sábado, 30 de outubro de 2010

UM ESPECTRO RONDA O BRASIL:
O ESPECTRO DA INQUISIÇÃO...


Foto: D. R.

“O pior cego é aquele que não quer ver...”.

Dito popular




Eu já havia decidido que, neste segundo turno das eleições, não iria pedir voto a ninguém. Afinal, não sou pedinte, mendicante. Tanto que, apesar da antidemocrática obrigatoriedade do comparecimento à urna, eu fui, no pleito do dia 3 de outubro, de livre e espontânea vontade, conscientemente. Até paguei, do meu bolso, para isso. E votei feliz. Sim, porque, se sou contra a obrigatoriedade do comparecimento à urna – sei o que é democracia –, eu também poderia ter anulado o meu voto ou tentado justificá-lo, o diabo a quatro. Até rasgar a merda do título eleitoral, que não vale mais nem um centavo. Porém, ao contrário disso, contrariando a propaganda enganosa que diz que votemos no menos mal, votei na melhor: MARINA SILVA. O resto? Carnaval, que, aliás, não suporto. Só hipocrisia! E vindo goela abaixo, com direito a esofagites...

No entanto, quando, esta semana, certo idoso – com muito respeito só a sua idade (não à religião que prega) – fez uma maldita interferência no atual processo eleitoral brasileiro, se manifestando contra o presidenciável - qual deles? -, a favor do aborto, o meu estômago gritou, rasgou e foi parar no INFERNO: o Vaticano. Só que, mesmo querendo roubar a cena, o infeliz não conseguiu. E é, para mim, embora cada um tenha a sua posição e quereres, que muito respeito, uma das criaturas mais indigestas que a TERRA já teve o desprazer de pisar em seu solo. Igual todos os mais recentes presidentes norte-americanos, incluindo o atual, bem como líderes religiosos fundamentalistas etc. O nome do infeliz, ao qual me refiro? Joseph Ratzinger, acobertado pelo manto de Bento XVI, a peste em pessoa, ou seja, uma epidemia de dengue.

Quais os motivos para eu dizer isso? Todos! Segundo a minha irmã, virei, sem querer, especialista da biografia de Joseph Ratzinger. Nem tanto! Só li o suficiente sobre a sua vida para, enfim, bani-lo do meu universo. Enfim! Certa vez, publiquei um texto, no qual falo da criatura. Vou transcrevê-lo:


 
(...) Por seu curriculum vitae, que inclui um mandato de quase longos vinte e quatro anos (1981 - 2005) como prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, instituída pelo papa Paulo VI (1897-1978), em 1965, considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, ele [Joseph Ratzinger] ocupa o primeiro lugar no meu Index de persona non grata. À época, aliás, Bento XVI era o cardeal Joseph Ratzinger, arcebispo de Munique, na Alemanha, e foi indicado para o cargo por João Paulo II (1920 - 2005), de quem era mentor intelectual. 

Assim, não é de se estranhar muitas das posições do atual Papa, eleito em 2005 – o 8° de origem alemã e o 265° da História –, que, desde o início do seu pontificado, tem dado provas de que continua pensando como um inquisidor. Agora, óbvio, com mais poder, mais ainda, aliás, de quem ganha na mega-sena acumulada... Como podem ver, portanto, eu não faço parte das multidões de fiéis, que se ajoelham – e ele adora! –, diante das suas pregações de uma fé surreal, estimulando a prática da caridade, por exemplo, ao invés de promover a justiça social, mas, sim, das que se erguem – que ele teme! – diante do seu sadismo cada vez mais requintado.

