14 DE MARÇO: DIA NACIONAL DA POESIA
Rabisco: Leandro R. Schenk
“Escrever é traduzir, mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita, e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir, mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo, a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo...”.
José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português
Declaração poética
Falo de um amor mais forte do que a própria vida, porque a vida é frágil. E o amor – poderoso na sua essência – torna-nos frágeis quando ausente, bate forte no ventre, dá vertigem, enjôos... Helás! Falo de um amor que engravida sem tocar, que torna a vida ainda mais frágil e que, na maior parte do tempo, é saudade – estrela de cinco pontas que, mesmo distante, ilumina e guia cada passo, cada despertar, cada salto no escuro; que tira o sono e deixa a insônia no lugar; que navega igual barco nas águas imprecisas do mar... Falo de um amor migratório, que vai e que vem num vai e vem imprevisível, quase nunca possível. E que viola direitos, estabelece deveres, altera hábitos... Falo de um amor sensitivo, misterioso, e que, apesar de silencioso, sem ruído, gemido ou gozo, estremece todos os sentidos. Fogo que estimula fogo, queimando e desafiando a terra, que, inabalável, resiste às investidas da água e do ar... Ah! Falo de um amor que a razão desconhece. Tudo o eu quero e espero. Um amor que não deixa rastros, que me faz mais forte e delicada, embora, às vezes, maltrate sem perceber. E que dói, dá calafrios e calor, colo. Nunca amor...
Nathalie
Natal, RN – 13 de março de 1997
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