terça-feira, 12 de junho de 2012

ODE À HIPOCRISIA

“Por delicadeza, perdi a minha vida...".

Rimbaud (1854 - 1891)
Poeta francês


Quando a delicadeza volta-se contra o gentil


Na sua essência, o hipócrita não é senão um covarde! O que, de certa forma, pode até ser compreensível, já que não possui a coragem que requer o ato de assumir não importa qual verdade – o que não deixa de ser repulsivo, visto que ele é desprovido de ousadia. O mais curioso, entretanto, é que, invariavelmente, o hipócrita menospreza todo e qualquer tipo de delicadeza, sobretudo se o gesto gentil for votado para ele, que, por suas habilidades intrínsecas, nunca demonstra – quando os tem – os seus verdadeiros sentimentos. Isso sem falar que, por insensatez, quiçá sadismo – perversão inerente ao seu perfil psicológico –, ele termina, de uma forma ou de outra, não importa a situação, motivado ou não por um ato de gentileza, recorrendo à violência, qualquer que seja ela – da mais sutil a mais escrachada –, nem que, para isso, seja necessário negar a si mesmo. Ou afirmar. De repente, os dois ao mesmo tempo. Natural. Afinal, o hipócrita é um hipócrita, um dissimulado – muitos, inclusive, são psicopatas, dando vazão, por pura maldade, a interesses escusos... Bom! O hipócrita não é que um vaso falso de um semblante igualmente falso. Na verdade, uma fraude. E, portanto, repleto de fraquezas. Todas! Daí ser um parasita ambulante, que, no nevoeiro das suas frustrações mais primárias – o que dirá das secundárias e correlatas –, sai a arrastar o peso da sua própria sombra – quando tem uma – e o fardo da sua estéril existência onde quer que ele vá, sem, contudo, chegar a lugar nenhum nem a nada. Enfim! O hipócrita é um ser de natureza ignóbil, cuja trajetória, por possuir um coração empedernido – quando tem um –, não deixará sequer um rastro, a não ser o da discórdia, o do desafeto e o do caos, quando deste patamar passar. O fato é que, como observou o filósofo canadense Charles Taylor: — Para termos um sentido de quem somos, temos de dispor de uma noção de como viemos a ser e para onde estamos indo. Isso requer uma compreensão narrativa da vida. O que sou tem de ser entendido como aquilo em que me tornei pela história de como ali cheguei...

Nathalie Bernardo da Câmara


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