quarta-feira, 3 de junho de 2009


Dois poemas de
Bertolt Brecht (1898 - 1956)




O ESCRITOR SENTE-SE TRAÍDO POR UM AMIGO



O que a criança sente
quando a mãe vai com um estranho?

O que o carpinteiro sente
quando lhe vem a vertigem, o sinal da idade?

O que o pintor sente
quando o modelo não mais aparece e o quadro está inacabado?

O que o físico sente
quando descobre o erro bem adiante na cadeia de experiências?

O que o piloto sente
quando sobre as montanhas cai a pressão do óleo?

O que o avião sentiria
se o piloto guiasse bêbado?



(1941 - 1947)




HINO A DEUS



1



No fundo dos vales escuros morrem os famintos,
mas você lhes mostra o pão e os deixa morrer.
Você reina eterno e invisível,
radiante e cruel, sobre o plano infinito.



2



Deixou os jovens morrerem e os que fruíam a vida,
mas os que desejavam morrer não permitiu...
Muitos daqueles que, agora, apodreceram
acreditavam em você e morreram confiantes.



3



Deixou os pobres mais pobres, ano após ano,
porque o desejo deles era mais belo que o seu céu.
Infelizmente, morreram antes que chegasse com a luz.
Porém, morreram bem-aventurados e apodreceram imediatamente.



4



Muitos dizem que você não existe e que é melhor assim.
Mas, como pode não existir o que pode assim enganar?
Se tantos vivem de você – de outro modo não poderiam morrer –, diga-me: que importância pode ter, então, que você não exista?



(1913 - 1926)







Extraídos do livro Brecht – Poemas (1913 - 1956)
Seleção e tradução: Paulo César Souza
2ª Edição
Editora Brasiliense, 1986, São Paulo, SP
Atualizado e revisado: Nathalie Bernardo da Câmara




Nathalie Bernardo da Câmara
Do verbo...

Um comentário:

  1. Oi Nathalie você nos enriquece com seu blog. Não conhecia esse poeta.
    Cristina Bernardo

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