sexta-feira, 20 de abril de 2012

O TALISMÃ DO RIO AMAZONAS

O rio Hamza localiza-se nas profundezas do Amazonas (Foto: Rede Globo).

“Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio...”.

Martin Luther King Jr. (1929 - 1968)
Advogado e ativista político norte-americano
Prêmio Nobel da Paz de 1964


Pesquisadores descobriram que o rio considerado o mais extenso do mundo é gêmeo – eles só não sabem se univitelinos. Afinal, nas entranhas do Amazonas, a 4.000 metros de profundidade, com 6.000 km de comprimento e 400 km de largura, abaixo da maior bacia hidrográfica do planeta, se encontra outro rio, cuja nascente está localizada na mesma região da nascente do Amazonas, ou seja, no Peru, na Cordilheira dos Andes, e ambos desembocam na mesma foz, que é o Atlântico. A informação, contudo, não é nova, já que foi apresentada durante o 12º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, realizado de 15 a 18 de agosto no Rio de Janeiro de 2011, embora tenha sido divulgada apenas no dia 25 de agosto pelo Observatório Nacional de Geofísica do Brasil - ON.

Desde então, a informação continua causando polêmica, sobretudo na comunidade acadêmica – a descoberta, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, só foi possível graças a dados fornecidos pela Petrobrás referentes a 241 poços perfurados pela estatal na região Amazônica em busca de petróleo nas décadas de setenta e oitenta. O fato é que o rio já tem nome: chama-se Hamza, uma homenagem a um dos pesquisadores que participaram da empreitada que foram os estudos que desaguaram no achado, ou seja, o físico indiano Valiya Hamza, coordenador de Geofísica do ON, que, além de pesquisar a região há mais de quatro décadas, foi o orientador da tese de doutorado que originou a descoberta da geofísica brasileira Elizabeth Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas - Ufam.

Presente ao congresso, o geólogo brasileiro Olivar Lima, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, não somente reconheceu o feito dos pesquisadores do ON como também apresentou mais dados que obteve em relação a demais poços perfurados pela Petrobrás na foz do Amazonas, que, aliás, apenas confirmaram o resultado dos estudos coordenados por Valiya Hamza, embora ele ache um exagero classificar a recém-descoberta como um rio. Tanto que, no mês seguinte, a geóloga brasileira Rita Redaelli divulgou um documento, subscrito por diversos pesquisadores e apoiado pela Federação Brasileira de Geólogos - FEBRAGEO, no qual, contestando o achado dos pesquisadores do ON, todos são unânimes em reconhecer que a suposta descoberta do rio Hamza não passa de “uma ideia subjetiva”.

Segundo ainda o documento, o que ocorreu foi “uma conclusão precipitada de uma tese de doutorado baseada em dados indiretos – medidas de temperaturas de poços para petróleo perfurados a partir dos anos 1970. Além disso, a conclusão não foi avaliada por pesquisadores independentes e contém uma série de imprecisões de interpretação e de linguagem, ferindo conceitos arraigados nas Geociências”. Assim sendo, a única “explicação aceita pela ciência geológica brasileira é de que o ‘Rio Hamza, descoberto’ pelos geofísicos do ON, não é um rio, mas um possível fluxo muito lento no interior de um aquífero formado por rochas sedimentares porosas e permeáveis”. Isso sem falar que os geólogos consideram “uma temeridade afirmar que a água deste aquífero exerceria alguma influência na salinidade de águas marinhas próximo à foz do atual rio Amazonas”.

E o documento prossegue: “A forma equivocada de divulgação de resultados de pesquisa, ainda preliminares, abala a credibilidade da pesquisa brasileira, como neste caso, em que a ‘descoberta’ de um falso ‘rio subterrâneo foi alardeada de maneira precipitada e sensacionalista”, ressaltando que os seus signatários, contestam, “de forma responsável, as conclusões tomadas como certas, mas que, na verdade, carecem de qualquer sentido técnico à luz da ciência geológica que se pratica no Brasil e no mundo”. Enquanto isso, o pesquisador cujo sobrenome batizou o que ele e a sua equipe consideram uma descoberta, diz, em relação ao rio Hamza: — Não é um aquífero, que é uma reserva de água sem movimentação. Nós percebemos movimentação de água, ainda que lenta, pelos sedimentos.

A geofísica Elizabeth Tavares Pimentel, por sua vez, cuja tese de doutorado causou o maior rebuliço no meio acadêmico, se posicionou: — Quando se fala nos ciclos [hídricos] se recorre à chuva, aos lençóis freáticos, aos aquíferos. Todos eles deságuam no oceano Atlântico. Os estudos desses ciclos não incluem, até então, o rio subterrâneo. (...) E eu acho que se acontecer de um dia o rio Amazonas vir a secar, coisa que não acredito, as populações da Amazônia podem contar com essa reserva.

Enquanto isso, ou seja, aconteça o que tiver de acontecer, a natureza agradece em nome de todos os seus reinos: animal, vegetal e mineral. Falando nisso e polêmicas à parte... De origem árabe, hamza não somente é um substantivo masculino e um nome próprio, mas, sobretudo, um amuleto, representando, com a sua aparência, uma palma da mão com cinco dedos estendidos, a força e o poder. Então, diante de uma eventual possibilidade de que seja encontrado petróleo nas profundezas do Amazonas, haja Hamza! Ou, quem sabe, um leque de figas. Não que o Brasil não mereça uma maior abundância de tamanha riqueza natural, mas é que depois do pré-sal, uma onda, aliás, que atraiu descontroladamente a cobiça de certo presidente dos Estados Unidos, só faltava agora uma onda Hamza...


Nathalie Bernardo da Câmara


2 comentários:

  1. http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-17775211 >

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    1. Obrigada pelo envio do link acima, mas, se foi para eu encontrar alguma reportagem relacionada ao tema abordado nesta postagem, confesso q não encontrei nada a respeito.

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