Em nada surpreendente o
resultado da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizada
em 2013 com 3.810 pessoas sendo entrevistadas, das quais 66,5% foram mulheres, sobre a percepção do
brasileiro acerca da mulher divulgada na última
semana de março, dia 27, apontando, entre outros temas, que 58,5% dos
entrevistados concordaram totalmente (35,3%) ou parcialmente (23,2%) com a
frase Se as mulheres soubesse como se
comportar, haveria menos estupros. Em relação à pergunta: Mulheres que usam roupas que mostram o corpo
merecem ser atacadas?, 42,7% concordaram totalmente; 22,4% concordaram parcialmente;
24% discordaram totalmente e 8,4% discordaram – mentalidade pré-histórica, essa, impregnada
de preconceito e discriminação, desrespeito ao sexo feminino, desvio de caráter
ou, ainda, transtornos psicológicos e/ou mentais, mas, sobretudo, equívocos referentes
a relações de poder distorcidas pela cultura machista, assimilada, inclusive,
por tantas mulheres (e haja conivência!), além de várias outras motivações. De
qualquer modo, no caso do Brasil, essa chaga é problema antigo – quiçá endêmica!
–, apesar de sabermos que, independentemente do país onde ocorre esse tipo de
violência e do seu histórico cultural, tal prática sempre existiu. Daí ser
sistemática a luta das feministas e de demais pessoas de bom
senso – e no mundo inteiro – em combater tamanha agressão, que, diga-se de
passagem, extrapola os limites físicos e só confirma uma triste e deplorável
realidade, a qual remonta aos primórdios da civilização dita humana – eu, particularmente, independentemente das
motivações do estupro, sou a favor da castração química do estuprador – detalhe, aliás, já abordado neste blog. Enfim!
Para informações mais detalhadas sobre os estudos do Ipea, estarei
disponibilizando dois links para publicações do instituto ao final desta
postagem.
Nathalie Bernardo da
Câmara
Para 65%, mulher com roupa que mostra corpo merece ser atacada
Informação aparece no
estudo Tolerância social à violência
contra as mulheres, realizado pelo Ipea
Ao todo, 68,8% concordaram, total ou parcialmente,
que o “homem deve ser a cabeça do lar”
Carolina Benevides – O Globo
Publicado: 27/03/14 – Atualizado: 28/03/14
RIO - “Se as mulheres soubessem se comportar
haveria menos estupros”. Ao ler essa afirmação em um questionário do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 58,5% dos 3.810 entrevistados
concordaram totalmente ou parcialmente com a frase. O dado aparece no estudo
Tolerância social à violência contra as mulheres, realizado pelo Sistema de
Indicadores de Percepção Social e divulgado nesta quinta-feira.
Realizada entre maio e junho de 2013, a pesquisa
aponta ainda que 65% dos entrevistados concordam, total ou parcialmente, que
mulher com roupa que mostra o corpo merece ser atacada. Além disso, 63%
concordaram, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro de casa
devem ser discutidos somente entre os membros da família”. E mais: 89%, somando
aqueles que concordaram totalmente e parcialmente, disseram concordar que “a
roupa suja deve ser lavada em casa”. O percentual dos que acreditam que “em
briga de marido e mulher não se mete a colher” também foi alto: 82%.
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No entanto, o estudo mostra também que 91%
concordaram, total ou parcialmente, que “homem que bate na esposa tem que ir
para a cadeia”. E 78% concordaram totalmente com a prisão para maridos que
batem em suas esposas. A aparente contradição se desfaz, segundo a pesquisa,
quando os entrevistados mostram que aderem “majoritariamente a uma visão de
família nuclear patriarcal, ainda que sob uma versão contemporânea. Nessa
visão, embora o homem seja ainda percebido como o chefe da família, seus
direitos sobre a mulher não são irrestritos, e excluem as formas mais abertas e
extremas de violência”. Ao todo, 68,8% concordaram, total ou parcialmente, que
o “homem deve ser a cabeça do lar”. Ao mesmo tempo, 89% tenderam a discordar da
afirmação “um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher”.
