de ter fomentado manifestações no festival de Montreal; essa acusação não se baseia em lógica alguma, já que, enquanto diretor do júri, eu estava em Montreal havia apenas duas horas quando as manifestações começaram. Sem conhecer ninguém na cidade, como eu poderia ter organizado tais eventos? Talvez não se faça um esforço para lembrar, mas, durante esse período, nossos compatriotas se reuniam a fim de manifestar suas exigências.

Acusam-me de ter participado de entrevistas com as mídias de língua persa de fora do meu país. Mas não existe nenhuma lei proibindo tal ato.


Segunda parte: o que eu digo

O artista representa o espírito observador e analista da sociedade à qual ele pertence. Ele observa, analisa e procura apresentar o resultado disso em forma de obra de arte. Como se pode acusar e incriminar quem quer que seja em função de seu espírito e de sua maneira de enxergar as coisas? Tornar os artistas improdutivos e estéreis é sinônimo de destruir todas as formas de pensamento e de criatividade. O ataque efetuado à minha residência e a minha prisão e a de meus colaboradores representam o ataque do poder contra todos os artistas do país.

A mensagem transmitida por essa série de ações me parece bem clara e triste: quem não pensa como nós se arrependerá…

Finalmente, gostaria também de lembrar ao Tribunal outra ironia que diz respeito a mim: o espaço dedicado a meus prêmios internacionais no museu de cinema de Teerã é maior que minha cela penitenciária.

Seja lá como for, eu, Jafar Panahi, declaro solenemente que, apesar dos maus-tratos que ultimamente tenho sofrido de meu próprio país, sou iraniano e quero viver e trabalhar no Irã. Amo meu país e já paguei o preço por esse amor. No entanto, tenho outra declaração a acrescentar à primeira: sendo meus filmes provas irrefutáveis disso, eu declaro acreditar profundamente na observância das leis “dos outros”, da diferença, do respeito mútuo e da tolerância - a tolerância que me impede de julgar e de odiar. Não sou tomado de ódio nem mesmo pelos meus interrogadores, porque reconheço minha responsabilidade para com as gerações futuras.

A História com “H” maiúsculo é muito paciente; as pequenas histórias passam diante dela sem se dar conta de sua insignificância. De minha parte, preocupo-me com essas gerações futuras. Nosso país está muito vulnerável e somente a instauração do Estado de direito para todos, sem nenhuma consideração étnica, religiosa ou política, pode nos preservar do perigo bem real de um futuro próximo caótico e fatal. Em minha opinião, a tolerância é a única solução realista e honorável a esse perigo iminente.

Com meus sinceros respeitos, Ilmo. Sr. Juiz

Jafar Panahi, Cineasta Iraniano











PANAHI: RETROSPECTIVA I

ADEUS AS ILUSÕES?

 “[Os cineastas iranianos Abbas Kiarostami, 70, Moshen Makhmalbaf, 67, e Jafar Panahi, 50] fizeram a cabeça de muita gente mundo afora, inclusive no Brasil...”.
 
Luiz Zanin
Jornalista e crítico de cinema  brasileiro
 
 
 
Os trechos de uma entrevista transcrita abaixo, concedida pelo renomado e premiado cineasta iraniano Jafar Panahi ao jornalista brasileiro Raul Juste Lores, enviado especial do jornal Folha de S. Paulo a Teerã, e publicada no dia 18 de fevereiro de 2009, poderia, de certa forma, ser um registro de um marco na vida do entrevistado, já que, até então, embora já soubesse o quão pode ser pesada a carga de periculosidade da censura e conhecesse de perto as suas conseqüências funestas, ele não poderia imaginar que, poucos meses depois, em junho, com a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, 54, à presidência da República Islâmica, o episódio iria legar provações revestidas com novos contornos.
 
Afinal, apoiando publicamente o candidato Mirhossein Mousavi, 68, declaradamente de oposição, que iria acusar o pleito de fraudes, o cineasta, por sua vez, seria igualmente acusado de produzir um filme sobre os protestos contra o resultado das eleições, motivo que, pelo menos aparentemente, desencadeou a via-crúcis na qual, daquele momento em diante, se transformaria a sua vida: mais acusações, prisões, maus tratos, greve de fome, interdições, mais censura...
 
Enfim! Tudo culminando com uma acusação de “delito de opinião” e a sua condenação, por um tribunal iraniano, em dezembro de 2010, a seis anos de detenção e vinte de inatividade, ficando terminantemente proibido de escrever roteiros, realizar filmes, conceder entrevistas e viajar para fora do Irã – sentença, inclusive, que causou a maior comoção na comunidade cinematográfica mundial, bem como em todos aqueles que defendem os direitos humanos, a liberdade de pensamento e de expressão e repudiam todas as formas de injustiça e tirania...
 
