“Vale mais uma onça de cautela que uma arroba de botica...”.
Provérbio português.
Há tempos, na internet, deparei-me com um texto que,
por seu teor, além de bem escrito, chamou a minha atenção – o curioso é que, apesar
do título, era um apócrifo. Hoje, voltei a esbarrar no dito cujo – desta vez, no
site Training Tecnologia – It Solution Provider. Porém, a
exemplo do primeiro encontro, embora enunciado, nada de assinatura, mas apenas um
3x4 de um jovem embaixo do texto, dando a entender que ele havia se limitado a
postá-lo, já que nem mesmo o seu nome, ou qualquer outra identificação, constava
nas cercanias da sua imagem, não significando, portanto, que fosse o seu autor.
Decidi, então, investigar e, lá pelas tantas, no site JusBrasil, outro
esbarrão, bem como a certeza de que, tipo eu, outras pessoas também gostariam
de saber o nome do (a) santo (a) que teceu tais considerações, visto que, de
repente, de certa forma sorrindo, li no enunciado: “Não se sabe o autor dessa bela lição, que
percorre a web inspirando outros textos, como uma recente crônica escrita por Miguel
Falabella na revista Isto É. Se alguém souber quem é o autor, por favor,
nos informe” – faço coro ao apelo e vamos à graça...
NBC
O Símbolo @ (arroba)
Por autor (a) desconhecido (a)
DURANTE A
IDADE MÉDIA, os livros eram escritos à mão pelos copistas. Precursores dos
taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalho substituindo letras,
palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por
economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não
faltava, naquela época!). O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram
valiosíssimos.
Assim,
surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava a vogal anterior. Se
reparar bem, você verá que o til é um enezinho sobre a letra.
O nome
espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para Phco e Pco –
o que explica, em Espanhol, o apelido Paco, comum a quase todo Francisco.
Ao citarem
os santos, os copistas os identificavam por algum detalhe significativo de suas
vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia seguido de Jesus Christi Pater
Putativus, ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os
copistas passaram a adotar a abreviatura JHS PP, e depois, simplesmente, PP. A
pronúncia dessas letras em sequência explica por que José, em Espanhol, tem o
apelido de Pepe.
Já para
substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que resulta do
entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido como e
comercial em Português, e ampersand, em Inglês, junção de and (e, em Inglês),
per se (por si, em Latim) e and.
E foi com
esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas criaram o
símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o
sentido de casa de.
Foram-se os
copistas, veio a imprensa – mas os símbolos @ e & continuaram firmes nos
livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria
e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3 significava 10 unidades ao
preço de 3 libras cada uma. Nessa época, o símbolo @ significava, em Inglês, at
(a ou em).
No século
XIX, na Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam
imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como os espanhóis
desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou em), acharam
que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso contribuíram duas
coincidências:
1 – A
unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cuja inicial
lembra a forma do símbolo;
2 – Os
carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Por
isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3 assim: dez
arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a ser usado por
eles para designar a arroba.
O termo
arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta parte: uma arroba (15
kg, em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe, o
quintar, que originou o vocábulo português quintal, medida de peso que equivale
a 58,75 kg .
As máquinas
de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma definitiva há
dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o
primeiro autor a apresentar seus originais datilografados), trouxeram em seu
teclado o símbolo @, mantido no de seu sucessor – o computador.
Então, em
1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy Tomlinson usou
o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina, entre o nome do usuário
e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X ficou significando
Fulano no provedor X.
Na maioria
dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida com sua forma:
em Italiano, chiocciola (caracol); em Sueco, snabel (tromba de elefante); em
Holandês, apestaart (rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de
forma circular: shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários
outros idiomas europeus. No nosso, manteve sua denominação original: arroba.
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