NOS BOLSÕES DO CERRADO
“A ocasião faz o aliado...”.
Antônio Carlos Magalhães (1927 - 2007)
Político brasileiro
Um misto de comédia e tragédia foi o debate com quatro dos candidatos ao governo do Distrito Federal com representação na Câmara Federal, promovido e exibido pela TV Globo nesta terça-feira, 28. Foram convidados e compareceram, por ordem alfabética: Agnelo Queiroz (PT), da coligação Um novo caminho, Eduardo Brandão (PV), Toninho do PSOL e Weslian Roriz (PSC), da coligação Esperança renovada. Temas como educação, meio ambiente, grilagem de terras, crescimento populacional, saúde, transporte público, habitação, a problemática do entorno do Distrito Federal, corrupção, gestão e segurança públicas foram abordados pelos candidatos em quase duas horas de debate, que, dividido em cinco blocos, foi mediado, exemplarmente, pela jornalista Cristina Serra, que, aliás, aqui e acolá, não resistindo aos reflexos do amadorismo de Weslian, deixava, por mais que não quisesse, escapar um sorriso discreto no canto dos lábios.
Assim, por curiosidade, assisti ao debate na íntegra, chamando a minha atenção exatamente a constrangedora performance da candidata Weslian Roriz, que – diga-se passagem – caiu de pára-quedas na reta final da campanha eleitoral para o governo do Distrito Federal. Coitada... Deu até dó. Compaixão, eu diria. Afinal, na sexta-feira, 24, após renunciar a sua candidatura ao Governo do Distrito Federal, alegando ser vítima de perseguição política – quanta hipocrisia a desse homem! –, Joaquim Roriz renunciou a sua candidatura e declarou à imprensa que o seu maior sacrifício foi ter de apelar à mulher, Weslian Roriz – ou seja, tudo em família –, para que ela aceitasse representá-lo no pleito do próximo dia 3 de outubro. Ocorre que a renúncia de Roriz não foi gratuita nem representou defensiva alguma, mas covardia, pois seria demais para a sua vaidade tolerar que o Supremo Tribunal Federal - STF votasse contra o recurso impetrado por sua defesa.
Sim, porque, segundo a jornalista brasileira Laryssa Borges, Roriz “teve o registro de sua candidatura barrado por ter renunciado ao mandato que tinha como senador em 2007 para se livrar de um processo de cassação”. E ela prossegue: “A abdicação de mandato para paralisar processos de quebra de decoro é uma das novas regras de inelegibilidade incluídas na Lei da Ficha Limpa”. No mais – como de hábito –, sempre insistindo no papel de vítima, pois se considera um homem honrado, gritando aos quatro cantos do Planalto Central que foi injustiçado, Roriz, que nada tem de coitadinho – ao contrário! –, disse que a sua renúncia é fruto de “uma orquestração bem elaborada (...), se organizando para mudar o regime no Brasil, de democrático para o socialismo”. Quanta ignorância para um político de carteirinha! Afinal, o socialismo não é um regime, mas um sistema econômico, tal qual o capitalismo – esse, sim, uma praga a ser combatida e eliminada.
Não o socialismo, que, aliás, não é nem um bicho de sete cabeças – a não ser que Roriz tenha medo de bicho-papão, mula-sem-cabeça, morcegos ou ciclopes. O pior é que, como se já não bastassem os seus deslizes de ignorância, Roriz ainda teve o desplante de dizer que, ao se candidatar, não estava lutando pelo poder, mas apenas atendendo aos desígnios de Deus. Ninguém merece! Isso sem falar na sua compulsão em mentir, igual à personagem Pinóquio, criação do jornalista e escritor italiano Carlo Collodi (1826 - 1890), que, a cada mentira proferida, tem o nariz aumentado. Roriz, por sua vez, a cada ato ilícito no qual se envolve e sempre negando a sua participação em fraudes as mais diversas – tem a sorte de não padecer do mal de ter o nariz aumentado a cada mentira –, não importa os mandatos que assumiu ao longo da sua vida pública, só fica ainda mais com o rabo preso, comprometido que está até a medula com a corrupção.
O fato é que, esperto que só uma raposa, Roriz recorreu à artimanha de renunciar a sua candidatura antes que o STF o enquadrasse na mais suja das fichas. Mais suja, inclusive, do que pau de galinheiro ou, quiçá, do que o lixão a céu aberto que polui Brasília. Tanto que, para substituí-lo, indicou a própria mulher, que, a bem da verdade, caso seja eleita – pura esquizofrenia do eleitor –, não passará de um instrumento a ser manipulado pelo próprio Roriz, que tem um passado político mais sombrio do que a tempestade de areia que assolou Brasília na tarde desta terça-feira, 28, dia do debate. Essa prática, contudo, a de Roriz, em nada me espanta, já que, na corrida rumo ao governo do Distrito Federal – corrida, sim, porque nunca vi um palácio tão ambicionado, depois do Palácio do Planalto, como o do Jabuti, endereço administrativo dos que governam a capital do Brasil –, parece que vale até expor a mulher a um ninho de cobras. Foi leviano.