Ocorre que, à época da entrevista, apesar de ser considerado o cineasta mais político e crítico do Irã, Panahi já estava, segundo o repórter Raul Juste Lores, há quatro anos sem filmar, pois, desde a chegada de Ahmadineiad ao poder, em 2005, ele não conseguia aprovação da censura para os seus roteiros. Uma curiosidade, contudo, é que, de todos os seus filmes, apenas o primeiro, O Balão branco (1995), inclusive agraciado no Festival de Cannes com o Câmera d’Or, prêmio reservado a estreantes, foi exibido no Irã. Os demais, por sua vez, proibidos pela censura de serem vistos no país.
 
São eles: O Espelho (1997), vencedor do Leopardo de Ouro do Festival de Locarno; O Círculo (2000), “um drama vigoroso sobre os maus-tratos às mulheres iranianas”, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e após o qual Panahi passou a ser conhecido como “o cineasta maldito do regime” islâmico; Ouro carmim (2003), eleito o melhor filme da mostra Un certain regard do Festival de Cannes e Fora do jogo (2006), Grande Prêmio do Júri e Urso de Prata do Festival de Berlim, além dos seus curtas.
 
Enfim! Foi em sua casa, um apartamento em Teerã, que Panahi recebeu a Folha, embora se justificando por, à ocasião, assistir a um episódio da temporada 24 Horas: “Já que não me deixam filmar, assisto a seriados americanos”, disse. Curioso... Como isso é possível no Irã? Bom! Aos cinéfilos do Brasil, onde, aliás, toda a obra do cineasta iraniano já foi exibida e onde ele já esteve três vezes, bem como aos de demais nacionalidades, eis, portanto, os trechos da referida entrevista disponibilizados pelo jornal na internet.



Nathalie Bernardo da Câmara






“Censura total no Irã é inviável”, diz cineasta


Por Raul Juste Lores*

 
Censura e Ahmadinejad:
Jafar Panahi – Desde que Ahmadinejad chegou ao poder [em 2005] não consigo filmar. Há quatro anos não tenho autorização. Todas as minhas ideias e roteiros são rejeitados pelo governo. Sem permissão, você não filma. Os cinemas só exibem o que o governo deixa, e os sete canais de TV são estatais. É um monopólio. Mas não foi só o cinema que piorou com Ahmadinejad, muitas outras coisas pioraram.


Sistema ideologizado:
JP – Não faço cinema político, faço cinema social. O filme político diz quem é bom e quem é ruim, como os partidos políticos. Quem concorda com eles é bom, quem discorda é ruim. O problema é que tudo faço aqui é visto como político. Em um sistema tão ideologizado, se você não concorda com eles, não frequenta os eventos do governo, você vira político. No cinema social, não tem preto, branco, tem cinza.


Filmes com crianças:
JP – Todos os meus filmes foram proibidos no Irã, com exceção de O Balão branco. Mesmo antes da Revolução Islâmica, cineastas driblavam a censura fazendo filmes com crianças. A censura não dá bola para filmes com crianças. Mas eles falam de temas adultos. São “com” crianças, não para crianças.


Mulheres e limites:
JP – Decidi não voltar a filmar com crianças em O Círculo. Gosto de falar de limites, obstáculos. Então, era natural fazer um filme sobre as mulheres iranianas. Causou muita polêmica, todos os jornais estatais me atacaram. O governo queria que eu cortasse 18 minutos de cenas “inconvenientes” e não aceitei. A partir daí, meus filmes não puderam ser exibidos nos cinemas daqui.


Parabólicas piratas:
JP – Os iranianos acabam vendo meus filmes pelas cópias piratas, a US$ 1, que são vendidas em todo o canto. Apesar de proibidas, eu diria que 90% dos iranianos têm parabólicas hoje, dos mais ricos aos mais pobres. Todo o mundo vê canais internacionais de televisão, o controle da informação ficou difícil. O governo teria que prender o país inteiro.


Revolução errada:
JP – Jovens não poderiam ser jovens pela lei do Irã - tudo é tão surreal que para onde você olhe, há ideia de um novo filme. Sou otimista com a nova juventude, que não aceita certas imposições do governo e as está driblando. Minha geração fez a revolução, ajudamos a derrubar o xá, mas logo percebemos que essa revolução estava errada. Saímos de um regime sem democracia para outro. Não mudou o fundo. A nova geração não quer mais revolução.