A pesquisa traz ainda informações sobre a percepção
em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ao afirmar que “casamento de
homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido”, 51,7% dos
entrevistados concordaram, total ou parcialmente, com a afirmação. Ao lerem a
afirmação “Casais de pessoas do mesmo sexo devem ter os mesmos direitos dos
outros casais”, 40,5% discordaram, total ou parcialmente. Segundo o estudo, os
jovens apresentaram maior tolerância à homossexualidade. A religião também foi
significativa: católicos só se mostraram intolerantes além da média no que toca
à ideia de proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os evangélicos, no
entanto, foram o grupo mais intolerante à homossexualidade.
Crianças e adolescentes são 70% das vítimas de estupro
Nota
Técnica apresentada no Ipea analisou dados do Sistema de Informações de Agravo
de Notificação do Ministério da Saúde
Ipea – 21 de março de 2014
Encerrando o Mês da Mulher, o Ipea realizou nesta quinta-feira, 27, um
seminário em Brasília para apresentação de estudos que tratam da violência
contra o sexo feminino. Além de uma edição do Sistema de Indicadores de
Percepção Social, foi apresentada a Nota Técnica Estupro no
Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde. É a primeira pesquisa a traçar um perfil dos casos de
estupro no Brasil a partir de informações de 2011 do Sistema de Informações de
Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan).
Com base nesse sistema, a pesquisa estima que no mínimo 527 mil pessoas são estupradas por ano no Brasil e que, destes casos, apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia. A Nota Técnica é assinada pelo diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia, Daniel Cerqueira, que fez a apresentação, e pelo técnico de Planejamento e Pesquisa Danilo Santa Cruz Coelho.
Os registros do Sinan demonstram
que 89% das vítimas são do sexo feminino e possuem, em geral, baixa
escolaridade. Do total, 70% são crianças e adolescentes. “As consequências, em
termos psicológicos, para esses garotos e garotas são devastadoras, uma vez que
o processo de formação da autoestima - que se dá exatamente nessa fase - estará
comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos relacionamentos sociais
desses indivíduos”, aponta a pesquisa.
Em metade das ocorrências envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores. Para o diretor do Ipea, “o estudo reflete uma ideologia patriarcal e machista que coloca a mulher como objeto de desejo e propriedade”. Ainda de acordo com a Nota Técnica, 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. O indivíduo desconhecido passa a configurar paulatinamente como principal autor do estupro à medida que a idade da vítima aumenta. Na fase adulta, este responde por 60,5% dos casos.
Em geral, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência nasce dentro dos lares. A pesquisa também apresenta os meses, dias da semana e horários em que os ataques costumam ocorrer, de acordo com o perfil da vítima.
Brasileiras postam fotos
contra estupro; criadora é ameaçada
Utilizando a hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada,
internautas postaram fotos seminuas dizendo que as vestimentas não são motivo
para nenhum crime sexual
Terra – 29 de março de 2014
Mulheres
de todo o Brasil estão protestando pelo Facebook após o resultado de uma
pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(Ipea) que apontou que a maioria dos brasileiros acha que “Mulheres que
usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Segundo a pesquisa,
65,1% das pessoas – incluindo homens e mulheres – concordaram com essa
informação. Já 58,5% concordam com a afirmação “Se mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros”.
A reação diante da pesquisa foi imediata e uma campanha online chamada
“Eu não mereço ser estuprada” foi ganhando força na rede social. Utilizando a
hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada,
as internautas postaram fotos seminuas dizendo que as vestimentas não são
motivo para nenhum crime sexual. Até as 11h30 deste sábado, a comunidade Eu não
Mereço Ser estuprada tinha 514 participantes na rede social. Outras duas com
temática semelhante somavam mais 500 membros.
