REPARTIÇÃO DE DANOS*
Por Dora Kramer
Jornalista brasileira
“Não vou marcar data...”.
Arlindo Chinaglia
Líder do governo na Câmara dos Deputados, em entrevista à imprensa, admitindo dificuldades para aprovar a Lei Geral da Copa, já que a sua votação foi condicionada por setores da base aliada à votação do Código Florestal Brasileiro.
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“Esperamos marcar as datas das duas votações...”.
Deputado Duarte Nogueira
Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, em entrevista à imprensa, reforçando o posicionamento da oposição de que se chegue a um acordo para votar o Código Florestal Brasileiro e a Lei Geral da Copa.
Na hora da festa foi o governo federal, na figura do presidente Luiz Inácio da Silva, quem recebeu os cumprimentos por ter "conseguido" trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014. Isso em outubro de 2007.
Agora, quatro anos, cinco meses e um acúmulo de dificuldades depois, o governo federal resolveu socializar o prejuízo transferindo aos Estados a decisão sobre uma questão à qual não se deu a devida importância e acabou virando um enrosco para a aprovação da Lei Geral da Copa: a venda ou não de bebidas alcoólicas nos estádios.
Segundo a última versão do acordo para a votação no Congresso, a Fifa terá de negociar com os governadores (sete) uma forma de transpor o obstáculo contido no Estatuto do Torcedor e nas legislações estaduais àquele tipo de comercialização.
A União reservou para si o papel dúbio de defender a suspensão de um artigo do estatuto, mas sem explicitar de forma inequívoca a permissão para a venda nos termos em que havia sido acertado.
E isso porque o Planalto, embora favorável à manutenção dos termos do compromisso firmado anteriormente, preferiu não decidir. E por quê? Por receio de perder no voto mesmo controlando numericamente 80% do Congresso.
Parte de sua base de sustentação parlamentar é contra por convicção e parte condiciona a aprovação da Lei da Copa à votação do Código Florestal.
O que uma coisa tem a ver com a outra? No conteúdo nada, mas na forma prevalece o jogo da tensão em detrimento da negociação mediante o exame objetivo dos pontos em discussão e da tomada firme de uma posição.
Todos os partidos da coalizão governista, PT incluído, querem impor de alguma maneira e, cada qual por seus motivos, "mandar um recado" à presidente Dilma.
A eclosão mais recente dos conflitos não está superada. O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não traduz a realidade quando diz que está "tudo ótimo".
Se estivesse, a presidente não teria sido obrigada a jogar no colo dos governadores uma tarefa que não é deles.
E para o desempenho da qual não têm força política comparável ao peso da União. Na interlocução individual com a Fifa já entrarão em desvantagem. Terão de ceder e, assim, o resultado dificilmente deixará de ser o desejado pelo Planalto: a autorização para a venda de bebidas.
Só que para isso o governo federal escolhe dar a volta ao mundo para chegar ao mesmo lugar, em terreno acidentado que renderá atritos explícitos e implícitos com os governadores.
*Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 março 2012, sendo a ilustração e as epígrafes escolhas minhas.
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