terça-feira, 3 de abril de 2012

SECA, TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO, SUSTENTABILIDADE, CÓDIGO FLORESTAL E UMA SURPRESA PARA OS AGRICULTORES BRASILEIROS...


“Quando dizem que a terra do Nordeste é seca, tenho repetido – às vezes, sou mal compreendido – que seca não é a terra do Nordeste. Seca é a inteligência da elite que governa o Nordeste. Aí é que não chove!”.

Cortez Pereira (1924 - 2004)
Advogado e ex-governador do Rio Grande do Norte


Deu no G1 (2 de abril), com informações do Jornal Nacional: Seca atinge mais de dois milhões de pessoas na Bahia. De fato, uma situação alarmante, necessitando de urgentes medidas que pelo menos tentem minimiza o problema por parte dos governos estadual e nacional. De poético, contudo – não é humor negro –, apesar do drama inconteste, só a introdução do jornalista – cujo nome não foi mencionado – que escreveu a reportagem, ou seja: “Nos pastos, pouca comida, o capim já secou. O gado está morrendo de fome. O jeito é carregar a palha do milho que o sol não deixou colher”. Segundo a reportagem, “é assim que o pecuarista João Farias, de 94 anos, tenta salvar os bezerros: ‘Se o gado enfraquecer e começar a cair, tá morto’”.

E o texto prossegue: “Na região de Irecê, a que mais produz feijão no nordeste, as perdas na lavoura passam de 80%. Há escassez de água até no subsolo. Poços artesianos secaram. Os que ainda funcionam já dão sinais de que também estão se esgotando. (...) Na barragem de Mirorós, uma reserva acumula 170 milhões de metros cúbicos de água. O lago se espalhava por quinze quilômetros. Encolheu tanto que não passa de três quilômetros”, acrescentando que, “desde que foi inaugurada, há 28 anos, essa barragem nunca desceu 33 metros. Está muito abaixo até do limite mínimo previsto na régua de medição. Hoje, o reservatório tem apenas 8% do volume normal. Se descer mais três metros o abastecimento da região entra em colapso”, sem falar que “dos 417 municípios da Bahia, 186 já decretaram situação de emergência. São mais de 2 milhões de baianos sofrendo com a falta de chuva”.

Em entrevista concedida ao jornalista Rudolfo Lago, publicada em agosto de 2010 no Congresso em Foco a ambientalista Marina Silva chegou a se posicionar em relação à tão polêmica transposição do rio São Francisco: — Posso afirmar com segurança que a transposição do São Francisco é viável ambientalmente, pois a licença prévia foi dada em minha gestão [à frente do ministério do Meio Ambiente]. A transposição do Rio São Francisco é um projeto de alta complexidade, discutido à exaustão, com resultados concretos e readequação do projeto durante o seu licenciamento. Fizemos um grande esforço para chegar a esse resultado. Antes de conceder a licença, elaboramos o Plano de Gestão da bacia, propusemos que a vazão média no canal fosse reduzida e que só houvesse retirada de água do rio se a barragem de Sobradinho estivesse vertendo. Construímos um amplo programa de revitalização da bacia, com ações de saneamento, recomposição de matas ciliares, repovoamento do rio com espécies nativas de peixes e outras ações voltadas à melhoria das condições da bacia. Um bom exemplo de atuação na promoção do desenvolvimento com responsabilidade. Mas é necessário que as ações do programa de revitalização sejam efetivamente implementadas e que as condicionantes da licença prévia e de instalação sejam cumpridas para que tenhamos água disponível para o semiárido e para a bacia doadora.


Enquanto isso...


“Eu sou apenas um beijo da boca do luxo na boca do lixo...”.

Cazuza (1958 - 1990)
Se vivo fosse, o compositor e cantor brasileiro faria 54 anos de idade nesta quarta-feira, 4


Lançado no dia 15 de março deste ano, o Movimento Nossa Brasília tem como objetivo “promover o protagonismo dos moradores da cidade na transformação do DF em um território sustentável, justo e com qualidade de vida”, diz um texto explicativo no site do referido movimento. Fazendo parte, ainda, “da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis”, composta por mais de 40 cidades no Brasil e na América Latina, o movimento também tem como característica “ser uma articulação em prol do fortalecimento da democracia participativa”. Daí a sua intenção de estimular “um diálogo permanente e ampliado com pessoas ligadas a organizações da sociedade civil, universidades e empresas de distintas localidades do Distrito Federal”. Algumas das metas do movimento, por sua vez, “são a busca por: convivência equilibrada com o meio ambiente, acesso à água limpa e abundante, mobilidade não poluente e fluida, comunicação democrática, liberdade cultural e planejamento urbano sustentável”. Enfim! Na abertura do evento, a arquiteta e urbanista Regina Fittipaldi, pró-reitora de Natureza e Meio ambiente da Universidade Holística Internacional de Brasília - Unipaz, perguntou aquilo que, na sua essência, diz respeito a nossa própria sustentabilidade, ou seja: — Como vamos cuidar do espaço que nos acolhe?

Presente ao evento, a ambientalista Marina Silva não somente elogiou a sua iniciativa como também disse: — Eu entendo a sustentabilidade não como uma maneira de fazer as coisas, mas como uma maneira de ser. Temos que pensar a sustentabilidade como um estilo de vida, pensando no presente e no futuro. Isso nos possibilitará transitar para um processo de mutação.


Falando em sustentabilidade...

 
“Nunca diga uma mentira que não possa provar...”.

Millôr Fernandes (1924 - 2012)
Jornalista, cartunista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro


No dia 1º de abril – espero eu não seja mais uma mentira pregada contra o povo brasileiro –, a data para a votação do Código Florestal Brasileiro pela Câmara dos Deputados foi marcada para o próximo dia 20. Pelo menos foi o que afirmou o deputado federal Paulo Piau (PMDB-MG), relator do projeto de reforma do documento, durante a sua participação da Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura - Fenicafé, que ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de março no município de Araguari, em Minas Gerais. À ocasião, o parlamentar teria dito, ainda, que, na próxima semana, mais precisamente no dia 11, vence o prazo do artigo 152 do Decreto Federal nº 6.514, de 22 de julho de 2008, que, entre outras providências, dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente. No caso, todos os donos de imóveis rurais que não tenham a sua reserva legal averbada em cartório sofrerão tratamento de criminoso. O detalhe, contudo, é: estima-se que 90% dos imóveis rurais estejam nessa categoria. Assim, a revelação de Piau expôs, portanto, um dilema que o governo terá que resolver na próxima semana. Por fim, nada como formular a pergunta que não quer calar, ou seja: o governo adiará o decreto que transforma agricultura em crime?

Nathalie Bernardo da Câmara


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