Ou melhor, foi uma vergonhosa humilhação para uma idosa de sessenta e sete anos, cuja biografia, até ela assumir a vaga aberta pelo marido, limitava a sua vida à esfera doméstica, à família. Conhecida como dona Weslian, a mulher de Roriz, era como se ela não tivesse identidade própria. No quesito política, por exemplo, a sua ficha resume-se a eventuais participações em programas assistencialistas, ditos sociais, promovidos pelo marido, quando, por quatro vezes, esteve a governar o Distrito Federal. Só que uma coisa é ser casada há cinqüenta anos com um político, seja ele honesto ou não com os seus eleitores, e mãe dos seus filhos; outra coisa é servir de boi de piranha para as ambições de um marido que, em sua versão política, não é lá muito chegado nem à ética nem à transparência, aboletando-se, sempre que a ocasião lhe é favorável – quando não é ele cria uma –, com os privilégios que o poder supostamente tem a obrigação de conferir.
Então, o debate... Lá pelas tantas, já praticamente no final do primeiro bloco, o candidato Toninho do PSOL foi o primeiro a formular uma pergunta à candidata do PSC. E a sua pergunta à Weslian foi bem direta, ou seja, qual seria, caso fosse eleita, a solução proposta do seu governo para controlar o crescimento populacional desenfreado e desordenado no Distrito Federal, que, atualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, comporta dois milhões e duzentos mil habitantes, extrapolando o ideal de seiscentos mil habitantes previstos para a cidade quando do seu planejamento. Assim, munida de um script, previamente elaborado e que ela portava consigo, Weslian Roriz nem mesmo teve o desvelo em disfarçar que o consultava, lendo-o como uma cola que se leva para a sala de aula em dia de prova. Sem falar que, em alguns momentos, inclusive se atrapalhando com os papéis, ela chegou a trocar a ordem de alguns.
Os demais candidatos, por sua vez, sensibilizados com a saia justa posta na adversária pelo seu próprio marido, foram compreensivos e respeitosos, já que perceberam não somente as suas limitações no quesito desenvoltura, mas, também, o seu alheamento da situação. Enfim! Ao invés de responder à pergunta que lhe havia sido feita por Toninho, Weslian limitou-se a dizer – lendo as anotações – que “o povo de Brasília há de recordar o passado”, se referindo as favelas supostamente erradicadas por seu marido, Joaquim Roriz, que, a bem da verdade, apenas legalizou a pobreza no Distrito Federal – um celeiro de votos não conscientes do qual ele sempre se beneficiou. E Toninho ficou a ver navios, sem resposta, bem como os demais candidatos e os telespectadores/eleitores. No entanto, ele retrucou, dizendo que, de Joaquim Roriz, só reconhecia a sua política irresponsável de crescimento populacional na capital do Brasil.
Já no segundo bloco, o candidato Agnelo Queiroz perguntou à Weslian quais as propostas que ela tinha para mudar a caótica situação do transporte coletivo do Distrito Federal, que, para ele, é de péssima qualidade, caro e ineficiente, necessitando de políticas públicas que solucionem problema tão gritante. Outro que ficou sem resposta. Sim, porque, sem proposta para a problemática apresentada por Agnelo, a candidata do PSC viajou legal, como se diz na gíria. Desatou a questionar a trajetória partidária do seu adversário de campanha, alegando que ele tinha sido do Partido Comunista e que, agora, estava filiado ao Partido dos Trabalhadores, que, por sua vez, segundo ela, havia posto para fora das suas fileiras militantes que eram contra o aborto. Nada a ver! Mas, aí, percebendo a discrepância da sua própria fala, Weslian terminou dizendo que, em relação ao transporte coletivo, “tudo vai ter o seu dia e o seu lugar na hora certa”.
Em relação ao terceiro bloco do debate, Brandão perguntou à Weslian como o seu governo pretendia combater a corrupção que de há muito está entranhada no que ele chamou de “máquina pública” do Distrito Federal – pergunta essa, aliás, que ele considerou “espinhosa” para a adversária, considerando que, em debates anteriores, o assunto veio à tona e Roriz, ainda candidato, chegou, inclusive, a reconhecer que toda a corrupção existente hoje na estrutura do governo local teve início já nas vezes – quatro – em que ele foi governador. O curioso, contudo, é que Weslian comportou-se como se não entendesse a pergunta. Pior! Consciente ou não, se enrolou ainda mais. Mais até do que gato perdido em um novelo de lã. E, sempre as voltas com as anotações trazidas de casa, ora disse que em seu governo não haverá corrupção, ora defendeu a corrupção, ora prometeu um governo de transparência, severa que ela é – disse – com esse tipo de assunto.
