Segundo a História dita
oficial...
Reprodução
Anchieta entrou
para a Companhia de Jesus em 1551 e, dois anos depois, desembarcou na Bahia.
Papa
assina decreto que canoniza o padre José de Anchieta
Em
homenagem ao novo santo, os sinos das igrejas de São Paulo repicaram nesta
quarta-feira
03 de abril de 2014
O
Estado de S. Paulo
O papa Francisco assinou
na manhã desta quinta-feira, 3, o decreto que canoniza o padre José de
Anchieta. O papa recebeu em audiência, no Vaticano, o Prefeito da Congregação
das Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato. Após ouvir o relatório sobre a
vida e a obra do "Apóstolo do Brasil", o pontífice assinou o decreto
que reconhece o missionário como santo. Trata-se do primeiro santo de 2014 e o
segundo jesuíta a ser canonizado pelo papa Francisco. Antes dele, em dezembro
do ano passado, foi canonizado Pedro Fabro.
Homenagem. Em comemoração à canonização de Anchieta,
os sinos repicaram nas igrejas nesta quarta-feira, às 14 horas e o
cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, manteve o canto do Te Deum na
Catedral da Sé e no Pátio do Colégio, na região central da capital.
D. Odilo, que falou aos jornalistas ao
lado de dois padres jesuítas, o superior provincial Mieczyslaw Smyda e o reitor
da igreja do Pátio do Colégio, Carlos Alberto Contieri, disse que, para
Anchieta ser considerado santo, o mais importante é seu exemplo de vida - e não
a assinatura do decreto.
O padre José de Anchieta, cofundador da
cidade de São Paulo, foi canonizado sem os dois milagres geralmente
necessários: um para a beatificação e outro para a canonização propriamente
dita. Os canonistas chamam este procedimento de "canonização
equipolente" (equivalente), pois equivale ao processo normal para declarar
que determinada pessoa morta se encontra junto de Deus, no céu, intercedendo
pelos que ainda vivem na Terra.
O cardeal lembrou
a atuação do novo santo como evangelizador dos índios e como professor do
primeiro colégio, o de São Paulo, fundado pela Companhia de Jesus na América
Latina. Odilo também presidiu nesta quarta-feira à noite uma homenagem a
Anchieta na Catedral da Sé. No domingo, às 11h, ele celebrará uma missa solene
na catedral, também como homenagem a São José de Anchieta. Uma hora antes, às
10h, será iniciada uma procissão até a catedral, saindo do Pátio do Colégio.
Quem foi. Anchieta nasceu nas Canárias. Filho de
pai basco e mãe descendente de cristãos novos ou judeus convertidos, teria
deixado o arquipélago para fugir da Inquisição, porque em Portugal a
perseguição contra os judeus era menos rigorosa do que na Espanha. Entrou para
a Companhia de Jesus em 1551 e, dois anos depois, desembarcou na Bahia. Ainda
não era padre, quando participou, em 25 de janeiro de 1554, da fundação do
Colégio de São Paulo de Piratininga, berço da capital paulista. Morreu em 1597,
no Espírito Santo, onde está sepultado.
Logo após sua morte, a notícia de suas
virtudes heroicas chegou a Roma e, em 1624, o papa Inocêncio X autorizou a
abertura da causa de beatificação. No século seguinte, quando o Marquês de
Pombal iniciou uma perseguição aos jesuítas, todos os processos foram
suspensos. A causa de Anchieta só foi retomada em 1875. Nas décadas seguintes,
o Brasil recorreu ao papa Paulo VI para pedir a beatificação, que saiu só em
1980, com decisão de João Paulo II.
A verdade sempre vem à
tona...
(Originalmente publicado neste blog no dia 10 de
junho de 2012)
Emissão
comemorativa emitida pelos Correios e Telégrafos do Brasil em 09 de junho de
1997, em homenagem, à época, aos 400 anos da morte do padre jesuíta espanhol
José de Anchieta (1534 - 1597), quando, no Brasil, a Igreja católica comemora o Dia Nacional de Anchieta, considerada uma
festa litúrgica. Desembarcando no
Brasil lá pelos idos de 1553, a sua suposta missão, na condição de noviço,
seria a de catequizar os nativos que habitavam as terras "griladas" pelos
portugueses no ano de 1500, bem como a de ensinar-lhes a língua portuguesa.
“A mentira tem pernas curtas...”.
Dito
popular
***
“Pesquisar é a arte de
dar o passo seguinte...”.
