ABERTA A TEMPORADA CIRCENSE II
Vinde a mim os holofotes...
Manobrar e operar com as mãos
são dois dos significados do verbo transitivo manipular...
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
1ª unidade da Federação a encerrar a apuração no Brasil a apenas quatro horas após o fim da votação, o Distrito Federal surpreendeu, fazendo da candidata Marina Silva (PV) a senhora do primeiro turno pelo menos no Cerrado, já que o colégio eleitoral local conferiu-lhe, aproximadamente, 42% do seu eleitorado, representando o maior percentual obtido pela presidenciável em todo o país – nem no Acre, por exemplo, o seu estado de origem, a ambientalista foi tão votada! Paradoxalmente, o Distrito Federal foi igualmente surpreendido com a ida para o segundo turno de Weslian Roriz (PSC), candidata ao governo pela coligação Esperança renovada, que, aliás, já o havia pegado de surpresa quando, na reta final da campanha, ela substituiu o marido, o ex-governador Joaquim Roriz, que, ameaçado de ter a sua candidatura impugnada pelo Supremo Tribunal Federal - STF, não quis arriscar e, no dia 24, renunciou, colocando a esposa em seu lugar.
Para a cientista política brasileira Flávia Biroli, da Universidade de Brasília - UnB, “é violenta a forma como a família expôs essa mulher – diz –, uma candidata incapaz de sustentar posições sobre qualquer tema.” Segundo a jornalista Isabel Clemente, da revista Época, “os adversários não a pouparam por delicadeza. Ficaram com medo de que ela chorasse diante de perguntas duras e que a vitimização lhe rendesse votos. Foram tão cautelosos que quase se desculpavam por ter de questioná-la sobre corrupção. Nos bastidores do debate, reinava o constrangimento. O principal sentimento era de vergonha alheia”. O cientista político brasileiro David Fleischer, por sua vez, também da UnB, disse, inclusive, que, além da sua performance triste e lamentável, Weslian Roriz “virou a mulher laranja”, se referindo a sua atuação no debate promovido pela TV Globo no dia 28 de setembro, no qual ela deixou claro que, caso eleita, quem irá comandar o seu governo é o marido - como se fosse novidade...
O fato é que a maracutaia engendrada por Joaquim Roriz tanto pegou e o povo é de uma criatividade sem precedentes que também já tem quem chame o ex-governador e a esposa de Casal 20, alusão ao seriado televisivo norte-americano de mesmo nome, exibido de 1979 a 1984, e ao número do partido de ambos, o PSC, que é o 20, passando a idéia de que, ao votar em Weslian, o eleitor ainda leva Roriz de lambuja. E o pior é que a dobradinha eleitoral deu tão certo que Weslian obteve 440.128 votos (31,50%), atrás apenas de Agnelo Queiroz (PT), com 676.394 votos (48,41%). Só que o despropósito maior, logo após a confirmação de que a esposa iria para o segundo turno, independentemente do adversário a combater, ocorreu durante a comemoração do feito, digamos assim. Ou seja, após dar uma declaração aos jornalistas, que a cercavam, Weslian, ladeada pelo marido, rapidamente se desvencilhou das demais perguntas e se ausentou do ambiente em que estavam.
Não satisfeitos, os jornalistas insistiram para que ela respondesse a mais perguntas. Só que, em um repente de fúria, se dirigindo aparentemente a um dado repórter, devido o seu olhar fixo em algum ponto dos microfones em punho, com as pupilas a ponto de saltarem fora, igual as dos psicopatas, Joaquim Roriz foi áspero – para não dizer grosseiro, sem o mínimo de polidez e semancol –, praticamente ordenando que o deixassem dar uma entrevista: “Deixe eu falar! Ela já falou! Deixe eu falar!”. Sei não, mas ficou parecendo que Roriz deve ter dado um beliscão daqueles em Weslian, acintosamente impelindo-a a sair de perto para que ele, que se considera o todo-poderoso, pudesse ser o alvo dos holofotes e não ela. Ocorre que, pelo menos para os jornalistas – não importa se, dentro de casa, antes da mulher sair as ruas para fazer campanha, ele dê os comandos das falas que devem ser ditas aos eleitores e, caso eleita, continue a manipular a sua gestão –, a candidatura registrada no Tribunal Regional Eleitoral - TRE é a dela.