A jornalista Nana Queiroz,
organizadora da página de protesto no Facebook, disse que sofreu ameaças. – Foto: Reprodução
Organizadora da página de protesto no Facebook, a jornalista Nana
Queiroz disse em sua página pessoa da rede social que sofreu ameaças de homens
e que mulheres desejaram que ela fosse estuprada. "Amanheci de uma noite
conturbada. Acreditei na pesquisa do Ipea e experimentei na pele sua
fúria", afirmou em um post.
Em entrevista ao Terra, Nana contou
que neste sábado irá levar as ameaças, que já contabilizam milhares de
posts, de acordo com ela, a uma delegacia na Asa Sul, em Brasília.
"Queremos levar ao Ministério Público esses registros para que os
agressores sejam punidos e sirvam de exemplo", defendeu.
O que mais chocou a jornalista foram as mensagens de incitação
à violência e ao estupro. "Me acusaram de ser contra Deus e a
sociedade, além de postarem fotos minhas em sites pornográficos",
detalhou. Como próximo passo, a campanha prevê o pedido de um canal
nacional específico para denúncias de assédio sexual contra mulheres.
Pelo Twitter, até a presidente Dilma Rousseff se manifestou sobre o
resultado da pesquisa. Ela defendeu nesta sexta-feira "tolerância
zero" à prática deste tipo da violência contra a mulher. "Pesquisa do
Ipea mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no
combate à violência contra a mulher. Mostra também que governo e sociedade
devem trabalhar juntos para atacar a violência contra a mulher, dentro e fora
dos lares", escreveu Dilma.
Era meu namorado
Por Bia
Cardoso, jornalista.
Ontem, o Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou uma pesquisa sobre violência contra a mulher, com dados
importantes sobre a tolerância às agressões e casos de estupro. Na
pesquisa, os entrevistados (mulheres e homens) foram questionados se
concordavam ou não com frases sobre o tema. Nada menos que 65% concordaram a mulher que usa roupa que mostra o corpo merece ser atacada — 42,7% concordaram totalmente, e 22,4%, parcialmente.
Portanto, vivemos num
país em que as pessoas acreditam que mulheres MERECEM SER ATACADAS. É claro que
imaginei que as pessoas fossem colocar a culpa nas mulheres pela violência
sexual, mas nunca pensei que tantas pessoas concordariam que alguém merece sofrer
violência sexual.
Pelas perguntas feitas
na pesquisa, as pessoas devem ter imaginado situações de violência perpetradas
por estranhos. Porém, sabemos que a maioria dos casos de violência contra a
mulher ocorrem no espaço privado. Se as pessoas acham que alguém merece ser
atacada por um estranho só por estar com uma roupa curta, não quero nem pensar
o que acham sobre o poder que maridos, namorados, parceiros e afins devem ter
sobre as mulheres. Liberdade? Acho que não faz parte do vocabulário dessas pessoas.
Essa semana, conheci o
tumblr: 'Era meu namorado'; com diversos relatos anônimos de
violência, especialmente a violência sexual perpetrada por parceiros em
relacionamentos heterossexuais. De acordo com a autora do tumblr (que prefere
permanecer anônima), o objetivo inicial era apenas desabafar:
Há alguns meses criei, anonimamente,
uma página chamada ‘Era meu namorado’ para colocar um relato meu, mas a página
acabou se transformando em um espaço de divulgação de relatos de mulheres que
foram vítimas de estupro ou de qualquer tipo de violência de gênero (física ou
psicológica).
Comecei a receber relatos e publicar na
página, até que parei porque estava muito sensibilizada devido às minhas
experiências pessoais… e estou voltando agora que me sinto mais preparada pra
isso.
O resultado, mesmo tendo poucos posts
até agora, está sendo muito positivo… Eu sei do alívio que senti quando
publiquei o meu próprio relato, foi como se tirassem uma pedra gigantesca de
cima de mim. E depois, muitas mulheres já me mandaram relatos, e todas se dizem
agradecidas pelo espaço e pela oportunidade de compartilhar suas dores. O que
quero fazer agora é usar os relatos na conscientização de pessoas, estou
reunindo material pra fazer uma zine impressa com alguns relatos, ilustrações e
links de “introdução” ao feminismo, pra levar mais pessoas, especialmente
mulheres que não se dão conta do que elas próprias passam, à reflexão.