Exílio e comércio:
JP – Muitos cineastas imigraram, alguns estão fazendo outras coisas. Recebi uma proposta de Hollywood. Talvez aceite. Hoje, no Irã, há um ou dois filmes bons por ano, aprovados pelo governo. Mas 99% do cinema iraniano é comercial. Divide-se em dois tipos: garota sofrida se apaixona por garoto, passam por desencontros e terminam juntos. Ou homem casado conhece outra e fica com duas esposas. Tudo sem beijo.

*Enviado especial da Folha de S. Paulo a Teerã





quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CINEMA MUDO


“As contribuições do Irã ao cinema internacional foram justamente reconhecidas e encorajaram a pessoas de fora do país a respeitar e apreciar a sua gente e as suas histórias. Como os artistas em qualquer lugar, os cineastas iranianos deveriam ser celebrados, não censurados, reprimidos e presos...”.

Passagem de uma carta assinada por produtores e cineastas no dia 30 de março de 2010, exigindo ao governo do Irã que libertasse o roteirista e diretor de cinema iraniano Jafar Panahi, 50, preso, à época, no início do referido mês, acusado de produzir um filme sobre os protestos contra o resultado das eleições de 12 de junho de 2009, acusadas de fraude pelo candidato de oposição, Mirhossein Mousavi, 68, apoiado publicamente pelo cineasta, sendo o pleito, portanto, favorável a Mahmoud Ahmadinejad, 54, que foi reeleito para a presidência da República Islâmica. Na prisão, onde ficou durante oitenta e oito dias, Panahi fez greve de fome, argumentando que não queria servir de “cobaia” para ser submetido “a todo tipo de tortura mental e física”, bem como para alertar a comunidade internacional da censura imposta pelo regime iraniano à classe cinematográfica do país. Os protestos contra a sua prisão arbitrária pipocaram por toda parte e, mediante o pagamento de uma fiança, ele foi liberto.




Em comunicado divulgado nesta terça-feira, 18, os organizadores do Festival de San Sebastián, na Espanha, manifestaram o seu apoio aos cineastas iranianos Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof, condenados em dezembro de 2010 - a sentença foi entregue no dia 18 - a seis anos de prisão. No caso de Panahi, um adicional de vinte anos sem escrever roteiros, realizar filmes, conceder entrevistas à imprensa internacional e a nacional, do próprio Irã, além de não poder viajar ao exterior. Os organizadores do evento declararam, ainda, que a condenação é “um gravíssimo atentado à liberdade de expressão” dos cineastas e aos seus direitos individuais, repudiando a pena que lhes foi imposta.

Segundo a advogada de Panahi, Farideh Gheyrat, o renomado cineasta, figurinha fácil nos festivais internacionais de cinema, ganhador, inclusive, de inúmeros prêmios, recebeu “a sentença de prisão por agir e fazer propaganda contra o sistema” do Irã, não sendo, portanto, a primeira vez que é condenado e preso por seu governo, já que o havia sido em 2009, como foi descrito na epígrafe deste post. No ano seguinte, em fevereiro, acusado de conspiração e propaganda contra o governo iraniano, foi proibido de participar do Festival de Berlim, onde participaria de um painel cujo tema era: Cinema iraniano: Presente e futuro. Expectativas dentro e fora do Irã.

Em março, acusado de “crimes não-especificados” – acusações posteriormente revisadas –, Panahi teve a sua casa invadida pela milícia iraniana, que confiscou a sua coleção de obras cinematográficas. À ocasião, juntamente com outras pessoas, ele foi detido e preso, já que a censura tem sido uma das características do atual governo do Irã. Em outubro, teve o passaporte confiscado pelas autoridades iranianas e, em novembro, foi a julgamento, acusado de fazer um filme sem autorização das autoridades iranianas. No tribunal, o cineasta denunciou ser vítima de injustiças e disse que, em setembro, foi impedido de comparecer ao Festival de Cinema de Veneza.

Uma censura implacável, que, há cerca de cinco anos, proíbe Panahi de exercer a sua profissão, bem como há dez veta a exibição dos seus filmes no Irã. Enfim! No dia 20 de dezembro, selando o seu destino, o “veredicto pesado”, segundo a advogada do cineasta: seis anos de prisão e vinte de inatividade – pena em nada leve, diferentemente das anteriores. Só que a comunidade cinematográfica internacional, solidária com o realizador iraniano, reagiu, redigindo, indignada, uma carta que, além de reivindicar as autoridades do Irã a libertação imediata de Panahi e de Rasoulof, acusa o governo iraniano de construir uma “máquina de guerra” para destruir, encarcerar e silenciar Panahi.

