quinta-feira, 28 de outubro de 2010

NO PAÍS DA COBRA GRANDE III

Poder Judiciário: a serviço de quem?



“Perguntei a um homem o que era o Direito.
Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade.
(...) Comi-o...”.

Oswaldo de Andrade (1890 - 1954)
Multimídia brasileiro
Passagem extraída do Manifesto Antropofágico - 1928



Uma curiosidade me persegue: a de saber quando o Poder Judiciário brasileiro, e em todas as suas instâncias, sem exceção, de fato cumprirá com imparcialidade e zelosamente com as suas funções, que não são poucas, perante a sociedade, banindo, enfim, e de vez, a corrupção das suas entranhas. Afinal, como se já não bastassem um Legislativo historicamente comprometido com os interesses de uma minoria e um Executivo ainda mais indecente, conivente com leis e práticas imorais, a dita Justiça, no Brasil, mais parece um teatro de marionetes, manipulada que é por políticos e empresários inescrupulosos, cuja única fala das protagonistas nos faz lembrar do bordão de leilões, ou seja: Quem dá mais?

Digo isso porque ainda anda a me entalar a garganta a permissividade do Supremo Tribunal Federal - STF com as falcatruas de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, que, no dia 24 de setembro, para não ser enquadrado na mais suja das fichas e ter impugnada a sua candidatura ao GDF, recorreu à artimanha de renunciar à mesma. Ora, se o registro da candidatura de Roriz havia sido barrado exatamente por ele ter renunciado ao mandato que tinha como senador em 2007, tentando evitar um processo de cassação, em hipótese alguma o STF deveria ter concordado com a substituição da candidatura do político incauto por outra, independentemente do substituto, poucos dias antes do pleito do dia 3 de outubro.

E não deveria, sobretudo porque, como todas as urnas eletrônicas para o referido pleito já estavam lacradas, não haveria tempo hábil, portanto, para substituir a foto e o nome de Joaquim Roriz pelos do seu substituto, no caso, a sua própria mulher – outra armação da raposa velha. Ocorre que esse foi exatamente o argumento dos supremos da vida para manterem a foto e o nome do ex-governador, ou seja, as urnas estarem lacradas. Sei não, mas, por isso mesmo que a coligação da qual Roriz fazia parte deveria ter perdido o direito a concorrer ao GDF com não importa qual candidatura. Resultado: a candidata Weslian, casada com o malfeitor, foi, infelizmente, para o segundo turno das eleições.

Isso, sim, se chama fraude! E das grandes, com os magistrados brasileiros a serem os primeiros a darem um péssimo exemplo ao povo, que é o de como ser indecente neste país e ainda ficar impune... O pior, contudo, é que, no dia 19 passado, O Tribunal Superior Eleitoral - TSE decidiu manter a foto e o nome de Joaquim Roriz nas urnas eletrônicas do pleito do próximo dia 31, beneficiando, assim, a candidatura de Weslian, ou melhor, beneficiando o ex-governador, já que, caso a aspirante à política seja eleita – uma vergonha nacional! –, ninguém, de posse das suas faculdades mentais, tem dúvida de que o esposo - não ela -, um dos homens mais corruptos deste país, é quem irá governar o GDF.

Felizmente, não estarei em meu domicílio eleitoral no segundo turno destas eleições – uma das mais fraudulentas da História do Brasil, diga-se de passagem, primando, inclusive, pelo baixo nível das campanhas. Assim, não terei o desprazer de, por obrigação, comparecer as urnas, sobretudo porque, caso o fizesse, anularia o meu voto, tanto para presidente como para governador, pois não me compraz ser conivente com os desmandos de ninguém, muito menos ver candidatos, assessores, cabos eleitorais e congêneres disputando no tapa os votos e a dignidade dos eleitores – haja baixaria! E eu quero voltar à escola, sendo de novo alfabetizada, se a candidatura de Weslian Roriz não for ilegítima...


Nathalie Bernardo da Câmara


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