A violência sexual é um
tipo de agressão que envolve essencialmente poder. Não se trata apenas de força
física, mas também da autoridade, influência e posse sobre outra pessoa, sobre
seus sentimentos e psique.
Compartilhar
experiências de violência tem sido uma importante ferramenta para muitas
vítimas lidarem intimamente com suas questões. Especialmente as mulheres,
costumam se reunir em grupos para trocar experiências. Dentro do feminismo,
essa foi uma ação importante popularizada durante a chamada Segunda Onda.
“O processo de transformar medos
ocultos e individuais de mulheres em uma consciência compartilhada de seu
significado como problemas sociais, a liberação da raiva, da ansiedade, a luta
para proclamar o sofrimento e transformá-lo no político – esse processo é a
elevação da consciência.”
Referência: Grupos de reflexão.
Marcha das Vadias de
Curitiba, 2011. Foto de Leandro Taques/UOL.
Lembrei também de outras
iniciativas como essa, como o extinto Bendita Zine (.pdf), um blog em que mulheres podiam
relatar anonimamente casos que viveram de violência:
Abusos não são apenas físicos. Quando
físicos, não precisam “chegar até o fim” para se configurarem como tal. O pior
em uma situação de abuso sexual é que é um crime sem testemunhas. A vítima, que
muitas vezes depende financeiramente do abusador, tem sua voz calada. Quando
pensa em ir à polícia, é agredida por outros membros da família. Qualquer
pessoa pode ter passado por isso, independente de qualquer coisa. (…) O Bendita
Zine é uma iniciativa contra um crime que existe desde sempre e pretendemos
acabar com o silêncio e o descaso daqueles que acham que isso está distante.
Há também espaços
virtuais como a página do Facebook: ‘Cantada de rua – conte
seu caso’. A internet tem se mostrado uma ferramenta importante
na agregação, acolhimento, apoio e orientação para muitas pessoas que foram
vítimas de violência. Infelizmente, ainda temos um longo caminho pela frente.
Respeito tem que ser para todas!
Sobre o tumblr:
Os relatos ou
depoimentos podem ser enviados como mensagem privada para a página do Facebook‘Era meu namorado’ ou
para o email: erameunamorado@gmail.com
O anonimato das
vítimas está garantido.
Correio Braziliense: Campanha chega a 42 mil adesões
31 de março de 2014
A campanha
#eunãomerecoserestuprada, reação ao resultado da pesquisa do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostrou o quanto o Brasil ainda é
machista, já conta com a adesão de mais de 42 mil usuários na internet. Em uma
rede social, a página do evento tem 251 mil pessoas debatendo o tema. Portais
internacionais de notícia deram destaque, na manhã de domingo, ao protesto
virtual. O estudo que motivou a manifestação na internet apontou que 65,1% da
população concorda total ou parcialmente que "mulheres que usam roupas que
mostram o corpo merecem ser atacadas". Ontem, a atriz Alinne Moraes e a
cantora de funk Valesca Popozuda aderiram à campanha pelas redes sociais.
No sábado, organizadores
da campanha foram até a Delegacia da Mulher e denunciaram usuários que postaram
ameaças na página do evento em uma rede social. Um investigador, especializado
em crimes cibernéticos, já trabalha para tentar identificar os agressores. A
estimativa é de que mais de 100 pessoas possam ser responsabilizadas pelas
ameaças.
A jornalista Nana
Queiroz, 28 anos, publicou na internet um texto com imagem de um dos agressores
que segurava um cartaz com os dizeres "#eu já estuprei e estupro de novo".
A Polícia Civil vai priorizar a identificação de quem postou ameaças diretas
aos organizadores da campanha.