Enquanto isso, sensível ao drama dos cineastas iranianos, o diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Dieter Kosslick, alerta que “o direito irrestrito de se reunir, a liberdade de discursar e opinar não são apenas parte da convenção dos direitos humanos internacionais, que o Irã assinou, mas, também, parte da Constituição Iraniana”, acrescentando, ao se referir a Panahi: “É chocante que um renomado diretor seja punido tão severamente por seu trabalho artístico”. Confiante, contudo, na anulação da sentença, Kosslick convidou o cineasta para integrar o júri internacional da próxima edição do Festival de Berlim, que terá início no dia 10 de fevereiro.

Porém, em protesto, já que Panahi estará provavelmente impossibilitado de comparecer ao evento, uma cadeira vazia ficará simbolicamente a sua espera no júri de um dos festivais de cinema mais concorridos. Nesta terça-feira, 18, contudo, Kosslick divulgou que, de qualquer modo, em um gesto de solidariedade, o iraniano será homenageado durante o evento com a exibição, no dia da Revolução Iraniana, 11, de Offside (Fora do jogo), que trata do universo feminino no futebol, Grande Prêmio do Júri e vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim em 2006. Enfim! Dias atrás, a diplomata Catherine Ashton, pediu soluções definitivas para o affaire iraniano.

Representante da União Européia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança de caráter permanente, Ashton solicitou ao governo do Irã que anule a sentença do cineasta Jafar Panahi, cujo castigo adicional irá impedi-lo de exercer o seu direito fundamental à livre expressão. À ocasião, ela aproveitou para comunicar que também espera notícias positivas do também cineasta iraniano Mohammad Nourizad, 58, encarcerado desde abril de 2010. Para a diplomata, certas sentenças “não são compatíveis” com os compromissos firmados pelo Irã em diferentes convenções internacionais, entre as quais, a Convenção Internacional de Direitos Civis e Políticos.

E ela ressaltou, ainda, que as penas imputadas aos cineastas apenas maculam “a importante reputação internacional” do cinema iraniano. O pior, contudo, é que, nem mesmo assim, o governo do Irã reconhece as vantagens de apoiar os seus cineastas. Exemplo disso é que, em maio de 2010, após a segunda prisão de Panahi, o vice-ministro da Cultura para Assuntos Cinematográficos do Irã, Javad Shamaqdarii, declarou que o governo do seu país decidiu ampliar a censura a diretores e filmes iranianos, inclusive proibindo a exibição dos seus filmes em festivais internacionais sem prévia autorização do governo. Isso, sim, é que é ditadura! O que, aliás, não é nenhuma novidade. 

Afinal, não é de se estranhar, já que, não é de hoje, as autoridades iranianas nunca gostaram mesmo que a porção gangrenada do seu governo fosse exposta ao mundo. Só que até quem tem dois neurônios sabe que a censura, a repressão e todas as formas de violência são reflexos de mentes fracas, obtusas, sem discernimento, bem como de corações empedernidos, que só recorrem à força bruta porque são destituídos de humanidade – daí a tirana... Bom! Igualmente indignada com a sentença recebida por Panahí e Rasoulof, a Associação Portuguesa de Realizadores - APR condenou a “prática prepotente do governo iraniano, que atinge fortemente os direitos do homem”.

Em seu comunicado, a APR aproveitou para disponibilizar o link do site de uma petição que anda a circular na internet, pedindo a libertação imediata dos dois realizadores iranianos. Encabeçada por diversas entidades do cinema europeu, entre elas o Festival de Cannes, a Cinemateca francesa, a Cinemateca Suíça, a revista Cahiers du Cinéma, a Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza, Festival de Cinema de Sarajevo, entre outros, a petição, em francês, inglês e persa, faz um apelo a atores, diretores, roteiristas e a “todas as pessoas que amam a liberdade” que a subscrevam, fornecendo o seu nome e e-mail. Ei-lo... www.ipetitions.com/petition/solidarite-jafar-panahi/ Eu já assinei!



Nathalie Bernardo da Câmara


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

IRÃ: UM CORAÇÃO EMPEDERNIDO?


Zohre Elahian, Sakineh e Dilma Rousseff

“Como a natureza sabe, sem diversidade não há evolução...”.

Isaias Raw
Bioquímico brasileiro,
presidente do Conselho Técnico-Científico da Fundação Butantan



Nota (na íntegra) divulgada nesta terça-feira, 18, pela Secretaria de Comunicação Social da presidência da República, contendo a resposta de Dilma Rousseff, 63, à polêmica carta que lhe foi enviada por deputada iraniana:


“A Presidenta Dilma Rousseff tomou conhecimento hoje, 18 de janeiro, da carta que lhe foi enviada pela Deputada Zohreh Elahian, Presidenta do Comitê de Direitos Humanos da Assembleia Consultiva do Irã.