Não obstante, Weslian isentou o marido de toda e qualquer responsabilidade pela corrupção que permeou os vários anos em que ele governou o Distrito Federal, atribuindo a terceiros – aí é tirar o do marido da reta – a desonestidade que fomentou essa mesma corrupção, garantindo ao telespectador/eleitor que, nela, ele pode confiar – ai, ai... Porém, não demorou muito, Toninho a questionou sobre gestão pública. Só que, em vez de responder, a candidata perguntou como ele resolveria o problema da falta de emprego no Distrito Federal. Perplexo, mas sempre falando com ponderação, ele a alertou que o tema em questão era gestão pública e que, por isso, não poderia responder sobre outro. Reformulando a pergunta, Weslian questionou como ele pretendia melhorar os serviços colocados a serviço do cidadão. A resposta de Toninho não poderia ter sido mais oportuna, sobretudo após o tema corrupção, debatido anteriormente por todos.
Respondendo com serenidade, o candidato disse que a população deve controlar a gestão pública, os gastos públicos. E que, caso seja eleito, essa mesma gestão deverá ter um perfil moderno, acrescentando que dinheiro tem para ser investido em prol da sociedade, ou seja, que “os recursos estão aí”, restando, apenas, administrá-los com honestidade. Pouco depois, no quarto bloco, de tema livre, Agnelo perguntou à Weslian como ela pretendia solucionar a grave situação da segurança pública. Hesitante, a candidata começou a responder e, de repente, parou. Pediu que a pergunta fosse reformulada. Aí, a jornalista Cristina Serra, mediadora do debate, achou por bem intervir e perguntou à Weslian se ela lembrava que a pergunta havia sido sobre segurança pública. Ocorre que, mais uma vez, a exemplo das suas respostas anteriores, as palavras da candidata diluíram-se em um discurso vazio, sem nenhuma consistência.
Depois, sem disfarçar certa insegurança, Weslian dirigiu-se a Toninho, como se fizesse um apelo. Disse que, como anos atrás, o candidato veio a Brasília acompanhando a mulher, que é política, praticamente sugerindo que ele não tinha uma identidade política própria, seria, por isso, capaz de entender o fato de ela ter substituído Joaquim Roriz, bem como seria capaz de entender a solidariedade, quando necessária, de um cônjuge ao outro e do comando de um sobre o outro, deixando evidente – colocação extremamente desnecessária – que, caso seja eleita, quem irá comandar o seu governo é o marido, sendo ela, apenas – mas isso todos sabem –, uma mera fachada. Quanto ao quinto e último bloco, o das considerações finais dos candidatos, o primeiro a falar foi Weslian, que, inclusive, durante todo o debate, enfrentando dificuldades de articulação, mal soube aproveitar o tempo que lhe era reservado, nem para perguntar nem para responder.
Começando por dizer que “aqui é tudo azul – referindo-se as cores do estúdio da TV Globo –, maravilhoso, parece com meu partido” – mais simplória impossível! –, ela concluiu garantindo que, caso seja eleita, o seu governo será do bem e que ela fará a diferença, pois, continuou, será ela a mandar no governo, embora pretenda não dispensar a experiência política e administrativa de tantos anos do marido, de quem espera orientação. Sei não, mas, em pleno séc. XXI, certos tipos de prática política são um acinte ao nosso discernimento e ao bom senso. E um político de tão baixo calão, como Joaquim Roriz, já deveria – e de há muito – ter sido banido da vida pública, sem que eu precise dizer que, para dona Weslian, o melhor mesmo seria que ela continuasse cuidando da casa. Dela. Sim, porque – convenhamos – a impressão que ficou, ao assisti-la no debate, que ela admitiu ter sido um sacrifício, foi a de que estávamos a ver um peixe fora d’água, lutando pela vida.
As considerações finais dos demais candidatos, por sua vez, nada em especial, pois são políticos experientes e sabem como lidar com os adversários e se comportar em debates. Eu só lamento, contudo, que os três, Agnelo, Brandão e Toninho, tradicionalmente de esquerda, estejam divididos neste pleito. Quem sabe se não somassem o Distrito Federal não teria um governo forte e capaz de implementar as verdadeiras mudanças tão necessárias para que, de uma vez por todas, a capital do Brasil fosse moralizada? Mas, enfim! Até mesmo a esquerda, e em qualquer país do mundo, também tem as suas diferenças e divergências em relação as soluções para tal ou qual problema. Agora, quanto a Weslian... Diferentemente do marido, ela não é nada eloqüente, já que anda a trocar os pés pelas mãos. E, ao contrário do grilo, companheiro de Pinóquio, nada tem de falante, mas de falácia. Segundo o jornal Estadão, Weslian incorporou o jeito Roriz de ser. O que era de se esperar...
Nathalie Bernardo da Câmara
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