sábado, 10 de setembro de 2011

ECOS DO INTOLERÁVEL


“Não é mais tolerável convivermos com o nível de corrupção que tem marcado o nosso país. (...) Se nos acostumarmos a deixar barato, perderemos o controle do que é público, do que é de todos nós...”.

Marina Silva
Ambientalista brasileira



No dia 19 de agosto do corrente, a ex-senadora Marina Silva publicou o artigo Intolerável no jornal Folha de S. Paulo, ao mesmo tempo em que o reproduziu em seu site oficial. As duas primeiras palavras ditas pela ambientalista foram “corrupção mata”. O artigo, por seu forte teor, deve ter gerado tanta repercussão que o jornalista brasileiro Alberto Dines escreveu a respeito. Eu mesma, no dia 20 de agosto, transcrevi o referido artigo em meu blog. Vejamos, então, os comentários que o jornalista fez, postados, inclusive, no blog de Marina Silva, no dia 08 deste mês.

Nathalie Bernardo da Câmara






Corrupção mata

Por Alberto Dines
Jornalista, escritor e editor responsável pelo Observatório da Imprensa


Com esta sentença de apenas duas palavras na primeira linha do seu inspirado artigo na “Folha”, a senadora Marina Silva disparou nesta sexta-feira uma convocação que poderá transformar o país em curtíssimo prazo. Para sempre.

Por coincidência, na véspera, Dilma Roussef, antiga adversária dentro do governo Lula, declarou solenemente ao lado de um ex-presidente da República (FHC): “A faxina é contra a miséria”. A faxina mencionada pela presidente é contra a corrupção, mas a solenidade onde discursou foi o lançamento do Pacto Sudeste do programa Brasil sem Miséria. Estava armada a equação corrupção=miséria cujo corolário a eloqüência de Marina Silva deu uma messiânica dimensão: miséria mata, corrupção também.

O fuzilamento da juíza Patrícia Acioli que investigava a vinculação de PMs com as milícias em S. Gonçalo, Estado do Rio, escancara o veloz up-grade dos quase inofensivos “crimes de colarinho branco” em bárbaras chacinas cometidas por usuários de boinas negras. O crime só se organiza em ambientes vulneráveis à corrupção. Manifesta-se inocentemente, logo assume a sua malignidade integral.

Consultorias “técnicas”, lobbies para obter vantagens e vencer licitações parecem inocentes exercícios de enriquecimento, pseudo-empreendedorismo. Na verdade são a face desarmada de um sistema subversivo, sanguinário e selvagem, à margem do Estado e de seus códigos.

Miséria e corrupção constituem um monstro de duas cabeças, entidade siamesa, indivisível, que o ativista indiano Anna Hazare resolveu enfrentar, destemido e desarmado. Sua pregação cívica já empolgou milhões de indianos em diversos cantos do país. Sua principal reivindicação agora é a entronização da figura do ombudsman contra a corrupção em todos os níveis, a partir das aldeias.

A principal arma de Anna Hazare (aliás Kisan Baburao Hazare, 74 anos) é a greve de fome. Já fez várias desde 1991, sempre vitorioso. Morrer de fome na Índia é corriqueiro, sacrificar-se sem comer é uma arma política santificada, imbatível. Graças às ameaças de imolar-se Mohandas Gandhi, o Mahatma, encostou o colonizador britânico contra a parede e apressou a independência da Índia em 1947. Gandhi cunhou a expressão Satiagraha, firmeza na verdade (que no Brasil tornou-se caricatura de honestidade).

Hazare tem outras reivindicações (fim das castas, fortalecimento dos conselhos municipais, rigoroso controle de natalidade, combate ao alcoolismo, etc.), mas a corrupção é a sua principal inimiga. Para ele a gigantesca miséria indiana só acabará quando for interrompido o formidável desvio de dinheiro público para o bolso dos privilegiados. Chega ao extremo de pedir a pena de morte para os corruptos.

Hazare não está sozinho: na última greve de fome foi acompanhado por dezenas de ativistas, sua prisão na última semana provocou um protesto nacional. Foi libertado em seguida e já se prepara para outra. A Índia descobriu o seu verdadeiro carma. Uma ONG lançou um site “I paid a bribe” (eu paguei propina) onde o cidadão indica a repartição onde pagou propina e o seu valor. O site já publicou cerca de doze mil episódios de corrupção em menos de um ano.

Brasil e Índia, junto com Rússia e China fazem parte do quarteto BRIC, todos empenhados em erradicar a miséria. Melhor sucedidos serão aqueles que antes liquidarem a corrupção.



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