Agradece os cumprimentos que a parlamentar lhe dirigiu por sua eleição à Presidência do Brasil, as informações que constam da carta e o interesse em contribuir para um diálogo construtivo entre os dois países sobre temas bilaterais e multilaterais.

A Presidenta Dilma Rousseff reitera a disposição de continuar conferindo à questão dos Direitos Humanos um lugar central em nossa política externa, sem seletividade e tratamento discriminatório.

A Presidenta considera, finalmente, como muito positiva a disposição da deputada Zohreh Elahian de realizar um amplo intercâmbio de opiniões por meio dos canais adequados. Um diálogo com as comissões de Direitos Humanos do Congresso brasileiro poderá ser de grande utilidade nesse sentido”.



Uma reposta diplomática, a da la presidenta Dilma Rousseff, ainda mais diante da responsabilidade do cargo que ocupa, sem falar da pública e notória animosidade dos fundamentalistas islamicos, à carta que recebeu da deputada iraniana Zohre Elahian, 56, e que, há dois dias, anda a rodar o mundo e a causar polêmica, sobretudo porque, na condição de líder dos direitos humanos no Irã, a autora da missiva praticamente repudiou declarações da brasileira, que, recentemente, se posicionou contrária a violações dos mesmos pelo governo iraniano, dos direitos das mulheres do país e, mais especificamente, dos da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, que, em um período de cerca de cinco anos, contabilizou duas penas de morte: uma em 2006, por apedrejamento, acusada de adultério, e outra em 2010, por enforcamento, acusada de co-participar do assassinato do marido, em 2004.

Na carta, a deputada iraniana diz, ainda, que, apesar da “sentença de apedrejamento” ainda não ter sido finalizada, “a sentença de enforcamento”, imputada à Sakineh, foi suspensa devido ao perdão dos seus filhos, embora sendo mantida a pena de dez anos de prisão, decretada logo após a sua condenação como cúmplice da morte do marido, sem contar as noventa e nove chibatadas que recebeu após o primeiro julgamento. Ocorre que, como eu já disse no post anterior, nenhuma suspensão impede que pena alguma – não importa o caso – não volte a ser validada, a não ser que seja revogada. Ao mesmo tempo, ao tomar conhecimento do teor da carta de Zohre Elahian, autoridades iranianas logo desmentiram à imprensa internacional algumas das suas declarações, argumentando que o processo de Sakineh ainda está sendo revisado, não havendo, portanto, nenhum veredicto a respeito.

De Berlim, na Alemanha, a líder da organização não-governamental Comitê Internacional contra o Apedrejamento, a ativista iraniana Mina Ahadi, em depoimento ao jornal O Globo, disse que “a decisão final sobre o caso vai ser política”. Afinal, segundo ela, “a justiça iraniana faz o que quer, mas não deixa de ter certa preocupação em mostrar uma boa imagem, pelo menos para os países amigos”. O fato é que a carta da parlamentar iraniana suscitou ainda mais polêmicas a um caso judiciário já repleto de controvérsias. Sem falar que a República Islâmica tem acusado o Ocidente de manipular o caso Sakineh para atacar o Irã, de há muito envolvido em escândalos relacionados aos direitos humanos e ao seu programa nuclear. Enfim! A primeira das declarações de la presidenta Dilma Rousseff foi anterior a sua posse, em dezembro de 2010, quando concedeu uma entrevista ao jornal Washington Post.

Discordando da posição assumida pelo Brasil, que, em novembro de 2010, se absteu de votar na resolução da Organização das Nações Unidas - ONU que condena violações aos direitos humanos no Irã, Dilma citou, entre outros, casos de tortura no país, um alto nível de penas de morte, uma acintosa violência as mulheres e perseguições a minorias étnicas e religiosas. À ocasião, inclusive, ela enfatizou não concordar com “práticas que tenham características medievais” no que diz respeito ao tratamento dispensando pelo governo do Irã aos seus presos políticos e, ainda, as mulheres, acrescentando que, na condição de presidenta, não pretenderia fazer concessões em relação a essas questões. Tanto que, já nos primeiros dias de janeiro deste ano, quando da sua primeira entrevista como presidenta do Brasil, declarou que, em sua opinião, o drama vivido pela iraniana Sakineh, por exemplo, era de barbárie.

