sábado, 2 de outubro de 2010

PODRES PODERES



“Nunca se mente tanto como antes das eleições,
durante uma guerra e depois de uma caçada...”.

Otto Von Bismarck (1815 - 1898)
Político alemão



A mídia é um instrumento de poder que, se mal utilizado, se torna algo extremamente perigoso e nocivo à sociedade. E digo isso não como leiga, com a intenção leviana de denegrir essa complexidade da comunicação, mas como jornalista e estudiosa do assunto, não sendo à toa, portanto, que pensei em pegá-la como gancho para comentar a respeito do término, nesta quinta-feira, 30 de setembro, da propaganda eleitoral gratuita – rádio e televisão –, mais uma vez constatando a aparente natural tendência de vitória, nem que seja por meios escusos, do mais forte sobre o mais fraco. Ou seja, os partidos políticos mais estruturados, com as suas coligações muitas vezes nebulosas e fundos de campanha de origem duvidosa, portando mais tentáculos do que uma geração inteira de polvo, que eles tentam disseminar em todas as esferas da sociedade, terminam, à custa do vil metal, adquirindo vantagens as mais diversas – tempo maior, por exemplo, para exporem as suas propostas nos programas eleitorais gratuitos; conseqüentemente, maior visibilidade – e fortalecendo as suas bases de sustentação, em detrimento dos ditos partidos nanicos.

E, se já estão no poder, então, ambicionando uma continuidade, se apropriam, indevidamente, a seu bel prazer, sem pudor nem ética, da máquina do governo que controlam, não importa se em âmbito municipal, estadual, distrital – no caso do Distrito Federal – ou federal. Tal prática, inclusive, de há muito entranhada no fazer política neste Brasil de demagogos e corruptos, fere todo e qualquer princípio democrático. Mas, quem se importa? Só que a referida prática lembra a história contada pelo escritor italiano Italo Calvino (1923 - 1985) sobre o país onde todos eram ladrões, sendo a única exceção um cidadão para lá de honesto. Tal história, aliás, intitulada A Ovelha negra, um dos continhos do livro Um general na biblioteca, publicado pela Companhia de Bolso em 2010, transcrevi neste blog no dia 29 de setembro – vale conferir! Então... O partido-mor, digamos assim, que ora governa o país, tem, contraditoriamente, já que, historicamente, sempre combateu certas práticas políticas que atentam contra a democracia, repetido os mesmos erros dos seus antecessores.

E ai de quem se atrever a dizer isso! Só que eu digo. Afinal, no final da década de oitenta, trabalhando como repórter fotográfico – quando não, militando –, cansei de cobrir manifestações promovidas pela esquerda, cujos slogans eram: Contra o imperialismo norte-americano; Não à privatização; Pela democracia; O povo no poder e por aí ia... À época, eu era filiada ao Partido Comunista Brasileiro - PCB e conheci de perto muitos militantes brasileiros de esquerda históricos: Vulpiano Cavalcanti (1911 - 1988), camarada e amigo; Luís Carlos Prestes (1898 - 1990); Leonel Brizola (1922 - 2004), entre outros. Conheci Lula, inclusive, durante a sua primeira campanha para presidente do Brasil, em 1989, quando, em Natal – ele ainda usava camiseta e não devia ser Hering –, fez um comício na Praça do Relógio, no bairro do Alecrim, transmitindo, em seu discurso inflamado, sem medo de ser feliz, os seus ideais e os do seu partido, o PT. Eu, particularmente, à época, votei em Roberto Freire, candidato do PCB. Lula, por sua vez, perdeu a eleição para o ex-presidente Fernando Collor de Mello e, nas eleições de 1994 e 1998, perdeu duplamente para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 2002, contudo, Lula finalmente foi eleito. Parecia, então, que havia chegado a hora de sermos felizes – de há muito eu havia me desligado do PCB, sem, entretanto, me engajar nas fileiras de outro partido político qualquer. Enfim! Primeiro mandato... Em minha opinião, salvando uma coisinha ali, outra aqui, perdi o encanto por Lula. E por diversos motivos que não vem ao caso, embora um episódio eu faça questão de lembrar, que foi a viagem ao Brasil, em outubro de 2005, do ex-presidente norte-americano George W. Bush. Em Brasília – fui testemunha –, enquanto, por toda parte, pipocavam manifestações de repúdio ao visitante indigesto, Lula o recebeu de braços abertos, calorosamente – não precisava tanto! –, como se estivesse revendo um amigo de infância... A sua efusividade foi tamanha que me causou espanto, já que, em tempos remotos – e ponha remoto nisso! –, Lula era o primeiro a exorcizar tudo o que fosse Made in EUA, sobretudo os seus presidentes, tendo, ainda, como hábito, chamar de entreguista quem, em um relance, dissesse que não tinha nada demais um chefe de estado norte-americano vir ao Brasil.

