Por Rafael
Duarte, jornalista, em artigo publicado no Novo Jornal, dia 24 de janeiro
de 2014.
A cobertura da Copa pela imprensa é vergonhosa. O
jornalismo sério e crítico – uma trincheira importante da democracia – foi
jogado na caçamba do lixo pela maioria dos jornais, TVs e rádios daqui e de
fora. Gosto muito da frase que diz que a imprensa que torce, distorce. Mas o
que vemos em alguns casos é a mentira pura e simples, indiscreta e abjeta,
contada com o objetivo claro de transformar um pesadelo num conto de fadas.
Muita gente não vê surpresa no comportamento da imprensa, sempre mais atenta a seus interesses particulares do que ao interesse coletivo. O jogo sempre foi jogado assim, dizem os amigos do senso comum. E que assim seja, repetem os conformados e conformistas de plantão.
Agora nesse debate todo, o que também chama a atenção é a divulgação dessas mentiras por uma gente esclarecida, outrora crítica, mas que confunde o apoio ao evento com a defesa do governo. Para os governistas, se a crítica é sobre os gastos públicos em estádios privatizados (ah, são concessões de 20 anos, perdoe a nossa falha) é como se o endereço fosse a principal inquilina do Palácio do Planalto. E quanto mais se aproximam as eleições, a neurose chega a níveis de faniquitos.
O governismo é uma doença. Não ataca a todos, é verdade. Mas seu principal sintoma é a falta de memória, a cegueira política e ideológica. Dilma Rousseff veio a Natal, foi bajulada, ficou ‘en-can-ta-da’ e ratificou todas as mentiras que o governo vem contando e compartilhando desde que a Fifa definiu o Brasil como sede. Até Nelson Rodrigues, defensor categórico da construção do Maracanã no final dos anos 40, deve ter levado uma cutucada do Sobrenatural de Almeida quando foi citado como exemplo diante de tanta informação falsa.
Dilma comemorou com orgulho o fato da Arena das Dunas ter custado 3% a menos do que o valor estimado inicialmente. Talvez seja por isso que Guido Mantega, o ministro da Fazenda, esteja a perigo no cargo. O preço inicial do estádio – uma olhada nos jornais de quatro anos atrás é suficiente – era de R$ 320 milhões. Se o empréstimo junto ao BNDES a juros baixíssimos fosse pago à vista, o que também não vai acontecer, a Arena sairia hoje por R$ 423 milhões. Só nessa brincadeira são R$ 123 milhões a mais de diferença. Porém, ao longo dos 20 anos de privatização (digo, concessão) a conta será de R$ 1,3 bilhão.
É inacreditável, faltando cinco meses para o início do torneio, que ainda há quem sustente que não existe dinheiro público investido nos estádios da Copa.
Ouço de colegas e amigos que as críticas à Copa não me levarão a lugar nenhum. É murro em ponta de faca, jogo perdido. Afinal, a Arena das Dunas está concluída (segundo a nossa imprensa en-can-ta-da, por sinal, a concluiu três vezes de dezembro para cá). Faz mal não, gente. Não vou mentir para vocês: é um prazer estar ao lado dos que perderam essa batalha.
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