Assim, em reação as posturas do atual governo brasileiro em relação ao iraniano, especificamente no que se refere aos direitos humanos, a carta da deputada Zohre Elahian apenas reforça o descontentamento das autoridades do Irã com as declarações de la presidenta brasileira, que, a seu ver, teria defendido acusados de crimes pelo regime iraniano contra a segurança do seu povo e do seu Estado. Sinceramente, tudo não passa de uma questão de ponto de vista. Sem falar que, não faz muito tempo, Teerã já havia manifestado certo “incômodo”com as críticas de Dilma Rousseff. O ministro das Cooperativas do Irã, por sua vez, Mohammad Abbasi, declarou ao jornal Folha de São Paulo que esperava receber mais cooperação do governo Dilma, a exemplo do ex-governo Lula, que, aliás, em julho de 2010, propôs à República Islâmica abrigar Sakineh, embora a proposta de asilo tenha sido recusada.

De qualquer modo, já que os muçulmanos são melindrosos com tudo o que diga respeito a sua religião e a sua cultura, capazes de terríveis represálias quando criticados por certos hábitos considerados bárbaros – testemunhos não faltam –, é bom ressaltar que, em momento algum, Dilma Rousseff quis desrespeitar a soberania e a autonomia do Irã enquanto nação. Em meu entender e, acredito, no entender de qualquer pessoa de bom senso, ela apenas emitiu a sua opinião – opinião, aliás, que não é exclusiva sua, mas da maior parte da população mundial, que, inclusive, já se posicionou contrária as arbitrariedades cometidas pelo governo do Irã, repudiando, no caso, o descaso para com a vida de uma mulher, ou de qualquer outro ser humano, que, em hipótese alguma, merece ficar à mercê de religiosos fundamentalistas, cegos em sua fé, como se apenas as suas crenças fossem as únicas na face do planeta.

Enfim! Com uma visão dita ocidental dos direitos humanos, as opiniões de la presidenta Dilma Rousseff, em oposição, contudo, as da deputada Zohreh Elahian, presidenta do Comitê de Direitos Humanos da Assembléia Consultiva do Irã. Quanto à Sakineh Mohammadi Ashtiani, acredito que ela só queira mesmo é sobreviver... E o mundo pode ajudá-la nisso! O que só não tem cabimento é que, em pleno séc. XXI, ainda existam países cujas legislações remontam à Idade Média, sobretudo porque são fortemente influenciadas por não importa qual religião, em detrimento da autonomia que os seus respectivos Estados deveriam cultivar, mas que, infelizmente, desconhecem por completo o que seja democracia, laicidade e respeito, por exemplo, ao direito à liberdade de pensamento e de expressão, ao pleno exercício da cidadania e à diversidade, seja no âmbito da sociedade, seja em todas as esferas da vida.


Nathalie Bernardo da Câmara



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

QUANDO O PANO CAI...


“O fundamentalismo é um quarto sem janelas...”.

Josep Ramoneda
Jornalista e filósofo espanhol



Divulgada na noite desta segunda-feira, 17, pelo Palácio do Planalto, a confirmação do recebimento da carta enviada pela deputada iraniana Zore Elahian, que preside a Comissão de Direitos Humanos do parlamento do Irã, à la presidenta Dilma Rousseff, informando que a pena de morte por enforcamento imputada à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, condenada por ser considerada cúmplice no assassinato do marido, foi suspensa. Até ontem, contudo, a carta ainda estava sendo traduzida do inglês para o português, devendo ser lida por Dilma nesta terça-feira, 18. Porém, nos primeiros dias de janeiro deste ano, quando da sua primeira entrevista na condição de presidenta do Brasil, Dilma já havia declarado a sua posição em relação ao drama vivido pela iraniana. Ou seja, “uma barbaridade”. O teor da carta que ela recebeu, entretanto, já tornado público.

E, desde ontem, por diversos veículos de comunicação de todo o mundo, através dos quais tomamos conhecimento da suspensão da tal pena. Não obstante, em minha vã ignorância, eu só queria entender, para minha curiosidade, se a palavra suspensão, em português – de acordo com as informações que têm sido divulgadas pela mídia –, tem o mesmo significado em persa, língua oficial do Irã. Afinal, na língua portuguesa, que eu tenha conhecimento, o verbo transitivo direto suspender significa, digamos, deixar pendente, no ar... Daí – eu perguntaria –, quem garante que, a qualquer momento, basta dá na telha das suas obtusas mentes, as autoridades do Irã não revejam a dita suspensão da aplicação da sentença de morte de Sakineh, já que, a priori, toda e qualquer suspensão tem caráter temporário, e resolvam aplicá-la, independentemente dos apelos contrários?

