terça-feira, 2 de junho de 2009

VÔO 447



“O amor se faz mais nobre na calamidade...”.
Gabriel García Márquez


Da Cidade Maravilhosa à Cidade Luz... Na rota do vôo 447, da Air France, do Rio de Janeiro a Paris, após sobrevoar o arquipélago de Fernando de Noronha, no Oceano Atlântico, e já nos arredores dos chamados penedos de São Pedro e São Paulo, ainda na costa brasileira, o medo: chuvas, trovões, turbulências e raios – fenômenos climáticos rasgando a cortina da madrugada escura. De repente, o nada. Só o mar... Sei não, mas eu acho que ninguém deveria padecer após recém-passar pelo Paraíso. Afinal, Noronha é um dos lugares mais belos e privilegiados que existe no mundo – uma pérola – e, nesse caso, teria sido uma das últimas visões dos passageiros do vôo 447, antes da aeronave desaparecer dos radares...





Morro do Pico – Fernando de Noronha




Isto é! Se, devido o horário, pouco antes do acidente, eles não estivessem dormindo ou, se acordados, tinha luz suficientemente natural – sem falar na dos raios – para que pelo menos enxergassem o Morro do Pico (321 metros de altura), um dos cartões postais de Noronha, que, aliás, fica, apenas, a 360 km de Natal e a 630 km do arquipélago de São Pedro e São Paulo, que é composto de dez ilhotas e um santuário ecológico praticamente perdido no oceano e sobre a linha do Equador (menos de um grau Norte), sendo, ainda, por decreto, juntamente com o Atol das Rocas e Noronha, declarados Áreas de Proteção Ambiental - APAs pelo governo brasileiro, freqüentado, aliás, apenas por pesquisadores de diversas instituições de ensino a realizar vários projetos.


O arquipélago de São Pedro e São Paulo faz parte, também, de uma área que foi denominada Amazônia Azul, beneficiando a Zona Econômica Exclusiva do Brasil, e é o habitat natural e permanente de milhares de lagostas, algumas, inclusive, centenárias – imaginem o tamanho! –, e de tubarões-baleia, tubarões-martelo... Quanto aos santos, segundo biografia de homens bíblicos – qualquer semelhança é mera coincidência –, São Pedro foi um pescador apóstolo e São Paulo um apóstolo de náufragos gentis. Para quem acredita em coincidências e superstições, o ocorrido pode ter tudo a ver, sendo as vítimas recolhidas por Paulo e postos no barco de Pedro antes, claro, da chegada dos tubarões...
Penedos de São Pedro e São Paulo

O fato é que, decolando do aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim – Galeão –, no Rio de Janeiro às 19h03 (horário de Brasília) do dia 31 de maio, o avião optou por uma das cinco rotas - a quinta - de acesso à Europa e à África, com chegada prevista ao aeroporto Charlles de Gaulle, em Paris, às 6h10 (horário de Brasília). A 565 km de Natal, às 22h33, o piloto da aeronave manteve um último contato de voz com o controle aéreo brasileiro, em Recife, quando foi informado que logo entraria no espaço aéreo do Senegal, na África. Pouco depois, às 22h48, o avião ficou fora da cobertura do radar de Noronha, sendo o registro o de um vôo com velocidade (840 quilômetros por hora) e altitude (35 mil pés) normais, em pleno vôo de cruzeiro, como costuma-se dizer na aviação.


Às 23h, uma forte turbulência surpreende tripulantes e passageiros e, às 23h14, o avião envia uma mensagem eletrônica de pane ao centro de controle de Recife, informando que teria ocorrido perda de pressurização e falha no sistema elétrico. Não demorou muito, às 23h20, o avião não não mais faz contato com o centro de controle, como estava previsto, e desaparece do radar, bem como, evidentemente, as duzentas e vinte oito das pessoas que nele estavam: 126 homens; 82 mulheres; 7 crianças; 1 bebê e 12 tripulantes. Curiosamente, os controladores de vôo do aeroporto Charlles de Gaulle garantem que só perderam contato com o avião às 3h (horário de Brasília)...


Perda de contato por completo, a inquietação generalizou-se e providências começaram a ser tomadas para se saber o que tinha acontecido com o vôo 447 e onde a aeronave poderia estar. De pronto, o presidente da Federação Internacional das Associações de controladores de Tráfego Aéreo - FACTA (em inglês), Mark Baumgartner, disse que o desaparecimento de aviões de telas de radar durante o vôo é “raríssimo”. E completou, explicando que, em certos casos, o avião deve realizar um pouso de emergência no meio do caminho”. Mas, em pleno oceano, caríssimo Baumgartner, como isso seria possível? Afinal, avião nenhum é fragata [pássaro], para pousar onde bem quiser, seja na terra, seja no mar, independentemente do problema apresentado.
Fragata


No caso, deveras um probema sério. Sério até demais! Tanto que impediu o piloto de retornar e aterrissar no aeroporto de Fernando de Noronha ou prosseguir um pouco mais e aterrissar no aeroporto de Espargos, na ilha do Sal, em Cabo Verde – as duas únicas possibilidades diante da localização em que se encontrava a aeronave. Mesmo porque, o presidente da Air France, Pierre Henri Gourgeon, afirmou que o piloto era experiente, com onze mil horas de vôo, e que, desde 1988, está na companhia, considerando, portanto, “uma catástrofe sem igual”, o que, provavelmente, deve ter acontecido, ou seja, um acidente sem precedentes.