Kurt Lewin (1892 - 1947)
Kurt Lewin (1892 - 1947)
Psicólogo alemão
Desmistifiquemos,
portanto, uma personagem dita histórica que, talvez justamente por usar uma
batina, se valeu da sua condição para revelar o quão de obscuro reside na mente
humana, resumindo-se numa fraude. Refiro-me ao padre José de Anchieta, que não
fugiu à regra e já em meados do séc. XVI tinha, mesmo que ignorado por ele
mesmo, o seu destino traçado. Vejamos... Pouco mais de trinta anos antes da
chegada de Padre Anchieta ao já chamado Brasil – inicialmente, os navegadores
lusos haviam provisoriamente denominado as terras recém-achadas de Terra dos
Papagaios, Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz –, os portugueses já haviam
dado início ao processo de colonização das sempre tão procuradas terras
localizadas no classificado Novo Mundo – processo esse, aliás, diversas vezes
interrompidos pela constante presença de franceses, holandeses e ingleses nos
novos domínios lusos, desviando-os, digamos assim, do seu foco principal, que
era o de fazer, apesar das adversidades, do hoje praticamente desmatado Brasil
um celeiro de madeiras consideradas de lei, mas, principalmente, de toras e
mais toras de pau-brasil (Caesalpina echinata), que, “num afã sem
precedentes, já que as especiarias da Índia estavam em baixa, extraiam sem dó
nem piedade”, enviando todo o produto para Portugal. [1]
O fato é que, “com a
colonização iniciada, à medida que os portugueses avançavam em suas conquistas,
aumentava a supressão das liberdades individuais e coletivas da maioria dos
grupos indígenas do Brasil, o que lhes fez conhecer o Inferno, onde estão até
hoje. Tudo matemático. Ou seja, a exploração dos indígenas era proporcional ao
acúmulo de bens dos portugueses. Ou melhor, quanto maior era a riqueza de um,
maior o sofrimento do outro... Afinal, cordatos e generosos, qualidades que
foram mal interpretadas como ingenuidade e burrice”, os índios tornaram-se
presas fáceis para os colonizadores lusos, que, “ávidos por se apropriarem do
que não lhes pertencia”, na maioria das vezes e sem o menor dos escrúpulos,
quando o assunto era o vil metal eles recorriam a ações mais bárbaras e
hediondas para obtê-lo. [2] Em 1549, por exemplo, quando desembarcou no Brasil,
tornando-se o seu governador-geral até 1553, o militar português Tomé de Sousa
(1503 - 1579), trouxe da sua armada, arrebanhada de Portugal, uma companhia de
jesuítas, liderada, por sua vez, pelo sacerdote jesuíta luso Manoel da Nóbrega
(1517 - 1570), que de tudo fez para se empenhar em sua missão. Na verdade, a
vida dos nativos virou uma balbúrdia ainda maior, já que era jesuíta para lá,
jesuíta para cá...
Um dos mais famosos, no
caso, foi o jesuíta espanhol José de Anchieta, retratado na versão dita oficial
da História do Brasil como um homem de bem, de bom coração, com predicados que
poderiam ir além da imaginação. Ocorre que o fato real, verdadeiro, é que padre
Anchieta não era aquela figura bucólica e lúdica que ilustrava, pelo menos na
minha época de colegial, os livros didáticos que tínhamos de ler, no caso, os
de História, e, consequentemente, obrigados a acreditar no que quer que fosse –
não foi à toa, por exemplo, a composição dos elementos presentes no selo que
ilustra a presente postagem. Sim, um padre estrangeiro que saiu das suas terras
de origens, atravessou os sete mares e desembarcou em terras não tão virgens
assim apenas para catequizar, ou seja, converter ao catolicismo – nada demais –
os nativos que nessas terras encontraram e para ensiná-los, sobretudo
poeticamente, tecendo versos em português nas areias das praias, a língua dos
que se tornaram os dominantes – também nada demais. Não obstante, a verdadeira
missão dos jesuítas era a de colaboradores do governo português a colonização
do Brasil. Nem que fosse a ferro e fogo. Tanto que, em função disso, os
jesuítas não hesitavam em cometer atos degradantes, isolados ou não, contra o
índio. Para o renomado historiador norte-americano Warren Dean (1932 - 1994)
considerado, inclusive, um brasilianista, “era propósito dos jesuítas converter
os indígenas não apenas ao cristianismo, mas à passividade e dependências
características de um campesinato português que aceitasse a tutela perpétua e
todas as indignidades que a caracterizavam – chicoteamento, préstimos pessoais,
submissão sexual e trabalhos nos campos”. [3]