Afinal, a pena de morte por apedrejamento, à qual infligiram à Sakineh, e apenas porque ela manteve relacionamentos íntimos com outros homens após a morte do marido, também já foi suspensa e, mesmo assim, vez por outra, o governo do Irã diga que não. É, de fato, muita controvérsia. Enquanto isso, ou seja, enquanto as duas sentenças não forem definitivamente revogadas, a vida da iraniana permanece na corda-bamba, sabendo, contudo, que mesmo que não seja nem apedrejada ou enforcada, já que ninguém morre duas vezes, dez anos de prisão já estão certos. Enfim! A referida carta traz, ainda, críticas à Dilma, visto que, em dezembro de 2010, a então presidente eleita disse ao jornal americano Washington Post que não concordava com posições assumidas pelo governo brasileiro, em sessões da Organização das Nações Unidas - ONU, no que concerne ao Irã.

Ou seja, o Brasil teria se abstido de votar resoluções que repudiavam o Irã por violar direitos humanos. Seria, então, o caso de la presidenta tomar um partido a respeito? De qualquer modo, ainda no início deste ano, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, se reuniu com o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e manifestou o interesse do governo do seu país para que Dilma visite Teerã, embora, à ocasião, a data exata da visita ficou, digamos, em suspense... Bom! O curioso é que o artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pela ONU em 1948, diz: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Em alguns países, contudo, apenas quando nascem! Sim, porque depois... Afinal, viver na desigualdade, em condições indignas e sem direitos não é vida para ninguém. É sobreviver.


Nathalie Bernardo da Câmara


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PENA DE MORTE: QUANTA ARROGÂNCIA EM UM SÓ GESTO...

 
“Um mal não se repara com outro mal, cometido em represália...”.
 
Coretta Scott King (1927 - 2006) 
Ativista norte-americana pelos direitos humanos, viúva de Martin Luther King (1929 - 1968), líder pacifista norte-americano



Muitos se acham no direito de interferir na vida de terceiros, decidindo sobre o seu destino, inclusive, até, pôr termo a sua existência. Ora, ninguém tem esse direito! Nem mesmo se amparado por uma legislação qualquer, que, dependendo do que se trata, pode está equivocada. O fato é que entendimentos dessa natureza não passam de pretensão, sobretudo no caso da pena de morte! E essa não é uma opinião exclusiva minha, mas de quem tem bom senso e respeita os direitos humanos. Ocorre que há quem diga – aqueles que adoram um pré-julgamento – que, quem normalmente é de esquerda – o meu caso –, entra em contradição porque é contra a pena de morte, mas a favor do aborto, e que, quem é de direita, defende o direito do feto à vida, mas, paradoxalmente, se dá ao direito de matá-lo se, quando adulto, ele agir de maneira não condizente com certos valores – um crime considerado hediondo, por exemplo.

Convenhamos, contudo, que, pelo menos no caso do aborto, a polêmica, além de desnecessária, é estéril, já que a decisão pela interrupção de uma gravidez compete unicamente à mulher, visto que o seu corpo lhe pertence – e a mais ninguém, independentemente da origem de não importa qual argumentação contrária, sobretudo ser for religiosa – e ela faz o que bem entender com ele. A diferença, entretanto, entre o aborto e a pena de morte é que se alguém comete um crime deve ser julgado por isso e, se condenado, que cumpra pena atrás das grades, realizando algum tido de trabalho cujos resultados sejam revertidos em prol da sociedade ou qualquer outra coisa que o valha, não pagando com a vida o erro que cometeu. Caso contrário, ou seja, se, por um dado crime, uma pessoa for penalizada com a morte, todos os envolvidos na decisão da sentença e em seu cumprimento são, queiram ou não, igualmente criminosos.

Toda essa introdução porque, hoje, li na imprensa que, em carta à la presidenta Dilma Rousseff, uma deputada iraniana, Zohre Elahian, que lidera a Comissão de Direitos Humanos do parlamento do seu país, teria dito que a sentença de enforcamento da também iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, por, em 2010, ter sido considerada cúmplice no assassinato do marido, havia sido removida, mas apenas em função dos apelos dos filhos, que a perdoaram pelo suposto crime, bem como suspensa a sentença de apedrejamento que ela recebeu em 2006 por adultério, após a morte do marido, devido à repercussão internacional do caso, que resultou em uma mobilização global contra a pena. Ocorre que a presidência da República, o Ministério das Relações Exteriores - MRE e a Embaixada do Irã no Brasil não confirmam o recebimento da carta, embora a informação tenha sido divulgada por agência de notícias estrangeiras.

