quarta-feira, 6 de junho de 2012

NÃO CONFUNDIR ALHOS COM BUGALHOS

“Culto não é sinônimo de produto, cristão não é sinônimo de cliente...”.

Título de um artigo postado no blog Iconoclastas do Evangelho no dia 06 de março de 2012 e assinado por IDE. Simples assim. Ressalto, inclusive, que a charge que ilustra a presente postagem é a mesma do referido artigo, cujo primeiro parágrafo, aliás, diz o seguinte: “Já ha algum tempo tenho me perguntado por que as pessoas passaram a ir a cultos somente para receber algo, tornado o templo um mercado. (...) A resposta me veio quando percebi que os líderes atuais estão pregando mensagens e adaptando os cultos segundo as necessidades e desejos das pessoas no intuito de atrair cada vez mais fiéis, tendo, assim, maior arrecadação financeira para arcar com as demandas denominacionais como rádios, tvs, jornais etc...”.


E, por aí, vai, tipo a mensagem que nos passa a historieta de Chapeuzinho Vermelho na sua estrada afora... O final? Ah! O final nós já sabemos, embora o tão conhecido desfecho, tal qual a narrativa em si, não passe de uma parábola, ou seja, do estupro, acobertada, entretanto, por pinceladas de surrealismo. Porém, o estupro não implica apenas em violar sexualmente uma pessoa, mas, igualmente, no caso em questão, por exemplo, metaforicamente falando, violar o seu bolso. Afinal, todo e qualquer tipo de violação, não importa a sua natureza, resulta em lesões, não necessariamente visíveis a olho nu, na integridade física – quando diz respeito ao estupro propriamente dito –, moral, psicológica e emocional da vítima. E, na maioria das vezes, essas lesões, ou cicatrizes, não são reversíveis. E qual seria, então, poderia questionar o leitor, o motivo de toda essa introdução? Sim, porque este parágrafo não deixa de ser uma introdução – sem trocadilhos.

Na verdade, quando sentei à mesa, diante do computador, para escrever sobre algo que, nesta quarta-feira (6), me irritou profundamente, confesso que, em momento algum passou pela minha cabeça tecer algumas linhas para versar sobre iconoclastia, oportunismo ou mercenarismo. Pior! Os três ao mesmo tempo. O fato é que, numa clínica de fisioterapia, onde estive para fazer uma avaliação das condições atuais de um dos meus pés que, início de março, sofreu uma grave lesão – ainda pretendo publicar uma postagem sobre o referido episódio –, quis marcar para amanhã, ou seja, quinta-feira (7), a primeira das inúmeras sessões do tratamento ao qual fui orientada para seguir. Ocorre que, para minha frustração, o responsável pelo meu caso disse-me que eu só poderia iniciar a série de sessões na sexta-feira (8). Questionei o motivo. Sereno feito um monge budista, pelo menos aparentemente, o fisioterapeuta respondeu-me que era devido o feriado.

Feriado? Sim, ele prosseguiu, de Corpus Christi... Na lata, como se diz na gíria, ou seja, num repente típico dos nativos do signo de Áries, perguntei o que eu tinha a ver com isso e, sem nem pestanejar, ele limitou-se a repetir o que já havia dito antes, ou seja, era feriado e a clínica não estaria aberta. Eu? Boquiaberta estava boquiaberta não fiquei. Xinguei. Afinal, de há muito insisto para que os feriados ditos religiosos sejam excluídos do calendário nacional de datas a serem comemoradas – simples assim. E não pense o leitor que faço disso uma questão pessoal porque não é o caso. Eu insisto porque, pelo que me consta, os feriados religiosos não têm nenhum embasamento legal, juridicamente falando, para existirem. Afinal, não é o fato de o Estado brasileiro ser laico, ou seja, não ser contra religiões, defendendo o direito de culto, que deve ser permitida a paralisação de todo um país em função de uma data religiosa.

Corroborando, portanto, as minhas palavras, uma declaração do professor-adjunto de Direito Constitucional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e procurador regional da República Daniel Sarmento, contida na reportagem Ser laico não é ser contra a religião, publicada no dia 1º de junho do corrente no blog da revista Fórum, a respeito de um debate sobre o ensino religioso nas escolas da rede pública, ocorrido um dia antes, do qual, inclusive, ele participou. Então! Diante da observação do jornalista Mario Henrique de Oliveira de que, “apesar de o Brasil declarar em sua Constituição ser um Estado laico, há um enorme abismo entre tal preceito e a realidade existente hoje”, Daniel Sarmento explicou:

— A laicidade do Estado significa que ele deve ser neutro em matéria religiosa e isso não quer dizer que ele seja ateu ou agnóstico. Quer dizer que o Estado não tem posição, deve respeitar todas as posições religiosas, mas não pode endossar nenhuma delas (sugiro a leitura da reportagem na íntegra: http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9895).

Desse modo, fica mais do que evidente que está mais do que na hora de excluir os feriados religiosos do calendário nacional de datas comemorativas. Afinal, como eu disse num texto postado neste blog no dia 03 de maio deste ano: “Quem quiser proferir a sua fé, qualquer que seja ela, que o faça além dos adros dos seus respectivos oratórios, sejam igrejas, templos, mesquitas, terreiros ou tenha o nome que tiver os espaços reservados para tal prática. O que não tem cabimento, como eu costumo dizer, é parar todo um país apenas porque uma dada religião elegeu certo dia para comemorar um determinado santo de sua adoração. E as demais religiões, no caso, o que têm a ver com isso? E quem não tem nenhuma ou não está a fim de comemorar nada nem ninguém?”. O título da postagem? Culto ao personalismo: nada mais démodé! (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/05/culto-ao-personalismo-nada-mais-demode.html).

Outras datas, aliás, que, inclusive, nada têm de religiosas, mas que também constam no rol dos feriados nacionais e que deveriam ser igualmente repensadas, podendo, quiçá, serem igualmente excluídas do referido calendário – a título de ilustração, citarei apenas duas –, são, por exemplo: 21 de abril, quando se comemora o dia morte de Tiradentes, alcunha do dentista e alferes Joaquim José da Silva Xavier (1946 - 1792), supostamente líder da Inconfidência Mineira (1789), sendo, por isso, bem como por ter sido assassinado de forma bárbara, ou seja, primeiro enforcado e depois esquartejado, alçado à condição de mártir do movimento, quando, segundo historiadores, tudo não passou de uma grande encenação. Ou seja, Tiradentes foi escolhido a dedo para servir de bode expiatório para livrar a pele dos verdadeiros líderes da Inconfidência Mineira – na verdade, um fracasso total. Qual o motivo, portanto, do feriado em seu nome?

A segunda data seria a do dito Dia da Independência do Brasil, comemorado no dia 7 de setembro... Sei não, mas já não está na hora de parar com esse engodo? Afinal, no quê o Brasil é independente? A data, contudo, refere-se à independência do país do jugo de Portugal em 1822. Mas, e depois? Que eu saiba, até outro dia era oficialmente dependente dos Estados Unidos – leia-se Fundo Monetário Internacional (FMI); em seguida, tornou-se dependente do Partido dos Trabalhadores (PT), que, aliás, por ser um reservatório poluído de agentes e aderentes corruptos, nada éticos – os sucessivos escândalos de toda sorte que eclodem a 3x4 por toda parte envolvendo a mencionada agremiação partidária são exemplos do que digo –, anda mais partido e desacreditado do que ovo podre atirado em cara de político em sinal de um protesto qualquer. Enfim! Hora de repousar o corpo e a mente – as esperanças já se foram...

Nathalie Bernardo da Câmara

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