No intuito de alcançar
essa meta, impunha-se, ainda, segundo o historiador, “por um fim à exploração
itinerante e extensiva da floresta pelos indígenas”. [4] Exemplo disso foi o
lado sombrio do padre Anchieta no seu contato com os nativos – sombreamento esse
que, desde sempre, a Igreja católica insiste em ocultar –, cometendo, sim, os
seus pecados, além de concluir que “os relatos sobre ouro iriam anima o rei a
enviar uma esquadra para destruir os ‘perversos que resistem à pregação do
evangelho e submetê-los ao jugo da escravidão’”. [5] Para Cláudia Pacheco
Bernhardt de Souza Pacheco, psicanalista social psicossocial brasileira,
existiram religiosos que atuaram na Inquisição no Brasil, lançado inocentes à
fogueira, incluindo, no rol das denúncias, o chamado índio, vítima do descaso e
do pseudosentimento de superioridade dos portugueses. [6] Curiosamente, a
despeito de tais informações, padre Anchieta passaria a ser cognominado de
Apóstolo do Brasil. E isso por suas ditas boas ações e altruísmo ímpar – algo
inacreditável –, sem falar que, séculos depois, em 1980, o então papa João
Paulo II (1920 - 2005) o tornaria beato, sendo, hoje, para a exultação de fiéis
católicos, canonizado – gesto que considero uma afronta aos direitos humanos,
já que “até açoitar índios os jesuítas açoitaram! Sim, como se a sua verdade
fosse única e todos, querendo ou não, tivessem de abraçá-la – de preferência,
sem arco e flecha”. [7] Que paradoxo! “Na verdade, faltou bom senso aos
jesuítas. Ao invés de se irritarem com a nudez e as práticas de canibalismo e
poligamia dos índios, eles pecaram por não terem aproveitado a sua permanência
nos Trópicos para se despojarem das longas vestes, nada apropriadas ao clima
local”. [8]
Sei não, mas “quanta
pequenez de espírito”, já que “os jesuítas também sentiram inveja da influência
e do poder” dos pajés, que eles, pejorativamente, chamavam de curandeiros, “com
a sua farmacopeia rica em ervas e chás”. [9] Só que, para piorar a situação, os
missionários religiosos, juntamente com os demais colonizadores portugueses,
“dependentes que eram das suas próprias leis, cegos pela fé absoluta no
catolicismo e subjugados ao rei que o dominavam, contribuíram, e muito, para
disseminar, mundo afora, que os indígenas não tinham lei, fé nem rei. Diziam,
por exemplo, que os índios precisavam de uma organização social, de lei – daí
negarem a cultura indígena e reprimirem os seus hábitos e costumes, tidos como
‘selvagens’. Achando pouco, disseram que os índios precisavam de uma religião,
de fé – daí tentarem, a ferro e fogo, catequizá-los. Por fim, disseram, também,
que os índios não tinham senhores soberanos, um rei – daí a escravidão a que
muitos foram subjugados, em nome da Coroa Portuguesa. De novo, como podemos
ver, eles se valeram da propaganda enganosa – sempre tão útil, quando convém.
Acontece que os portugueses não entendiam que os indígenas tinham, sim, uma
lei, mas não a do branco; que tinham, também, uma fé, só que em Tupã, não em
Cristo; bem como tinham um rei, só que chamado de cacique. Desse modo, os
portugueses é que passaram a se comportar como verdadeiros selvagens,
massacrando tribos e dizimando inúmeros povos indígenas à revelia do direito
destes à vida...”. [10] O então padre Anchieta? Se um dia fez a leitura dos dez
mandamentos, deve ter, pelo menos no Brasil, se esquecido de alguns itens. O
que dirá, então, dos sete pecados capitais!
Notas:
01. Terra à vista, artigo, de minha autoria, publicado neste blog no dia 19 de setembro de 2009.
01. Terra à vista, artigo, de minha autoria, publicado neste blog no dia 19 de setembro de 2009.
02. Idem.
03. DEAN, Warren. A
Ferro e fogo - A História e a devastação da Mata Atlântica
brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 76.
04. Idem, p. 76.
05. LEITE, Serafim. Monumenta
Brasiliae. Roma, 1956, 2:196. In: DEAN, op. cit., p. 396.
06. PACHECO, Cláudia
Pacheco Bernhardt de Souza. História secreta do Brasil – O
Millennium e o homem universal. São Paulo: Editora Próton, 2000. p. 171.
07. Terra à
vista.
08. Idem.
09. Ibidem.
10. Ibidem.
Para quem se interessar
na leitura de duas postagens que também me auxiliaram na elaboração desta, é só
clicar nos links abaixo:
Nathalie
Bernardo da Câmara
Muito, pura verdade. E é só uma parte, creio. Vou consultar os outros artigos.
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