O porta-voz da companhia aérea, por sua vez, reafirmou que “não há mais esperanças de localizar o vôo 447”, disponibilizando vários números toll free para quem quisesse obter infrmações a respeito dos passageiros que estavam no vôo:

Para todo o Brasil: 0800 881 2020
Para a França: 0800 800 812
Para outros países: + 33 1 57 02 10 55

Ao mesmo tempo, uma fonte aeroportuária francesa, declarou que “a preocupação é muito grande”, pois uma avaria nos radares é pouco comum e que “o avião não pousou como estava previsto”. Enquanto isso, o diretor de comunicação da Air France, François Brousse, disse que a hipótese “mais provável” é a de que a aeronave tenha sido atingida por um raio. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, em comunicado as famílias das vítimas e à imprensa, fez coro com o porta-voz da Air France, dizendo que essa é “uma catástrofe aérea” até então nunca vista pela companhia e que não tem esperança de sobreviventes. Pensa de igual modo Jean-Louis Borloo, ministro francês do Desenvolvimento. Para ele, deve-se esperar o “mais trágico dos cenários”.


Segundo o metereologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC, do Instituto de Pesquisas espaciais - Inpe, Marcelo Celuchi, a região onde o vôo 447 desapareceu é uma região de tempestade contínua, a chamada “zona de convergência intertropical”, igualmente não descartando a possibilidade de o avião ter sido atingido por um raio. Para o assessor de imprensa da Aeronáutica, Henry Munhoz, participam das buscas do Airbus A330 aviões e helicoptéros, tendo como base Natal e Fernando Noronha e coordenação do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo - Cindacta III, em Recife, que executa as atividades de controle do tráfego aéreo comercial e militar, vigilância do espaço aéreo e comando das ações de defesa aérea na Região Nordeste do Brasil e na área oceânica que separa o Brasil da África e da Europa.


Além disso, as buscam contam, também, com o empenho das Forças Armadas do Brasil - FAB. A Associação Nacional de Aviação Civil – Anac, por sua vez, só pode liberar a lista completa e oficial de passageiros após a identificação das suas respectivas nacionalidades – já feitas – e após comunicar as famílias do ocorrido. Até o momento desta postagem, a lista dos passageiros do vôo 447 ainda não tinha sido divulgada. No entanto, O Estado de São Paulo forneceu as seguintes informações:

1 sul-africano; 26 alemães; 2 americanos;1 argentino; 1 austríaco; 1 belga; 58 brasileiros; 5 britânicos; 1 canadense; 9 chineses; 1 croata; 1 dinamarquês; 2 espanhóis; 1 estoniano; 61 franceses; 1 gambiano; 4 húngaro; 3 irlandeses; 1 islandês; 9 italianos; 5 libaneses; 2 marroquinos; 1 holandês; 3 noruegueses; 1 filipino; 2 poloneses; 1 romeno; 1 russo; 3 eslováquio; 1 sueco; 6 suíço e 1 turco.

Um fato, contudo, deve, no mínimo, ser levado em consideração, que foi a declaração de um piloto da TAM, que, realizando o trecho Paris-Rio, disse ter visto pontos alaranjados e luminosos, como focos de incêndio, na superfície oceânica, embora no espaço aéreo do Senegal. No entanto, se foi ventilada a possibilidade de vestígios do avião nas proximidades do arquipélago de São Pedro e São Paulo, que é uma APA e que, por isso, possui uma estação científica, garantindo a sua habitalidade, é provável que haja sobreviventes. Mas, se, porventura, a aeronave tivesse caído próximo aos penedos, os pesquisadores do lugar já deveriam ter entrado em contato com as autoridades – coisa que não aconteceu.


É possível, então, que o avião tenha caído em outro lugar e as correntes marítimas tenham arrastado possíveis pedaços da sua fuselagem e resíduos de óleo, como foi dito pela imprensa, por toda parte. E já que o piloto da TAM viu os tais pontos laranjas luminosos, tipo focos de incêndio, em uma localização que pertencia ao espaço aéreo do Senegal, por que o piloto do vôo 447 não tentou aterrissar antes, na ilha do Sal, em Cabo Verde, já que lá tem um aeroporto em Espargos? De fato, um mistério, o desaparecimento do Airbus A330. Agora, se foi mesmo um raio que atingiu a aeronave, comprometendo o seu sistema elétrico e os computadores de bordo, provocando uma despressurização, ou seja, uma perda de pressão, não teria pista de pouso que desse jeito.


E se foi, deve, no mínimo, ter partido a aeronave em duas ou mais porções, fazendo valer a expressão: O raio que o parta!, que, nesse caso, teria sido feita por encomenda. Não, não é humor negro. Ao contrário! É porque o fato é tão absurdo e inacreditável que Noronha só me vem à memória como um lugar de magia e paz. Não de tragédias, embora, até mesmo em um recanto paradisíaco, repleto de encantos, seja possível o despertar de prantos. Fico, então, a pensar em uma brasileira, a jornalista Adriana Van Sluings, 40, que, além de ser assessora de imprensa da Presidência da Petrobras, tinha medo de voar e estava no vôo 447, e que, entre um trovão e um raio, desapareceu dos radares na madrugada do dia 1° de junho. Foi a última viagem a trabalho da jornalista. E a sua despedida da vida...




A pergunta que não quer calar:



Teria sido o vôo 447 abduzido?

Afinal, ninguém, até agora, sabe do seu paradeiro!



Nathalie Bernardo da Câmara
Dos ares...

Um comentário:

  1. Parabens Nathalie pela matéria. Muitas perguntas jamais poderão ser respondidas para as autoridades, para as famílias e para o mundo. Mais diante das notícias divulgadas eu acho que o avião se desintegrou em pleno ar. Aí só a noite, os raios e a tempestade como testemunha.

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