ÁGUAS DE MARÇO
“Tomada com moderação, água não faz mal a ninguém...”.
Mark Twain (1835 - 1910)
Escritor e humorista norte-americano
Curiosamente, apenas algo em torno de 0,008%, do total da água do nosso planeta é potável, ou seja, própria para consumo. O tema da campanha de 2012 para homenagear a água nossa de cada dia, portanto, cuja data comemorativa, aliás, foi criada pela Organização das Nações Unidas - ONU no dia 22 de março de 1992, é: Água e segurança alimentar, focando na importância da popularmente chamada água doce e a defesa da gestão sustentável desse recurso natural. Infelizmente, uma considerável parte das fontes – rios, lagos e represas – de água potável vem sendo, ao longo dos tempos, paulatinamente contaminada pela ação predatória do homem. Sim, a nossa água doce está, lamentavelmente, poluída. Imprópria, não deveria ser consumida. E não importa por qual ser vivo!
Sugestões para não poluirmos ainda mais a mais importante fonte de hidratação do nosso organismo? Acho que seria desnecessário, já que é óbvio demais, até mesmo para quem tem apenas dois neurônios, saber o que fazer, ou melhor, o que não fazer para não comprometer de vez as nascentes de tão precioso líquido. De qualquer forma, não devemos, por exemplo, em hipótese alguma, despejar dejetos nos rios. Bom! Tudo teve início – quem diria! – já com a arca de Noé...
Aí, o tempo passou e os problemas [poluição] só aumentaram.
E, literalmente, poluição de toda natureza.
Isso sem falar nas doenças de pele que podemos adquirir nos banhos que tomamos em águas impróprias...
Obs.: Para não divulgar uma informação errônea, liguei para o número do telefone em destaque na charge, arrastado por um aeroplano, divulgando o contato de um suposto dermatologista, e ninguém atendeu, já que, aparentemente, o mesmo inexiste. A alusão, portanto, deve ter sido onda do chargista.
Ah! Se não fosse a barba, eu jurava que era la presidenta Dilma Rousseff quando resolveu limpar a casa...
Não podemos nos esquecer, ainda, de outro grave problema relacionado à agua, que é o desperdício, ao invés do seu uso racional. Tanto que, a título de ilustração, gostaria de registrar que, apesar de possuir a maior reserva de água doce do planeta, o Brasil também é o campeão mundial da sua má utilização. Segundo pesquisas realizadas pelo engenheiro brasileiro Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso da água, o Lago Sul, bairro de Brasília, detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. Considerado nobre, o bairro possui o maior número de piscinas do país – 90% das suas residências possuem uma. Isso sem falar na grande quantidade de água utilizada nas lavagens dos carros dos seus moradores e no aguar dos vastos gramados e jardins das suas casas.
Dados da ONU, por sua vez, indicam que mais de 4 bilhões de pessoas no mundo vão ter problemas com escassez de água em 2050. Para tentar reduzir, portanto, o seu desperdício no nosso dia a dia, o engenheiro deu uma série de dicas, como, por exemplo, que os banhos sejam mais curtos, já que o chuveiro responde por 46% do consumo de água dentro de uma casa.
Quem sabe não seria a hora – para quem ainda não aderiu à prática – de, sempre que possível, passar a fazer xixi durante o banho, atendendo, assim, aos apelos da campanha Xixi no banho, promovida pela Fundação SOS Mata Atlântica, que visa o incentivo à economia de 4.380 litros de água por ano per capita?! Afinal, segundo a lógica, fazendo xixi enquanto toma banho, uma pessoa economiza uma descarga do vaso sanitário que, segundos dados da ONG, utiliza em média 12 litros de água.
Enfim! O especialista recomendou também que, ao fazer a limpeza de utensílios de cozinha, deve-se usar pouca água e muito sabão e bucha, lembrando que as torneiras e misturadores respondem por 14% do consumo domiciliar.
Outra dica é a de escovar os dentes com a torneira fechada, que deve ser aberta apenas inicialmente, discretamente molhando o dentifrício [pasta ou creme dental], para quem tem o hábito de molhá-lo antes da escovação e após esta, no enxague da boca e na limpeza da escova – cuidados igualmente básicos em relação ao consumo de água.
A única exceção, contudo, que não carece dos cuidados já mencionados, é quando, a exemplo da charge abaixo, entramos em contato com algum tipo de bactéria que, de tão poderosa, pode nos afetar seriamente o organismo – brincadeirinha, mas apenas em relação ao desperdício de água, não em relação ao agente ativo da corrupção...
Falando em política...
Em entrevista ao Globo Natureza, o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas - ANA, o estatístico brasileiro Vicente Andreu, disse que os países precisam de políticas próprias para a água e de um organismo que as fiscalizem, sendo a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável a ser realizada em junho no Rio de Janeiro, a oportunidade para que, de fato, decisões sejam tomadas no que concerne à garantia salutar dos recursos hídricos do planeta, bem como da sua distribuição, evitando o desperdício e a escassez. Afinal, em sua opinião, segundo ainda a reportagem, a abordagem sobre a água contida no documento que vai nortear a cúpula da Organização das Nações Unidas - ONU é “patética” e “não tem nada de ousadia”.
Para ele, “apesar do desenvolvimento do país e enriquecimento da população, o Brasil ainda não conseguiu alcançar 100% da coleta de esgoto, principal causador de poluição hídrica no país”, mas apenas 56,6%, sendo, deste volume, somente 34% submetidos a um adequado tratamento, reconhecendo que a questão do saneamento básico no país ainda persiste sendo um desafio a ser enfrentado e superado, bem como a análise das suas águas subterrâneas contaminadas por esgotos não tratados e resíduos industriais. Para o geólogo brasileiro Paulo Varella, diretor da Ana, o Brasil desconhece o nível de contaminação das suas águas subterrâneas, bem como o dos seus solos, visto que inexistem estatísticas nacionais sobre os que já sofreram danos ambientais.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, por sua vez, entende que a escolha do tema para homenagear a data este ano foi oportuna, já que o planeta tem enfrentado um sério desafio: apesar da preocupação global com o desperdício e a escassez dos recursos hídricos, bem como com a sua qualidade, que só tende a piorar, o crescimento populacional da Terra tem, consequentemente, aumentado a demanda – não importa para qual fim – por tão valiosos produtos, consumidos, invariavelmente, de maneira irracional. Isso sem falar que, no mundo, ainda segundo a FAO, aproximadamente um bilhão de pessoas sofre de fome crônica, ocupando a água um papel de relevante importância para que essa dramática realidade seja superada.
Declaração Universal dos Direitos da Água
Há precisamente vinte anos era criada a declaração acima mencionada, da qual, aliás, certos itens ou parte de certos itens achei por bem destacar, montando, contudo, um parágrafo à parte, tipo: a água faz parte do patrimônio do planeta, sendo a seiva que, se preservada, bem como os seus ciclos, garante, na medida do possível, o seu equilíbrio e futuro. Não deve, portanto, ser desperdiçada nem poluída, com a sua utilização baseada na consciência e no discernimento para que, um dia, não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas ainda disponíveis. O planejamento da gestão da água, por sua vez, tem de levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra. E é isso!
Nathalie Bernardo da Câmara
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