Pior, inclusive, do que as arbitrariedades que ele cometeu quando era inquisidor. Sim, porque, à época, dispondo de apenas um martelinho, que era usado quando aplicava uma sentença, acusava um herege de cada vez. Agora, na condição de Papa, ampliou o seu campo de atuação e as suas vítimas, visto que o seu poder e influência tornaram-se consideravelmente maiores, já que disponhe não mais de um mísero martelinho, mas da chave da porta do céu, a qual só concede passagem aos que ele considera merecedores da sua santa indulgência. Vejamos, portanto, a título de ilustração, um dos inúmeros casos de prática inquisitorial exercida por Ratzinger quando era inquisidor.

Em 1985, por exemplo, Ratzinger decidiu aplicar um corretivo ao frade franciscano e teólogo brasileiro Leonardo Boff por causa do livro Igreja: carisma e poder, de sua autoria, que, publicado pela Editora Vozes, em 1981, apenas denunciava a opressão da mulher, a concentração do poder nas mãos do clero e defendia os direitos humanos. À época, fins do séc. XX – não mais a Idade Média, portanto –, Boff foi considerado um caso de heresia. O corretivo, então, foi a condenação de Boff ao silêncio obsequioso. “Uma espécie de silêncio penitencial”, explicou o teólogo basileiro, um dos fundadores da Teologia da Libertação. 

Leonardo Boff “não podia falar, escrever, publicar, dar aulas...”. Penalidades, aliás, extremamente paradoxais, sobretudo porque, quem as aplicou, um dia, talvez estivesse sob efeito de alguns cálices de vinho – bento, é claro! –, chegou a dizer que “quando o respeito é violado, algo de essencial se perde”. O tal do silêncio obsequioso, entretanto, só foi suspenso graças a outro religioso, o arcebispo brasileiro dom Paulo Evaristo Arns, que, em encontro com Ratzinger, disse: “Sua Santidade, o senhor fez com um aluno meu (Boff) aquilo que os militares do Brasil fazem: fechar a boca, cortar a língua”. Sem saída, o cardeal tentou se defender.

Constrangido, ele teria dito: “Eu, como os militares, torturadores? Absolutamente! Liberem o Boff!”... A ascendência de dom Evaristo Arns sobre o inquisidor, por sua vez, deveu-se ao fato da sua reputada e irrepreensível conduta moral e política – diferentemente da de Ratzinger, por exemplo – ao longo de vinte e oito anos (1970 - 1998) à frente da segunda maior comunidade católica do mundo, a Arquidiocese de São Paulo, perdendo apenas para a da Cidade do México. Ao assumir, então, o cargo de arcebispo, fez, mais uma vez, transparecer o seu caráter: vendeu o Palácio Episcopal por cinco milhões de dólares, empregando o dinheiro em obras sociais.

Além disso, dom Evaristo Arns destacou-se, ainda, por ter sido uma das mais expressivas lideranças religiosas do Brasil, sobretudo pela sua resistência e combate à intransigência da ditadura militar (1964 - 1985), em defesa das vítimas da repressão e dos direitos humanos, principalmente durante os chamados anos de chumbo, que teve início com a edição, pelo marechal Costa e Silva (1902 - 1969), em 13 de dezembro de 1968, do AI-5 – instrumento jurídico que suspendeu todas as liberdades democráticas e os direitos constitucionais e individuais dos cidadãos brasileiros, além de fechar o Congresso Nacional e censurar a liberdade de imprensa no Brasil.

O peso dos anos de chumbo, contudo, seria sentido, ainda, até o final do governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985), em março de 1974 – período, aliás, onde as torturas intensificaram-se. Porém, tema de um projeto de pesquisa, iniciado em 1979 e coordenado por dom Evaristo Arns, realizado durante anos no mais discreto e sigiloso silêncio, e concluído em 1985, os horrores cometidos pela ditadura militar estão registrados no livro BRASIL: NUNCA MAIS – em caixa alta mesmo. Publicado no mesmo ano da conclusão do projeto, o livro foi prefaciado pelo próprio Arns e, por seu teor, causou comoção e, obviamente, polêmicas.

