quinta-feira, 15 de setembro de 2011

QUEM FOI JOANA?*


Jeanne D’Anjou (1326 - 1382)
Rainha de Nápoles


“A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout.
Eles mesmos fazem a arte-final...”.

Luís Fernando Veríssimo
Escritor brasileiro



Coroada rainha, em 1344, após a morte do avô, Joana era tida como uma protetora de poetas, artistas e intelectuais. A sua vida, contudo, foi recheada de escândalos e polêmicas as mais diversas, sendo, inclusive, acusada de conspirar contra a vida do primeiro marido, o príncipe húngaro Andrew, barbaramente assassinado. Exilada em Avignon, na França, Joana instalou-se em um castelo que já havia sido residência de vários papas. Levada a julgamento pelo suposto envolvimento na morte do marido, foi inocentada, ficando livre para mandar e desmandar em Avignon.

No dia 8 de agosto de 1347, indignada com a prostituição feminina nas ruas de Avignon, Joana publicou um edital que, segundo o escritor francês Alexandre Dumas, Pai (1802-1870), em seu romance Comemorou crimes, escrito em 1839/40, foi, provavelmente, o primeiro no gênero. No edital, além de determinar a criação de um prostíbulo, decretou normas de funcionamento e de conduta, a fim de que a ordem fosse mantida, a aplicação de severas sanções para toda e qualquer violação das normas de disciplina. A Nova Babilônia, no dizer de Dumas, era, por assim dizer, uma “instituição salutar”.

No prostíbulo, portanto, reinavam soberanas línguas e costumes, esplendor e trapos, riqueza e miséria, rebaixamento e grandeza. Entre as normas, contudo, constava a restrição de que o estabelecimento abriria todos os dias do ano, “com exceção dos últimos três dias da Semana Santa”, além – o mais curioso – de “a entrada ser barrada aos judeus”, o que, de certa forma, contrariava a principal norma:


“O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar”...


A máxima viajou o mundo de várias formas, embora com o mesmo sentido, e, chegando ao Brasil, trazida pelos colonizadores portugueses, tornou-se conhecida na expressão: Casa de mãe Joana, que, segundo o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898 - 1986), significa onde cada um faz o que quer. Pior! Um lugar onde impera a desordem, bem como a desorganização e o desmando, além da variante chula: Cu da mãe Joana – ninguém merece! No caso do gesto de Joana, uma alcunha, no mínimo, injusta. Alguém tem alguma dúvida?

* Publicado originalmente no dia 05 de agosto de 2009, embora esta versão, na qual foi acrescentada uma epígrafe, possa ser considerada, no atual contexto, uma sequência da postagem anterior, na qual Joana foi citada.


Nathalie Bernardo da Câmara





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