Assim, Roriz que baixe a bola e se conforme com o seu papel secundário de primeiro cavalheiro, digamos assim – coisa, aliás, que nem poderia ser vislumbrada, caso o Supremo Tribunal Federal - STF fosse uma instituição decente, ou seja, permitir a substituição de um cônjuge por outro, considerando que, e é de conhecimento público, as urnas eletrônicas já estavam irreversivelmente preparadas com as fotos, os nomes dos candidatos e o número dos seus respectivos partidos para o pleito do dia 3 quando foi feita a tal artimanha. Artimanha essa, aliás, que só foi adiante com a conivência dos ministros do STF, os quais, como eu já disse em outro post, estão com o discernimento comprometido, seja em conseqüência do ócio, seja em função dos dividendos que recebem para, vez ou outra, fraudar a legislação eleitoral em benefício de certos políticos inescrupulosos – uma manada de crápulas –, cujos interesses resumem-se à satisfação dos seus egos inflados.
No caso de Joaquim Roriz, que até quem esteja internado em um sanatório há cinqüenta anos – tempo de vida pública do político – tem conhecimento da sua fama de corrupto e de como ele enriqueceu não por mérito, mas por meios ilícitos – daí a sua ficha ser mais poluída do que a bacia do rio São Bartolomeu, manancial, inclusive, considerado o mais importante para o futuro abastecimento de água da capital do Brasil, mas apenas se conseguir se recuperar dos efeitos nocivos provocados pela desenfreada ambição humana -, justamente pelo fato de a sua candidatura ter sido impugnada, nada impedia que, por mais que o seu nome, a sua foto e o número do seu partido não pudessem mais ser retirados das urnas eletrônicas, o TRE tinha a obrigação, sobretudo moral, de desconsiderar os votos dos desavisados da decisão judicial. E, em hipótese alguma, admitido a substituição da sua candidatura pela de outro qualquer, não importa quem fosse a criatura.
Afinal, como eu já disse e muita gente que também tem bom senso igualmente o diz, no Brasil, que os políticos oportunistas e demagogos juram de pés juntos ser um país democrático, os direitos – qualquer que seja a sua natureza – têm, no frigir dos ovos, dois pesos e duas medidas. No caso do Distrito Federal, com esse favorecimento escrachado da Justiça – um fantasma a vagar – ao ex-governador Joaquim Roriz – outro espectro que não aceita à derrocada –, nem peso nem medida têm. A sensação que se tem, portanto, é a de que esse homem, outrora governador biônico, quando da ditadura militar (1964 - 1985), vai terminar implodindo de tanta contrariedade, já que todas as mulheres do seu entorno íntimo, ou seja, a esposa, que está no segundo turno para o governo do Distrito Federal – até animada com a experiência política –, e duas das suas filhas, uma eleita deputada distrital e outra federal, estão se dando bem e ele... Nada! Nem ai.
A solução, talvez, para Joaquim Roriz, caso Weslian venha a ser eleita governadora do Distrito Federal – o que seria um desastre e um retrocesso político para a capital do país –, seja a de ele conseguir uma boquinha como o seu porta-voz no Palácio do Buriti, já que o seu forte mesmo é a demagogia, exercitada, inclusive, ao longo de décadas, com empáfia e uma retórica própria, visto que sempre exultou em ser o centro das atenções, dando vazão as suas vaidades de ególatra. Isso sem falar que pelo menos uma ocupação ele teria. Não ficaria ocioso, apenas aumentando as chances – coitado –, considerando a sua idade, setenta e quatro anos, de desenvolver o Mal de Alzheimer, já que, até 2022, quando terá oitenta e seis, ele estará inelegível a qualquer cargo público. Ou, então, vai ver que tenha chegado a hora de ele se dedicar a algum tipo de hobby – jardinagem, por exemplo – ou, quiçá, contratar um profissional para escrever a sua biografia ou memórias.
Poderia, ainda, aproveitar o tempo que terá de sobra nos próximos doze anos para aprender – nesta vida nada é impossível –, nem que seja por experiência, a fazer política de maneira limpa, transparente e decentemente – igual estão fazendo os 1.500 garis escalados para tentar deixar o Distrito Federal mais aprazível, já que, as vésperas do pleito do dia 3, aqueles que desconhecem o que seja poluição ambiental, depositaram, por toda a parte, artigos das campanhas eleitorais, panfletos e santinhos dos candidatos, por exemplo, já correspondendo, desde segunda-feira, 4, a 1.277,8 toneladas de lixo espalhadas aleatoriamente. Ou seja, se levou um dia para sujar, se leva, agora, uma semana para limpar. E que ele, Joaquim Roriz, usufrua do ócio para aprender que analfabeto político não é somente aquele que, sem consciência, faz pouco da importância do seu próprio voto, mas, também, aquele que faz da política uma mina de metal precioso a ser explorada sem limites...
Nathalie Bernardo da Câmara
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