Foi dessa realidade, portanto, à qual se referiu dom Evaristo Arns quando repreendeu o inquisidor Ratzinger por ter proibido Leonardo Boff de falar, escrever, publicar e dar aulas, silenciando-o injustamente. Bom! Como eu já disse em um outro artigo, intitulado As Bruxas de Salem, postado, inclusive, neste blog, podendo ser encontrado nos arquivos referentes ao mês de março [2009], “o curioso é que, interrogado durante horas no Palácio do Santo Ofício, onde, em tempos remotos, se praticavam torturas, Boff sentou-se na mesma cadeira onde, em outras circunstâncias, sentaram-se os italianos Galileu Galilei (1564 - 1642) e Giordano Bruno (1548 - 1600).

“Segundo Boff, os métodos da atual Inquisição mudaram. Hoje, se tortura apenas a psique do acusado, não mais o seu corpo... Ocorre que, anos depois, durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, Boff, mais uma vez, foi repreendido por Ratzinger, que voltou a lhe impor o silêncio obsequioso, além de obrigá-lo a deixar o Brasil e a América Latina, devendo escolher um convento, nas Filipinas ou na Coréia, onde ficaria encerrado, sem nem mesmo pensar!”. Cansado, contudo, dos desmandos do Vaticano, Boff, que vem se considerando “um cigano teológico”, reagiu, renunciando ao sacerdócio. Para ele, “a Igreja mente, é corrupta, cruel e sem piedade!”.

Em fevereiro [2009], entrevistado pela jornalista Fabíola Ortíz, da Agência de Notícias de Portugal, Leonardo Boff disse que, quando inquisidor, Ratzinger “puniu mais de 150 teólogos e cerceou a liberdade de pensamento na igreja”, questionando, inclusive, a sua indicação e eleição para o mais alto cargo da hierarquia da Igreja católica: “Até hoje é um mistério, pois [Ratzinger] é uma figura de desunião, de polêmica” (...).


Enfim! Não sou religiosa e nunca, nem sob tortura, negaria o meu ateísmo, embora respeite quem, independentemente de religião ou de não importa o quê, é decente, tipo, no caso da Igreja católica, a minha tríade religiosa querida: dom Paulo Evaristo Arns, Leonardo Boff e frei Beto. E só! O resto, como eu já disse antes, é carnaval. E não me falem mais em Bento XVI. Afinal, qual a moral de uma coisa (Ratzinger) que nem sabe o que são vaginas, ovários e úteros para, em nome de dogmas católicos – uma aberração! –, versar sobre o aborto, tentando influenciar o processo eleitoral do Brasil por causa desse assunto ou de outros, igual eutanásia, casamento entre pessoas do mesmo sexo, drogas etc? O melhor seria esse INFELIZ ir cuidar da PEDOFILIA que permeia as batinas das fileiras da instituição sem futuro que gere...

Daí que, hoje, Lula, o cara que preside o Brasil, disse que Bento XVI respeite o nosso país, que é laico. Engraçado... Foi a única frase decente do jovem em oito anos de governo que ouvi. Ah! Por curiosidade, Lula sabe o que é um Estado laico? Mas, de qualquer modo, pegando a deixa... Se o Brasil é laico, não deveria, também, ter direito a uma IMPRENSA livre do julgo do Executivo, abolindo, de vez, Sarney, que, há 456 dias, mantém sob censura o Estadão, e que, igualmente, com a conivência de Lula, reduziu a nossa categoria de jornalista à merda? Falando nisso, que Sarney saia do hospital Sírio-Libanês, onde já devia ter morrido - cadê a eutanásia? -, direto para um tumulo de vinte covas. Ou cinqüenta. Bom! Por isso que, em nome do povo brasileiro – espoliado até dizer basta! –, deixem a gente em PAZ. Seja Bento XVI, Sarney e congêneres - ou seriam genéricos? Infelizmente, só tem bandido.


Nathalie Bernardo da Câmara

 

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