CUBA RECEBE BENTO XVI
“Aprendi a não tentar convencer ninguém [de nada]. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro...”.
José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português
Às vezes, por respeitarmos a democracia, reconhecermos a diversidade de ideologias e demais diferenças, nós somos levados a tolerar – nem que seja engolindo a seco – certas figuras indigestas que pairam sobre as nossas cabeças, como é o caso do papa Bento XVI, representante-mor, inclusive, do que há de mais retrógado na face do planeta. Chegando do México, onde ficou durante três dias, tempo que também dispensará a Cuba, onde chegou nesta segunda-feira, 26, devendo ficar até quarta-feira, 28, fazendo sabe-se lá o quê no país de Fidel Castro, Bento XVI foi recebido pelo presidente Raul Castro, pelo cardeal Jaime Ortega, máxima autoridade católica na ilha, e pelo presidente da Conferência de Bispos Católicos cubanos, Dionisio García, sendo essa, desde que se tornou papa, a sua primeira viagem a dois países de língua espanhola da América Latina.
Porém, ainda no avião que o levava da Itália ao México, sem ainda sequer ter posto os pés em solo cubano, Bento XVI desatou a falar – mal, obviamente – do modelo econômico implantado pelo regime comunista de Cuba, pedindo, inclusive, liberdade de consciência e religiosa para a ilha: — É evidente que, hoje, a ideologia marxista na forma como foi concebida não corresponde mais à realidade. (...) Novos modelos devem ser encontrados com paciência e, de uma maneira construtiva, queremos ajudar.
Sei não, mas eu só queria saber à qual realidade ele se referiu e quais são os novos modelos econômicos – basta dizer um – que devem ser postos em prática no país cubano. Quanto a sua ajuda... Isso sem falar que, já em Cuba, Bento XVI teve a ousadia de dizer que guarda no coração “as justas aspirações e desejos legítimos de todos os cubanos” e que visita o país na condição de “peregrino da caridade”... É, devo estar com avarias na minha miopia – afinal, foi o que li –, visto que, pelo que sei, moral é o que não falta a Bento XVI para querer interpretar um papel que já é de Barack Obama, já que, antes de ser nomeado Papa, ficou à frente, durante mais de vinte anos, daquela que, hoje, a Igreja católica chama de inquisição moderna, que, aliás, só mudou de nome e não tortura mais o físico do acusado, mas a sua psique. Daí que, por suas posturas, Bento XVI continua a pensar como inquisidor, não sendo, portanto, uma pessoa de confiança, embora possa até tentar passar uma imagem de bom moço. No entanto – lamento informá-lo –, não adianta, pois as chagas do terror permanecem estampadas na sua face, como se estivessem impregnadas... De qualquer modo, o seu comportamento, no caso, em Cuba, é até compreensível. Afinal, sendo hoje o Dia Mundial do Teatro, cada um porta a máscara que lhe cai bem...
Enquanto isso...
Tradução: Uma em cada três mulheres sofre algum tipo de violência na América Latina.
Segundo a Organização das Nações Unidas - ONU, 16% das vítimas já foram submetidas a constrangimentos e a práticas de abuso sexual alguma vez na sua vida. Será que por acaso Bento XVI sabe e se preocupa com isso ou ele simplesmente limita-se a proibir – alheio à realidade que tanto prega – o uso da camisinha e congêneres, além de ser contra a descriminalização do aborto, ao mesmo tempo em que é conivente com a pedofilia que permeia as batinas da sua Igreja? Sinceramente, de há muito eu já desisti de entender a mente de gente assim...
Nathalie Bernardo da Câmara
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