Assim, recebendo Bush, Lula pôs por terra todos os seus antigos discursos antiimperialistas. Obviamente que quando, no passado, na condição de oposição, Lula cuspia desprezo pelos Estados Unidos, desconhecia o que se chama diplomacia. Depois, ao assumir o poder, percebeu que o buraco é mais embaixo, embora – convenhamos – uma coisa teria sido receber Bush limitando-se à polidez; outra se derramar em mimos para, de livre e espontânea vontade – ninguém o obrigou –, agradar o mandante da invasão ao Iraque, ocorrida em 2003. Enfim! Em 2006, Lula é reeleito, mas sem o meu voto. Chegamos, assim, a 2010. E, diante do que tenho visto, não duvido nada que, se fosse possível, Lula venderia até a mãe ao mercado negro se a transação representasse garantia certa para eleger Dilma Rousseff presidente do Brasil. Engraçado... Para quem era contra o continuísmo de determinados grupos políticos brasileiros, que se mantinham no poder a ferro e fogo, Lula, agora, não difere em quase nada desses mesmos grupos, já que ele não sossega enquanto não fizer de Dilma a sua sucessora, que, aliás, junto com ele, exulta quando o assunto é a venda de ações da PETROBRAS.

A argumentação de Lula, portanto, para justificar o que o governo chama de Oferta Pública Primária de Ações, nome dado à venda das referidas ações, é compatível com as informações fornecidas pela própria PETROBRAS, ou seja, “a companhia pretende iniciar a chamada capitalização, ou aumento de capital, para levantar os fundos necessários para explorar o petróleo encontrado na camada pré-sal, no fundo do Oceano Atlântico, a mais de cinco quilômetros de profundidade”. Um retrocesso, eu diria, sendo, ainda, tal argumento, para muitos, um engodo, se resumindo a um processo paulatino de privatização da estatal – coisa, aliás, que, em um passado longínquo, o próprio Lula e demais militantes do PT eram terminantemente contra. Tanto que, desfraldando as suas bandeiras vermelhas, eles saiam pelos quatro cantos do país em defesa do patrimônio nacional. De há muito, contudo, percebo certo desbotamento do vermelho dessas mesmas bandeiras... Nada contra a cor vermelha nem, muito menos, contra bandeiras! Afinal, eu também, quando militante do PCB, cheguei a portar as minhas, todas, inclusive – diga-se de passagem – igualmente vermelhas.

Hoje, faço questão de ressaltar, continuo rubra nos ideais, a sonhar com uma sociedade mais justa e igualitária, onde o cidadão possa fazer valer a sua condição e ter respeitados os seus direitos e a sua dignidade. Porém, sei que não será para breve o tão almejado socialismo – se é que, um dia, isso se tornará uma realidade. Assim, enquanto continuamos à espera do que muitos chamam de utopia, só nos resta, nestas eleições, optar por uma candidatura comprometida com mudanças que, de fato, contemplem os dramas ambientais, que, por extensão, também são os dos seres humanos, cuja sobrevivência está seriamente ameaçada por desequilíbrios de proporções alarmantes, a exemplo do aquecimento global, resultado da ganância humana. Sim, o homem é o seu próprio algoz, embora a sua arrogância não permita que ele reconheça isso, correndo o risco, por sua falta de humildade, de passar a fazer parte da lista das espécies em vias de extinção, bem como toda a Terra. Sim, a questão da agressão ao meio ambiente por ações humanas é algo extremamente grave. Urge, portanto, que medidas sejam tomadas a fim de coibir os abusos cometidos.

Uma prioridade, eu diria, e não somente nacional, mas de todo o planeta. Daí a minha perplexidade, quando, em dezembro do ano passado, durante a 15ª Conferência do Clima da ONU (COP15), ocorrida em Copenhague, na Dinamarca, que reuniu líderes mundiais de cento e noventa países, com o objetivo de encontrar soluções para frear o aquecimento global da Terra, a chefe da delegação brasileira, Dilma Rousseff, que, à época, era a ministra chefe da Casa Civil, afirmou que “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável...”. Haja ignorância ou falta de consciência! Sei não, mas se uma presidenciável trata com tanto descaso o seu próprio habitat, bem como o dos demais habitantes do planeta, entre outros deslizes cometidos por ela ao longo dos anos em que fez parte do governo Lula, fico a imaginar os riscos que os brasileiros estarão correndo caso Dilma seja eleita presidente do Brasil. Nada pessoal, mas tenho um pé atrás com a fase simpatia da candidata, que, durante a campanha eleitoral não tirava o sorriso largo dos lábios, parecendo o gato risonho de Alice no País das Maravilhas, do escritor britânico Lewis Carroll (1832 - 1898).

Afinal – é público e notório –, Dilma não costuma ser simpática. O que dirá, então, das suas supostas boas intenções! Reconheço, contudo, o drama que ela viveu durante a ditadura militar (1964 - 1985), quando, cativa de insanos, foi brutalmente torturada por defender a democracia. No entanto, o tempo passou e ela mudou – não me interessam os motivos. Eu só sei que a impressão que hoje tenho de Dilma é a de que ela está mais para neonazista do que para socialista. Não terá o meu voto. Nem ela nem Serra, que, a olhos vistos, transpira tecnocracia. Ocorre que, na atual conjuntura, como eu já havia dito antes, o Brasil está precisando é de um candidato que pense adiante dos problemas ambientais, buscando e encontrando soluções para os mesmos. É o caso de Marina Silva, que, nascida no Acre, conhecido dos brasileiros pela saga do líder sindical Chico Mendes (1944 - 1988), assassinado por fazendeiros da região, e pela minissérie Amazônia, da novelista brasileira Glória Perez, exibida pela Rede Globo em 2007, superou as mais diversas adversidades. De caráter idôneo, a ambientalista possui uma visão global e um entendimento sem fronteiras da nossa mãe Terra...




Nathalie Bernardo da Câmara


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