Dora Kramer - O Estado de S.Paulo - 26 de janeiro de 2014
Pergunte-se a um aliado de Marina Silva que tenha os pés plantados no chão e a cabeça firme no pescoço se há alguma chance de a ex-senadora vir a ser a candidata do PSB a presidente, trocando de lugar com o governador Eduardo Campos com base nas pesquisas de opinião - onde ela aparece sempre à frente dele - e o que se ouve é o seguinte: trata-se de um sonho de uma noite de verão.
"Mal dormida", acrescenta o deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), para resumir a ópera. Fosse para ser candidata, Marina teria se filiado a algum dos partidos que lhe ofereceram a vaga quando a Justiça Eleitoral recusou o registro da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição deste ano.
De onde, a realidade é que o partido não existe de direito. E, como de fato seu único ativo é a figura de Marina Silva, há muito mais espuma que consistência nessa onda toda em torno das exigências que a Rede estaria fazendo ao PSB em relação às alianças eleitorais nos Estados, inclusive ameaçando não ocupar o lugar de vice na chapa de Campos.
Há de tudo um pouco na Rede: ecologistas, esquerdistas, evangélicos, correntes para todos os gostos com cada qual querendo dar seu palpite. Falar alto e em tom impositivo para também não capitular à condição de mero coadjuvante de segunda linha do PSB sem direito a voz, voto e veto.
Um exemplo foi a recente manifestação do grupo de Minas Gerais, prontamente desautorizado pela direção nacional, exigindo que o PSB se afastasse do PSDB no Estado, onde ambos mantêm uma relação longeva e na qual se embute uma espécie de acordo de cavalheiros entre mineiros e pernambucanos.
O senador Aécio Neves sabe que Pernambuco é território de Eduardo Campos, que tampouco tem a pretensão de disputar Minas com o tucano.
De exigência real o que existe mesmo é uma candidatura própria ao governo de São Paulo, com o consequente rompimento da aliança com o PSDB de Geraldo Alckmin. A avaliação é a de que o "conservadorismo" de Alckmin não faria bem ao projeto da "nova política" e que para Campos seria essencial correr em faixa exclusiva no maior colégio eleitoral do País, ao menos no primeiro turno.
De divergência objetiva que provocou obstáculos concretos houve a manifestação de Marina contra o apoio de Ronaldo Caiado, feita para marcar posição para o público interno. Resultou em avarias sérias com o setor do agronegócio.
No restante do País, inclusive no terceiro colégio eleitoral (Rio de Janeiro), o debate sobre as alianças ainda está no início, sem escolha de nomes, mas sob a égide de uma evidência: o PSB é um partido e a Rede, por ora, um símbolo.
Efeito retardado. Alguns tucanos não gostaram de ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer no fim da semana passada que prefere que Aécio Neves vá para o segundo turno com Dilma Rousseff, mas, se a vaga na etapa final for de Eduardo Campos, tudo bem também.
FH disse exatamente a mesma coisa no dia 8 de novembro do ano passado, a declaração virou manchete e não houve reação alguma. Esquisito.
Faca nos dentes. Em atenção ao DEM - aliado tradicional e que já concordou em não fazer grandes exigências - o PSDB oficialmente fala em apoiar Paulo Souto para o governo da Bahia.
Extraoficialmente, porém, os tucanos torcem para que Souto não seja candidato porque prefeririam se aliar ao ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. Pelo perfil combativo, pelo fato de ser um dissidente do PMDB e pela gana dele em derrotar o PT.
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