Exista ou não a carta, tenha ou não sido enviada pela parlamentar iraniana e recebida por la presidenta do Brasil, o fato é que as pena de morte por apedrejamento e por enforcamento continuam válidas. E eu perguntaria: como uma pessoa pode morrer duas vezes e por métodos diferentes? É muita esquizofrenia... Além disso, se as autoridades iranianas querem porque querem condenar Sakineh não importa por qual motivo, muito menos se a condenação é injusta, já não bastaram as chibatadas, noventa e nove, ao todo, que ela recebeu em 2006, após ter sido julgada pela primeira vez por supostamente ter mantido relações íntimas com terceiros após a morte do marido? O fato é que, desde então, a iraniana encontra-se presa, incomunicável, com o seu destino em suspenso, nas mãos de homens impiedosos, norteados por uma cultura religiosa desumana, a islâmica, sobretudo em relação as mulheres.

Sei não, mas, diante desse cenário, parece até que o mundo ainda vive na Idade Média. E o pior é que, como se já não bastassem as leis islâmicas em vigor no Irã, as autoridades iranianas rejeitam acusações de abusos aos direitos humanos. Quanta sandice! E hipocrisia, por querer negar algo que o mundo inteiro sabe, ainda mais quando a Anistia Internacional afirma que o Irã, atrás somente da China, é o segundo país que mais aplica a pena de morte. E por razões idiotas, como, por exemplo, o adultério, que só diz respeito ao casal. No caso de Sakineh, a sua condenação por apedrejamento deve ser revogada, visto que, quando ela supostamente manteve relacionamentos com outros homens, o seu marido já estava morto. Tenha dó! Que o Irã, então, aceite a oferta de asilo para Sakineh feita em 2010 pelo então presidente Lula. Quem sabe assim, no Brasil, ela possa sobreviver aos desmandos dos tiranos do seu país...


Nathalie Bernardo da Câmara


sábado, 15 de janeiro de 2011

A QUÍMICA DAS FLORESTAS...
 




Cobrindo 31% de toda a área terrestre do planeta, as florestas merecem, portanto, ser mais valorizadas e, conseqüentemente, preservadas. Segundo edição da revista Planeta Sustentável, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - Pnuma informa que trezentos milhões de pessoas de todo o mundo têm como abrigo as florestas, que garantem, ainda, de forma direta, “a sobrevivência de 1,6 bilhões de seres humanos e 80% da biodiversidade terrestre”. Daí, então, que, com o intuito de sensibilizar a sociedade para a preservação das florestas, garantindo, assim, a vida no planeta, a Organização das Nações Unidas - ONU declarou 2011 o Ano Internacional das Florestas, que deverá, aliás, ser norteado com o tema Florestas para o povo. De acordo com a reportagem, a idéia é promover durante o ano de 2011 “ações que incentivem a conservação e a gestão sustentável de todos os tipos de floresta do planeta, mostrando a todos que a exploração das matas sem um manejo sustentável pode causar uma série de prejuízos para o planeta”. Entre eles: a perda da biodiversidade; o agravamento das mudanças climáticas; o incentivo a atividades econômicas ilegais, como a caça de animais; o estímulo a assentamentos clandestinos e a ameaça à própria vida humana. Falando em vida...






A Química é considerada a base da vida. Segundo o site 365 dias de química: “Toda matéria encontrada no universo é composta pelos elementos químicos e sua combinação molecular representada por gases vitais como o oxigênio e a amônia, até estruturas de enorme complexidade como o DNA e as proteínas. Sua diversidade tem esplendor na natureza e nas inúmeras possibilidades de composição de materiais para as mais diversas aplicações, a exemplo de medicamentos, alimentos, novos materiais, ligas metálicas e energia”. O referido site, portanto, se dedica ao fato de 2001 também ter sido elegido pela Organização das Nações Unidas - ONU como o Ano Internacional da Química, cujo slogan é Química para um mundo melhor. Neste caso, contudo, a ONU conferiu à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO e à União Internacional de Química Pura e Aplicada - IUPAC “a coordenação das atividades mundiais” da homenagem, que tem como objetivo “a celebração das grandes descobertas e dos últimos avanços científicos e tecnológicos da química”, promovendo, “em âmbito mundial, o conhecimento e a educação química em todos os níveis”, bem como “uma reflexão sobre o papel da Química na criação de um mundo sustentável”.



Para maiores informações sobre o Ano Internacional das Florestas e o Ano Internacional da Química, respectivamente, acessar o portal oficial da ONU no Brasil: http://www.onu-brasil.org.br/

 
Nathalie Bernardo da Câmara