"Ficamos na
delegacia de 15h às 19h. Se o Marco Civil da internet já tivesse sido aprovado,
esses agressores seriam responsabilizados com muito mais agilidade. São
centenas de pessoas. O delegado nos informou que todo o processo de
identificação, caso a caso, pode demorar seis meses. Estamos encaminhando os
mais chocantes", declarou Nana.
Alerta
Os organizadores estão orientando os usuários a copiar os posts com agressões e ameaças para facilitar o envio à Delegacia da Mulher. "Mesmo que o perfil seja falso, os investigadores conseguem rastrear o ID da pessoa e podem prendê-la em seguida por incitação ao estupro, que é crime no Brasil. Se esse protesto servir para colocar um bando de estupradores potenciais atrás das grades, já somos vitoriosas", alerta a campanha.
Os organizadores estão orientando os usuários a copiar os posts com agressões e ameaças para facilitar o envio à Delegacia da Mulher. "Mesmo que o perfil seja falso, os investigadores conseguem rastrear o ID da pessoa e podem prendê-la em seguida por incitação ao estupro, que é crime no Brasil. Se esse protesto servir para colocar um bando de estupradores potenciais atrás das grades, já somos vitoriosas", alerta a campanha.
O delegado nos informou
que todo o processo de identificação (dos autores de ameaças às organizadoras),
caso a caso, pode demorar seis meses. Estamos encaminhando os mais
chocantes".
Pesquisa do IPEA
sobre mulheres e estupro é destaque na França
RFI – 29, 30 de março de 2014
Imagem do protesto
convocado pelas redes sociais.
(Foto: Reprodução)
A
imprensa francesa deste sábado deu destaque à pesquisa do IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), mostrando que 65,1% dos entrevistados pensam que
uma mulher usando roupas provocantes "merece ser estuprada." A
notícia gerou revolta nas redes sociais e uma reação imediata da presidente
Dilma Rousseff.
O site do jornal de
esquerda Libération, da revista Le Point e da emissora de rádio francesa RTL lembram que os resultados da pesquisa feita com
3.810 homens e mulheres provocaram indignação entre os internautas brasileiros.
58,5% dos entrevistados também declararam que, "se as mulheres se
comportassem melhor, haveria menos estupros."
Em sua conta no Twittter, a presidente
Dilma Rousseff estimou que "a sociedade brasileira ainda tem muitos
progressos a fazer", e pediu que o governo e a população trabalhassem
juntos contra a violência que atinge as mulheres.
Em resposta, cita a
imprensa francesa, a jornalista e militante Nana Queiroz convocou uma
manifestação no Facebook nesta sexta-feira, pedindo que as mulheres publicassem
fotos com roupas curtas, em forma de protesto, com o cartaz "Eu não mereço
ser estuprada", que virou hashtag nas redes.
"O mais
surpreendente é que é permitido se despir durante o Carnaval, mas não na vida
real", protestou a jornalista. Ela ressaltou que, no Brasil, o culto da
sensualidade e do corpo se choca com o catolicismo conservador dominante. A
organizadora do protesto digital também recebeu ameaças de violência sexual.
Os sites franceses
também lembram que, em agosto de 2013, a presidente Dilma Rousseff reforçou a
legislação que protege as mulheres de violências sexuais. A decisão do governo
foi criticada pela Igreja Católica, que temia uma ampla legalização do aborto.
Durante a campanha de
2010, a presidente brasileira, ressalta a imprensa francesa, cedeu às pressões
dos evangélicos e se comprometeu por escrito a não descriminalizar o aborto,
decepcionando feministas e uma parte da esquerda.
Sugestão de leitura:
Sistema de Indicadores de
Percepção Social (SIPS) – Tolerância
social à violência contra as mulheres, Ipea, 27 de março de 2014.
Nota Técnica, por Daniel Cerqueira e Danilo
de Santa Cruz Coelho – Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde (versão
preliminar), n° 11, Ipea, Brasília, março de 2014.
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